Queda artificial dos combustíveis terá custo para Petrobras e Brasil

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O Globo (Editorial)

Não demorou muito para o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, mostrar serviço e começar a “abrasileirar” o preço dos combustíveis, promessa feita por Luiz Inácio Lula da Silva na campanha eleitoral. Empossado em janeiro, Prates revogou em maio o Preço de Paridade de Importação (PPI) e anunciou uma nova estratégia para fixar preços. Sem ser específico, afirmou que ela levaria em conta custos internos e a situação do mercado, sem deixar de lado a cotação internacional.
Dois meses depois, o resultado é cristalino: cresceu a defasagem entre preços internos e externos. Numa palavra, a Petrobras voltou a subsidiar o consumo de combustíveis. Não bastasse o contrassenso que é incentivar a queima de combustíveis fósseis diante das mudanças climáticas, o atraso no alinhamento entre preços internos e externos afetará financeiramente a estatal, aumentando o risco de desabastecimento, principalmente de diesel.
Lula defende o “abrasileiramento” dos preços de modo simplório: se o Brasil é autossuficiente em petróleo, argumenta, então não precisa considerar os preços externos em dólar. A explicação é enganosa. Mesmo que a Petrobras produza petróleo suficiente para abastecer o mercado interno, ela exporta e importa para adequar o produto às características de suas refinarias. Elas datam de antes dos anos 1970, quando ainda não havia sido encontrado petróleo em Campos nem no pré-sal, e foram construídas para processar óleo do tipo leve, importado.
A Petrobras garante que 94% do produto que refina já tem origem nacional. Ainda assim, importa óleo cru, e o mercado depende da importação de derivados, principalmente diesel. Qualquer distorção em relação aos preços externos terá, portanto, reflexo no abastecimento interno. Ao praticar uma espécie de “congelamento interno”, para atender a determinações de Lula, a Petrobras deverá arcar com algum custo em seu caixa.
O mercado internacional de petróleo não está favorável à aposta da nova diretoria da estatal. O barril do tipo Brent, referência internacional, saltou pouco mais de 10%, de US$ 74,90 para quase US$ 83 no início de julho, e a expectativa de analistas é que se mantenha na faixa dos US$ 80 por meses. A previsão se baseia na redução do risco de recessão nos Estados Unidos e em estímulos ao crescimento na China.
A Petrobras vai em caminho oposto. Gasolina e diesel estão 20% abaixo das cotações internacionais, segundo a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom). O efeito é desestimular a importação por distribuidoras privadas, movimento que eleva o risco de desabastecimento. Por isso a estatal tem aumentado a importação, gasto que seria desnecessário se a ordem não fosse “abrasileirar” os preços. Quando Dilma Rousseff estava no Planalto, manteve o congelamento até o endividamento da estatal chegar a US$ 126 bilhões, em 2015, a mais elevada dívida corporativa do mundo. Aquele erro, cometido contra os acionistas da empresa — entre os quais a União —, deveria ter tido efeito pedagógico. Pelo visto, não teve.

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