Fonte: Valor Econômico
A queda dos preços internacionais do petróleo voltou a se intensificar ontem e tocou pela primeira vez, em 17 anos, o patamar abaixo de US$ 25 o barril, aproximando-se do limite que garante o equilíbrio econômico das operações da Petrobras. Se persistir por mais tempo, a desvalorização da commodity deve pressionar a estatal a anunciar, em breve, uma revisão do seu plano de negócios, apostam analistas consultados pelo Valor.
Em meio ao agravamento das medidas de isolamento social para tentar conter a disseminação do novo coronavírus, a cotação do Brent para maio recuou 13,4%, ontem, para US$ 24,88 o barril, o menor valor desde 2003. Diante da nova queda dos preços do petróleo, nos últimos dias, a Petrobras reduz hoje os seus preços nas refinarias para a gasolina (-12%), diesel (-7,5%) e gás liquefeito do petróleo (-5%). No ano, a estatal já acumula uma redução de 30,1% nos preços da gasolina e de 29,1% no diesel, ante uma desvalorização de 59% do Brent em 2020.
Em meio ao nervosismo do mercado e do derretimento das ações da empresa na Bolsa, fontes que operam com papéis da companhia reclamam da comunicação sobre as mudanças nos preços da petroleira. Hoje, a estatal comunica seus reajustes aos clientes (essencialmente as distribuidoras) na véspera da mudança da tabela de preços. É comum que a informação sobre esses reajustes vaze, mas num mercado onde segundos fazem a diferença nas transações na bolsa, o mecanismo cria uma assimetria no acesso à informação sobre os reajustes entre concorrentes, operadores do mercado de capitais e a imprensa.
Com a desvalorização do petróleo, as projeções de preços são aos poucos revistas. O Goldman Sachs já enxerga o Brent a US$ 20 o barril no segundo trimestre, enquanto a Administração de Informações de Energia dos EUA (EIA, na sigla em inglês) prevê o barril a US$ 37 no mesmo período e a US$ 43 na média do ano.
Nos pregões mais recentes, o óleo tem se aproximado cada dia mais do “breakeven” (preço de equilíbrio econômico) que a estatal trabalha para os próximos anos. A estatal precisa de um barril a US$ 25 (US$ 21 no pré-sal), na média anual, para pagar 100% dos custos e despesas de seus campos. Para o desenvolvimento de novos projetos no pré-sal, a Petrobras considera um preço de equilíbrio entre US$ 35 e US$ 45.
Por isso, os analistas Leonardo Marcondes e André Hachem, do Itaú BBA, acreditam que a Petrobras anunciará revisões em seu plano de investimentos e controle adicional de custos nas próximas semanas ou mês, se o cenário de preços baixos se mantiver.
O banco destaca, em relatório a clientes, que se o preço médio do óleo se mantiver abaixo de US$ 50 o barril no ano, a desvalorização comerá a posição de caixa da empresa. Desconsiderada a venda de ativos e mantido o atual cronograma de pagamento de dívidas, a geração de fluxo de caixa da Petrobras em 2020 será prejudicada nos níveis do Brent abaixo de US$ 50. “Mas a Petrobras está, atualmente, em posição de caixa confortável”, ressalvam os analistas.
Sobre a necessidade de revisão do plano de negócios da petroleira, o banco lembra que a Petrobras já encomendou oito das 13 novas plataformas que entrarão em produção nos próximos cinco anos. O Itaú BBA acredita que os principais projetos do pré-sal, como Búzios e Itapu, têm menos probabilidade de serem adiados em relação ao pós-sal. O banco assume que, se a estatal revisar seus planos, o cenário mais provável seria a empresa adiar projetos para diluir os pagamentos e preservar caixa.