CBIE
Disparada do barril, dólar alto e a expansão da produção nacional explicam desempenho durante mandato de Bolsonaro, mas bonança não deve se repetir no de Lula
O Globo Online
A combinação entre a disparada do preço do barril de petróleo no mercado internacional, dólar alto e a expansão da produção nacional levaram União, estados e municípios a uma arrecadação recorde com royalties e participações especiais da produção de petróleo e gás no país em quatro anos, aponta um levantamento inédito do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).
De 2019 até abril deste ano, sob o governo de Jair Bolsonaro (PL), estima-se que o “bilhete premiado” — como o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chamou o pré-sal brasileiro após sua descoberta — tenha rendido aproximadamente R$ 282,63 bilhões aos cofres públicos. Considerando o total a ser recebido até o fim deste ano, o valor pode chegar a R$ 368 bilhões em quatro anos. A bonança, no entanto, não deve se repetir na mesma proporção nos próximos anos, dizem especialistas.
Segundo segundo projeção do CBIE, os governos federal, estaduais e municipais deverão receber até R$ 117,8 bilhões em participações governamentais na indústria do petróleo só em 2022. Deste total, R$ 44,9 bilhões deverão ser destinados à União, R$ 38,2 bilhões aos governos estaduais e R$ 24,7 bilhões às prefeituras. Até abril deste ano já foram recebidos R$ 31,56 bilhões.
Os dados fazem parte do novo estudo do CBIE, que lança nesta semana um relatório sobre o quanto União, estados e municípios arrecadaram com o petróleo desde 1999. A consultoria pretende divulgar trimestralmente relatórios de acompanhamento da evolução dessa arrecadação no país.
O estudo torna possível elaborar um ranking com os estados e municípios que mais arrecadam receita com royalties de petróleo, além de realizar análises como a arrecadação por habitante, por exemplo. Será um instrumento útil na avaliação sobre a aplicação dos recursos.
As participações governamentais na indústria do petróleo incluem o pagamento de royalties, participações especiais, bônus de assinatura e pagamento pela ocupação ou retenção de área. Segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), são pagas pelas empresas concessionárias que possuem o direito de exploração e produção de petróleo e gás natural no território brasileiro.
‘Era de ouro’
Os últimos quatro anos formam um período considerado a “era de ouro” pelos especialistas, uma vez que houve aumento da receita não apenas via royalties e participações especiais, mas também por meio do pagamento pela ocupação ou retenção de área e pelo bônus de assinatura.
Em 2019, somente o bônus de assinatura do Campo de Búzios obtido no leilão da cessão onerosa, realizado em outubro daquele ano, rendeu R$ 69,96 bilhões.
Bonança não deve se repetir no governo Lula
Mas a festa pode ter data para terminar. Tamanha bonança concedida aos caixas dos governos não deve se repetir sob a gestão de Lula a partir de 2023, segundo analistas. A ANP prevê uma queda de 7,62% na receita total de royalties e participações especiais em 2023. E, a partir de 2024, a expansão deve ser retomada em ritmo bem mais moderado.
Almeida, da PUC-Rio, concorda:
Impacto na arrecadação a partir de 2023
Para os estados, o cenário que se desenha à frente em termos de receita oriunda do petróleo é ainda mais desafiador. Governadores já enfrentam forte restrição orçamentária com a fixação de um teto de 18% para o ICMS aplicado a serviços considerados essenciais como combustíveis, telecomunicações, energia e transportes por meio de lei aprovada no Congresso em 2020.