Rússia amplia vantagem na venda de diesel ao Brasil

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Valor Econômico

EUA vinham sendo o maior fornecedor estrangeiro do combustível, mas a guerra na Ucrânia mudou o jogo

As importações brasileiras de diesel da Rússia bateram um recorde no ano passado. Foram 6,1 milhões de toneladas, que totalizaram US$ 4,5 bilhões. Em 2022, empresas brasileiras de combustível haviam importado US$ 95 milhões em diesel russo.

Dados sobre exportação e importação disponíveis no site do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio Exterior e Serviços mostram que nunca o Brasil comprou tanto esse tipo de combustível da Rússia quanto em 2023. A série de dados do ministério começa em 1997.

Até 2022, os Estados Unidos vinham sendo o maior fornecedor estrangeiro de diesel ao Brasil, mas a guerra movida pela Rússia à Ucrânia – iniciada em fevereiro de 2022 – mudou o jogo. E a Rússia assumiu a primeira posição como fornecedor estrangeiro.

Por causa das sanções impostas pela União Europeia e pelos EUA à Rússia, empresas do país passaram a buscar novos mercados e a oferecer a eles um atrativo.

“Para ampliar suas vendas de diesel em outros mercados, os russos tiveram de oferecer descontos”, diz Sérgio Araujo, presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), que representa dez grupos empresariais.

O diesel russo tem sido vendido com descontos que variam de US$ 0,15 a US$ 0,27 por galão em relação aos preços praticados no golfo do México, que são uma referência no mercado, diz Araujo. A cotação do galão tem oscilado entre US$ 2,40 e US$ 2,70.

O diesel importado representa entre 25% e 30% da demanda nacional, segundo a Abicom.

Ainda que tenham começado em 2022, as vendas do combustível russo para o Brasil deram uma guinada somente em 2023. Mês a mês, o óleo russo foi tendo mais peso no mercado brasileiro. Em março, empresas do Brasil importaram US$ 189 milhões em diesel da Rússia – ante US$ 12 milhões no mesmo mês de 2022. Em julho, as compras subiram para US$ 368 milhões – ante US$ 39 milhões de um ano antes. Em dezembro, uma marca inédita: US$ 1 bilhão – ante US$ 26,6 milhões de dezembro de 2022. As vendas totais russas de diesel para o Brasil fecharam 2023 em US$ 4,5 bilhões, e as dos EUA, US$ 2,5 bilhões.

Segundo Araujo, diferentemente de outras empresas no Brasil, a Petrobras tem preferido fornecedores de diesel dos EUA, e não da Rússia.

Balanço recente feito por uma instituição de pesquisa finlandesa, o Centro de Pesquisa sobre Energia e nível de qualidade do ar (Crea, na sigla em inglês), aponta que as exportações russas de combustíveis vêm caindo desde as sanções. Entre os principais países que seguem comprando combustíveis fósseis da Rússia estão, segundo o Crea, China, Índia, Turquia e Brasil. O Brasil apareceu, no balanço da centro de pesquisa, como o terceiro maior comprador de produtos de petróleo russo em dezembro de 2023.

Neste ano, mesmo com os impactos no trânsito de cargueiros pelo mar Vermelho – devido aos ataques do grupo terrorista Houthi -, os preços praticados pelas companhias russas devem fazer com que a Rússia siga tendo papel de destaque no fornecimento de diesel ao Brasil, avalia Sérgio Araujo. “Não acredito que haja no Brasil muito espaço para aumento da capacidade produção.”

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