Sauditas ampliam guerra de preços com oferta maior

Petróleo cai mais de 2% após Arábia Saudita anunciar plano para ampliar
11/03/2020
Como lidar com o petróleo a US$30: produtores já preparam novos cortes
11/03/2020
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Fonte: Valor Econômico

A Arábia Saudita pretende abastecer o mercado de petróleo com 12,3 milhões de barris por dia em abril, o que marcaria uma escalada dramática em sua guerra de preços depois do desmoronamento do acordo de produção entre a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e a Rússia para estabilizar o mercado.
São mais de 2,5 milhões de barris diários acima do que os sauditas vinham produzindo e superior à sua capacidade máxima de produção sustentável país. Isso indica que a Arábia Saudita deve recorrer a barris em estoques, em seu plano de inundar os mercados rapidamente e enfrentar os rivais na disputa para ganhar participação de mercado.
Olivier Jakob, da Petromatrix, disse que a Arábia Saudita segue uma estratégia de “choque e pavor” para demonstrar que tem capacidade de elevar a oferta mais rapidamente do que qualquer outro produtor.
“A Arábia Saudita apostou todas as fichas na tentativa de desestabilizar o mercado de petróleo”, disse Jakob. “Ao longo do fim de semana, sinalizaram [que iniciariam] uma guerra de preços e, agora, isso passou diretamente a uma guerra de volumes. O mercado não precisa de todo esse petróleo. Eles estão despejando o petróleo dos estoques.”
O início de uma guerra de preços do petróleo em tempos de queda na demanda por causa do coronavírus sacudiu os mercados financeiros mundiais ao desencadear, na segunda-feira, uma das maiores desvalorizações diárias da commodity na história. Os preços chegaram a cair 30%, para cerca de US$ 30 por barril.
Embora os mercados tenham se estabilizado ontem, com o petróleo do tipo Brent negociado a cerca de US$ 37 por barril, comercializadores e produtores de petróleo se preparam para um período prolongado de baixas cotações, à medida que piorem as tensões entre Arábia Saudita e Rússia, os dois maiores produtores do mundo, sem contar os Estados Unidos.
A Rússia se opôs, na semana passada, à proposta liderada pela Arábia Saudita de estabilizar os preços do petróleo por meio de cortes na produção maiores e mais longos. A recusa, na prática, pôs fim ao acordo de três anos entre o país e a Opep para tentar dar sustentação ao mercado de petróleo.
Em reação, a Arábia Saudita cortou os preços de exportação de seu petróleo e anunciou que elevaria a produção. O aumento da oferta para 12,3 milhões de barris diários em abril, no entanto, é muito mais agressivo e rápido do que muitos comercializadores de petróleo imaginavam.
A Saudi Aramco entrou em contato com clientes e acertou que vai abastecê-los com esses volumes a partir de abril, segundo uma fonte. O patamar é superior ao que a petroleira saudita diz ser sua capacidade de produção máxima sustentável, de 12 milhões de barris diários. Esse é o volume que acredita ser capaz de produzir de forma confiável por longos períodos.
Logo quando a notícia de aumento na oferta saudita chegava aos participantes do mercado, o ministro da Energia da Rússia, Alexander Novak, respondeu dizendo que também poderia elevar a produção em mais 500 mil barris por dia no “futuro próximo”.
A Rússia, contudo, não tem tanta capacidade produtiva ociosa quanto a Arábia Saudita. O país mantém há décadas campos petrolíferos de reserva, que pode usar para elevar a produção em questão de semanas ou meses.
Os russos não estavam dispostos a participar de novos cortes de produção conjuntos, por acreditar que apenas serviriam para subsidiar a indústria de petróleo de xisto dos EUA, que ganhou participação de mercado dos rivais nos últimos dez anos. Moscou, que mostra irritação com o governo Trump pelas sanções contra o setor de energia russo, havia encontrado oportunidade para atingir a economia dos EUA.
O Departamento de Energia dos EUA manifestou-se na segunda-feira à noite, destacando que a guerra de preços se tratava de “tentativas de agentes estatais de manipular e impactar os mercados de petróleo”. Acrescentou, também, que o país, “[enquanto] maior produtor mundial de petróleo e gás, pode e vai resistir a essa volatilidade”.
Na semana passada, o príncipe Abdulaziz bin Salman, ministro do Petróleo da Arábia Saudita, disse que qualquer corte na produção dependeria da participação de grandes produtores, incluindo a Rússia, que os sauditas acreditam estar driblando as atuais restrições à produção que deveria estar promovendo.
Alguns analistas do setor de energia pensam que esse jogo de atitudes temerárias tem por objetivo atrair os produtores de volta à mesa de negociação. A chamada aliança Opep+ ajudou a estabilizar os preços, ainda que possibilitando o progresso da indústria de petróleo e gás de xisto americano.
Novak disse ontem na TV russa que as “portas não estão fechadas” para mais cooperações futuras de política petrolífera com a Opep.
Outros, porém, não acreditam em uma reaproximação tão breve, de forma que os países da Opep mais vulneráveis economicamente seriam atingidos mais duramente, assim como o orçamento de suas empresas petrolíferas. (Colaboraram Max Seddon e Nastassia Astrasheuskaya, de Moscou).

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