Valor Econômico
Um dos principais chamarizes de investidores para o IPO da Raízen no ano passado – e novidade aguardada por clientes que apostam em descarbonização -, os aportes em etanol de segunda geração (E2G) da companhia devem ter um pequeno aumento neste quarto trimestre da safra 2021/22 e crescer mais na próxima temporada, quando a empresa espera ter três novas plantas em construção.
Em teleconferência com analistas realizada ontem, a Raízen foi cobrada para imprimir um ritmo mais acelerado para a construção da novas plantas de E2G. Na época do IPO, a companhia prometeu 26 unidades de produção do etanol celulósico, com base nas tecnologias desenvolvidas em sua unidade que opera em Piracicaba (SP). A planta, fruto de um investimento de R$ 230 milhões, incluindo recursos do BNDES, opera atualmente próxima de sua capacidade, de 41 milhões de litros ao ano.
O grosso dos aportes em E2G da companhia nesta safra ocorreram no terceiro trimestre, quando desembolsou R$ 50 milhões com o projeto em Guariba (SP).
De acordo com Ricardo Mussa, CEO da Raízen, a demanda e os preços não são mais um gargalo para o etanol celulósico, mas sim a garantia de que os equipamentos industriais terão as patentes da companhia preservadas.
“Os equipamentos são feitos para a Raízen, você não compra pronto, tem patente que é só para nós. Precisamos ter cuidado para não trabalhar com fornecedor que não vai pegar o projeto e trabalhar com outra empresa. Estamos tendo muito cuidado para proteger a propriedade intelectual do processo”, afirmou.
A tecnologia industrial de produção do etanol celulósico sempre foi o principal entrave para este renovável, dada a complexidade para processar matérias-primas como a palha da cana, e a Raízen desenvolveu em sua fábrica alternativas para solucionar o problema. Segundo Mussa, as próximas plantas serão “parecidas” com a de Piracicaba, mas terão o desenho “corrigido”.
O executivo assegurou que o lado comercial não é um problema para o E2G, e que as próximas unidades já têm sua produção com vendas garantidas para os próximos sete a nove anos. “O gargalo não é a assinatura de contratos. Se eu quiser, posso assinar com mais de dez ou vinte clientes.”
A companhia também deverá ter um volume maior de investimentos na área agroindustrial de forma geral neste quarto trimestre, aproveitando a entressafra. Dos R$ 5,4 bilhões a R$ 5,5 bilhões estimados de aportes para esta temporada, a Raízen desembolsou até o terceiro trimestre R$ 3,4 bilhões.
A companhia vem aumentando seus investimentos no plantio de cana e, na próxima temporada, deverá ter uma área recorde de plantio, com o objetivo de melhorar a qualidade dos canaviais. Segundo o executivo, os preços futuros elevados reduzem o risco da aposta no aumento do cultivo.
A expectativa da Raízen é que as cotações do açúcar continuem sustentados no longo prazo, dada a política da Índia de converter mais açúcar para a produção de etanol, e que os preços do etanol sejam “bons” na próxima safra.
Ele também está otimista com a perspectiva de preços para o negócio de distribuição, que no terceiro trimestre registrou margem de R$ 153 por metro cúbico, bem acima dos R$ 91 por metro cúbico um ano antes. “Em algum momento, a Petrobras terá de fazer algo sobre a gasolina. Existe um aumento em potencial na gasolina no Brasil em comparação aos preços internacionais”, afirmou.
Ele lembrou que o país não é autossuficiente e precisa importar parte do combustível que consome. Em janeiro, o avanço da ômicron no Brasil afetou o consumo de combustíveis, em particular no ciclo Otto, mas já há sinais de recuperação, conforme a companhia.
Para o presidente da Raízen, há uma nova dinâmica no mercado brasileiro de combustíveis, decorrente da mudança na estratégia de comercialização da Petrobras – a estatal está alterando o modelo de contrato de fornecimento às distribuidoras, com maior foco em longo prazo e competitividade. “O que se viu no último trimestre do ano calendário é que a Petrobras não fez importação, mostrando que há mudanças na dinâmica do mercado, e essas mudanças são muito positivas. O mercado vai ter de se concentrar mais na garantia do suprimento”, observou.