A disparada do barril do petróleo para patamar superior a US$ 100, nesta quinta-feira, 24, não deve abalar a determinação da Petrobras de manter os seus preços atrelados aos do mercado internacional. O argumento da petrolífera é de que, se ela não acompanhar as cotações do petróleo e dos derivados, o mercado brasileiro de combustíveis e o abastecimento interno poderão ser comprometidos, como afirmou o diretor de Comercialização e Logística da estatal, Cláudio Mastella, em teleconferência com analistas para detalhar o lucro recorde de 2021.
“Em função de diversas tensões geopolíticas, a gente tem observado a elevação dos preços nas últimas semanas e, em paralelo, o dólar foi desvalorizando. Com esses dois movimentos, em contraposição, a gente pôde manter nossos preços (inalterados)”, afirmou. O diretor acrescentou ainda que a volatilidade é maior nesta quinta-feira e a empresa “está observando” o mercado para avaliar possíveis novos reajustes.
A visão do executivo é de que, mesmo com as turbulências internacionais, a Petrobras é competitiva e se mantém alinhada ao mercado externo, ao mesmo tempo em que evita repassar aos consumidores volatilidades conjunturais das cotações.
A Petrobras utiliza o Preço de Paridade de Importação (PPI) para definir os reajustes dos valores da gasolina e óleo diesel em suas refinarias. Por essa política, os preços internos deveriam subir em linha com a valorização das cotações do petróleo e dos seus derivados nos principais mercados mundiais de negociação, como o do Golfo do México, nos Estados Unidos, e o de Londres.
Além da cotação da commodity, também pesam no cálculo da estatal o câmbio e custos logísticos de importação. Isso porque os principais concorrentes da empresa, atualmente, são os importadores e o objetivo da Petrobras é manter seus preços próximos aos deles.
Diante da invasão das tropas russas na Ucrânia, o Brent europeu bateu a marca de US$ 104, enquanto o WTI norte-americano era negociado na tarde desta quinta na casa dos US$ 93. Essa é a primeira vez que a commodity ultrapassa os US$ 100 desde 2014. Por conta da política da Petrobras, a tendência é que, com essa valorização do petróleo, os combustíveis também fiquem mais caros no Brasil.
Há dias a cotação vem subindo, por conta das tensões geopolíticas provocadas pela ameaça de invasão russa. Mesmo assim, os preços no Brasil permanecem inalterados desde o dia 12 de janeiro. A posição da empresa é complexa, já que a manutenção do PPI e os efeitos sobre os preços internos repercutem mal entre os consumidores e afetam diretamente a ambição do presidente da República, Jair Bolsonaro, de vencer as eleições deste ano.
Um dos motivos para a Petrobras manter o PPI é o interesse em atrair investidores para as refinarias que está vendendo. O receio é que, se atender à reivindicação do presidente da República de congelar os preços dos combustíveis para aliviar a inflação, vai afugentar empresas que teriam interesse no negócio, mas não querem participar de uma atividade comandada pelo governo.
Com a entrada de novos agentes no setor de refino, a estatal reviu a sua estratégia de concorrência para enfrentar um mercado mais dinâmico, de acordo com o diretor Financeiro e de Relações com Investidores, Rodrigo Araújo.