O Estado de São Paulo
Fossem esses tempos normais, não passaria de truísmo a afirmação do diretor de governança e conformidade da Petrobras, Salvador Dahan, de que o plano plurianual de investimentos da empresa, a ser divulgado em novembro, não terá nenhuma influência da eleição presidencial. É isso que se espera de uma empresa que tem boa parte de seu capital diluído entre milhares de acionistas e, por isso, deve ser gerida de acordo com as melhores práticas e com transparência. Estes, porém, não são, infelizmente, tempos normais e, por isso, a informação do diretor da Petrobras tem grande relevância.
A diretoria da Petrobras foi duramente pressionada no governo do presidente Jair Bolsonaro sempre que, por oscilações dos preços do petróleo no mercado internacional, se viu forçada a elevar os preços dos combustíveis, de modo a evitar perdas para seus acionistas — sobretudo o maior deles, o Tesouro Nacional.
As frequentes trocas do presidente executivo, bem como de membros do conselho de administração neste governo, resultaram da resistência com que, por razões econômico-financeiras fundamentadas, o corpo técnico e a direção da empresa ofereceram às pressões do Palácio do Planalto para reduzir o preço da gasolina, do óleo diesel e do gás de cozinha. A alta desses itens vinha pressionando a inflação, que em 12 meses chegou a alcançar dois dígitos, dificultando o projeto de reeleição de Bolsonaro.
Os efeitos da guerra na Ucrânia, que fizeram explodir as cotações internacionais do petróleo, foram superados pelos efeitos decorrentes do temor de uma recessão mundial. As cotações estão em nível muito mais baixo do que estavam há alguns meses. Assim, a Petrobras vem podendo reduzir os preços dos combustíveis. Tem feito isso em doses calculadas, de modo a aumentar a frequência dos anúncios de cortes à medida que se aproximava a eleição presidencial. As pressões do presidente da República sobre a empresa, por isso, diminuíram.
Mas outras podem vir no próximo governo. O PT, como se sabe, fez da Petrobras uma valiosa moeda de troca para assegurar alianças e fortalecer os caixas dos partidos aliados, no episódio de corrupção conhecido como petrolão. E usou a empresa para, como tentou o governo Bolsonaro, conter a inflação por meio do congelamento do preço dos combustíveis. O resultado foi a crise financeira da empresa, cuja dívida explodiu e impôs severo programa de ajuste financeiro, ainda em curso.
É ainda sob o impacto desse ajuste que a Petrobras vem elaborando seu programa de investimentos para o período 2023-2027. As decisões sobre esse programa “são pautadas pelas equipes técnicas”, disse o diretor de governança. Nenhuma delas será afetada pelos resultados da eleição, garantiu. Elas terão como foco, como têm tido nos últimos anos, o desenvolvimento das áreas do pré-sal, com forte investimento em exploração e produção, mas também em abastecimento. Seguidos esses critérios, será um programa para atender aos interesses da empresa, de seus acionistas e do País, não de eventuais governantes.