Fonte: O Estado de S.Paulo
Em apenas um dia a Petrobrás perdeu R$ 91 bilhões em valor de mercado, a maior perda desde 1986, na esteira do tombo na faixa de 25% do barril de petróleo e da histeria em torno das consequências do novo coronavírus para a economia global. A guerra de preços entre a Rússia e a Arábia Saudita derrubou a cotação da commodity para a casa dos US$ 31 e acendeu o alerta em relação à estatal. O novo cenário impõe desafios à petroleira que pode ver impactos sobre indicadores como receita, dívida, preço de ativos e investimentos.
A preocupação dos investidores tem como pano de fundo os rumos da receita da Petrobrás, que depende da exportação de petróleo bruto e da venda de combustíveis no mercado interno. Uma queda da demanda mundial provocada pela epidemia pode abater a empresa, apesar de sua produção ter atingido a marca recorde de 3 milhões de barris de óleo equivalente em fevereiro e o dólar favorecer as vendas externas.
Se a China não se recuperar, o resto do mundo também deverá pisar no freio e, com isso, a queda de vendas será inevitável, avaliam analistas.
Para o consultor e ex-diretorgeral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), David Zylbersztajn, a tensão no mercado de petróleo é estrutural e deve continuar.
A derrocada de cerca de 30% das ações da Petrobrás no pregão de ontem também refletiu a preocupação do mercado com
sua situação financeira. Apesar da melhora em 2019, a Petrobrás continua a ser uma das petroleiras mais endividadas do mundo. Com o dólar em alta, a dívida da companhia, que em dezembro era de US$ 63,2 bilhões, sendo 76% indexados à moeda
americana, subiria quase 20%.
O novo choque do petróleo pode ainda atrasar a venda de ativos não estratégicos da estatal, como as refinarias e outros campos de petróleo, que terão seu valor depreciado. A consultoria de investimentos Levante
alerta para a necessidade de a Petrobrás analisar os novos investimentos em prospecção. Com custos mais elevados, eles poderão derrubar a rentabilidade de curto prazo da companhia no atual nível de preços do petróleo.
Na bomba. Para Zylbersztajn, a Petrobrás deve manter a política de repasse dos preços às refinarias, “para não perder a credibilidade”. A chegada de uma redução ao bolso do consumidor, entretanto, vai depender dos donos de postos de combustíveis.
A Petrobrás afirmou em nota que está monitorando o mercado e segue com seu plano estratégico que prepara a companhia para atuar com resiliência em cenário de preços baixos. Segundo a estatal, “ainda é prematuro fazer projeções sobre eventuais impactos estruturais no mercado de óleo e gás associado à recente e abrupta variação nos preços do petróleo, dado que ainda não está claro nem a intensidade ou mesmo a persistência do choque nos preços”.
“A Petrobrás continuará mantendo sua política de preços sem interferências. A tendência é que os preços caiam nas refinarias”, disse o presidente Jair Bolsonaro no Twitter. Disse também que a Cide não deve ser reajustada.