A safra brasileira de cana-de-açúcar deve fechar o biênio 2020/2021 com a melhor colheita desde o período 2016/2017 e com grande foco no açúcar, que ganhou relevância em meio à queda nas vendas de combustíveis durante a pandemia.
De acordo com projeções da Unica (União da Indústria de Cana de Açúcar), as usinas do centro-sul do país devem fechar a safra com 605 milhões de toneladas moídas, volume próximo dos 607 milhões registrados em 2016/2017.
A produção de açúcar atingirá 38,4 milhões de toneladas, alta de 43,5% em relação ao ano anterior. Já da etanol deve cair 8,4%, para 30,4 bilhões de litros, puxada pelo recuo de 10,7% na produção de etanol hidratado.
Com a maior demanda do setor alimentício durante a pandemia, o mix de produção das usinas deve fechar a safra com 53,96% de etanol e 46,04% de açúcar. Na safra passada, foram 65,67% e 34.33%, respectivamente.
Após o início da pandemia, o setor se beneficiou do aumento nas vendas de açúcar tanto no mercado interno quanto no externo. No Brasil, as vendas cresceram 4,55%, até novembro, para 8,3 milhões de toneladas.
Já as exportações no período aumentaram 70% em quantidade, para 27,98 milhões de toneladas. Em valor, a alta foi de 67%, para US$ 7,94 bilhões. Os principais mercados foram China, Bangladesh, Argélia, Índia e Indonésia.
A exportação de etanol também cresceu: 36% em volume, para 2,43 milhões de litros. O diretor técnico da Unica, Antônio de Pádua, diz que parte do aumento é explicado pela demanda por álcool para sanitização, como o álcool em gel.
Esse mercado também teve crescimento no Brasil. Segundo a Unica, a venda de etanol para outros fins apresenta crescimento de 30,7% entre janeiro e novembro, atingindo 1,1 bilhão de litros. A entidade acredita que o segmento permanecerá aquecido, mesmo o o início da vacinação esperado para o primeiro trimestre de 2021.
Ainda assim, o tombo na demanda de combustíveis tem grande impacto sobre os negócios do setor: as vendas de etanol hidratado, aquele vendido diretamente nos postos, caiu 15,3% no ano, para 15,61 bilhão de litros entre janeiro e novembro.
Pádua lembra que cerca de 34% da produção de etanol do centro-sul é feita por usinas dedicadas ao combustível, que não conseguiram aproveitar a demanda por açúcar para equilibrar suas operações. São 60 unidades que usam cana como matéria-prima e outras 5 que usam milho.
A expectativa é que a produção seja menor na próxima safra, com impacto principalmente do clima. A tendência, segundo Pádua, é que a oferta de açúcar seja menor, com o recuo na disponibilidade de matéria-prima. Ainda assim, diz, o país continuará tendo participação no mercado global.
“O que temos informação nesse momento é que muitos de nossos produtores já venderam açúcar na safra 2021/2022 e já estão negociando 2022/2023. Então, o Brasil vai continuar tendo grande participação no mercado de açúcar global. Não tanto quanto este ano, mas vai continuar.”
O presidente da Unica diz que o setor “sai mais relevante” da pandemia, já que o mundo passa a valorizar mais produtos com menor impacto ambiental. O setor vem se lançando como alternativa no processo de eletrificação de veículos, com o uso da célula combustível, que não demandaria a instalação de pontos de abastecimento por todo o país.