Tribuna da Bahia
Gasolina e óleo diesel já foram reajustados ao menos seis vezes neste ano. Acelen elenca guerra na Ucrânia como um dos grandes motivos para preços continuarem nas alturas
No último ano, abastecer o carro ou a moto se tornou uma verdadeira carestia para quem roda por Salvador. Não é para menos: nos postos de quatro bandeiras visitados pela reportagem, os preços da gasolina oscilam entre R$ 6,83, no Largo do Papagaio, a R$ 7,29, na Avenida Centenário. No bairro de Jardim Armação, os consumidores precisam se segurar no carro para não cair diante do litro da gasosa, encontrada a R$ 7,99. O óleo diesel não fica muito atrás, encontrado por valores que vão de R$ 6,80 a R$ 7,40. “Quando eu acho uma gasolina a um preço bom, vou logo encher o tanque, porque nunca se sabe quando vai subir de novo”, disse o motorista Edvaldo Santos, que costuma fazer carretos para Salvador e Região Metropolitana.
A busca por notícias no Google mostra essa preocupação constante dos motoristas: digitando a palavra ‘gasolina’ no buscador, uma das sugestões é ‘Gasolina vai aumentar’. E a coisa ficou ainda mais séria desde o início das operações da Acelen, empresa do fundo de investimentos árabe Mubadala que assumiu a Refinaria Mataripe. Desde o começo do ano, os combustíveis já subiram seis vezes. O último reajuste ocorreu no final de março, quando a Acelen aumentou o valor por litro da gasolina vendido às distribuidoras em aproximadamente R$ 0,15 enquanto o diesel S10 teve uma alta mais expressiva, de R$ 0,56. Esses reajustes sucessivos afetaram os transportes, setor que mais pressionou o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em Salvador, com um avanço de 3,48% nessa categoria.
Representante dos revendedores, o Sindicato do Comércio de Combustíveis, Energias Alternativas e Lojas de Conveniência do Estado da Bahia (Sindicombustíveis-BA) diz que os aumentos chegaram mesmo a ultrapassar os preços praticados pela Petrobras, que até então geriu a refinaria de São Francisco de Conde. Outro argumento colocado para justificar os preços nas alturas por aqui é a incidência do Imposto sob a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) nos derivados adquiridos pelos donos de postos. “Como o Estado da Bahia tem o ICMS mais caro do Brasil, na comercialização do diesel S10 isto faz com que o custo do produto, adquirido pelas distribuidoras junto à refinaria, tenha uma diferença que varia de R$0,50 a R$1,18”, disse o presidente do sindicato Walter Tannus. Vale lembrar que o Governo do Estado prorrogou o congelamento do ICMS até 30 de junho para a gasolina e até março de 2023 para o diesel S10.
Para dificultar ainda mais a vida do consumidor, um levantamento elaborado pela Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) apurou que a nova controladora da ex-Refinaria Landulfo Alves chega a ultrapassar em 10% o Preço de Paridade Internacional (PPI), que leva em consideração o valor do dólar.Para explicar os preços dos derivados, Acelen informou que os preços dos combustíveis são determinados por uma cadeia de fatores, que vão desde o preço do barril do petróleo Brent (cru) à taxa de câmbio e ao frete. Deste modo, tanto a gasolina quanto o óleo diesel passam por diversas etapas antes de chegar às bombas dos postos, produzindo uma espécie de efeito cascata, piorado pelo contexto da guerra na Ucrânia.
A Acelen chegou a anunciar uma redução de 10% para gasolina e diesel, mas até agora o consumidor não viu valores mais em conta. Para o coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP) e diretor do Sindicato dos Petroleiros da Bahia (Sindipetro-BA) Deyvid Bacelar, o galope nos preços dos combustíveis só acentua o empobrecimento da população. Na visão dele, é possível ter gasolina e diesel a um preço mais justo, principalmente porque o consumidor recebe em real e o país tem o necessário para fomentar o mercado doméstico. “Por trás desse péssimo desempenho está a política de preço de paridade de importação, implantada pela Petrobrás em outubro de 2016, com reajustes dos combustíveis com base nas cotações internacionais do petróleo, variação cambial e custos de importação de derivados, mesmo o Brasil sendo autossuficiente em petróleo”, pontuou.