Fonte: Valor Econômico
A Petrobras deve divulgar o balanço do terceiro trimestre, amanhã, com uma melhora expressiva nos resultados em relação ao trimestre anterior – período do auge da contração da demanda e do choque de preços do petróleo no mercado internacional. O aumento da produção e das vendas, acompanhado da recuperação dos preços da commodity, reforça a sensação de que o pior já passou, mas, ainda assim, a expectativa é que os números permaneçam abaixo dos indicadores do terceiro trimestre de 2019.
De acordo com a média das projeções das oito casas de análise consultadas pelo Valor, a previsão é que a Petrobras reporte receita líquida da ordem de R$ 74,2 bilhões relativa ao período entre julho e setembro, o que representa alta de 45,9% em relação ao trimestre anterior, mas contração de 3,6% na comparação com o terceiro trimestre de 2019. Já o Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) é estimado em R$ 30,9 bilhões – alta de 24% em relação ao período entre abril e junho e queda de 4,9% na comparação anual.
Não há consenso, porém, se a Petrobras voltará ao azul, depois de acumular, no primeiro semestre, prejuízo de R$ 51,2 bilhões – resultado puxado, sobretudo, pela baixa contábil de R$ 65,3 bilhões anunciada no primeiro trimestre, devido à perda no valor de ativos e investimentos (“impairments”). Três das casas de análise (Credit Suisse, Itau BBA e XP) projetam novo prejuízo, enquanto as demais – BTG, J.P. Morgan, Safra, Morgan Stanley e o Instituto de Estudos Estratégicos do Petróleo (Ineep) – preveem lucro. As estimativas, porém, podem ser distorcidas, para cima ou para baixo, por eventuais efeitos não recorrentes.
A expectativa, nesse sentido, é que o balanço seja positivamente afetado pela entrada de cerca de US$ 590 milhões no caixa oriundos da venda de ativos. O destaque fica por conta da alienação dos 10% remanescentes da Transportadora Associada de Gás (TAG) e dos polos de Pampo e Enchova (Bacia de Campos).
Do ponto de vista das receitas recorrentes, a XP Investimentos lembra que os resultados do terceiro trimestre devem ser “significativamente melhores” do que aqueles apresentados no trimestre anterior. A melhoria reflete a elevação tanto da produção quanto dos preços do barril de petróleo.
Somando-se a produção de óleo e de gás, a Petrobras produziu no terceiro trimestre, ao todo, 2,952 milhões de barris diários de óleo equivalente (BOE/dia), crescimento de 5,4% ante o período entre abril e junho e de 2,6% frente à comparação anual. Já o barril do tipo Brent foi negociado, em média, a US$ 43 entre julho e setembro, ante o patamar de US$ 29 do segundo trimestre e de US$ 62 do terceiro trimestre de 2019.
Além disso, a gradual recuperação do mercado brasileiro de combustíveis deve impactar positivamente o balanço. Ao todo, as vendas de derivados subiram 17,6% em relação ao segundo trimestre, embora ainda tenham ficado 2,4% abaixo dos patamares do terceiro trimestre de 2019. O fator de utilização das refinarias, por sua vez, alcançou média de 83% entre julho e setembro, ante os níveis de 70% do segundo trimestre.
O Credit Suisse destaca, em função desse cenário, que a Petrobras está de volta “à vida quase normal”. O banco acredita que a estatal apresentará “resultados sólidos”, embora os efeitos da crise desencadeada pela pandemia de covid-19 estejam presentes e contribuam para manter o resultado da empresa no vermelho. O Credit estima que o balanço do terceiro trimestre sentirá impacto negativo de US$ 2,8 bilhões, devido à depreciação do real frente ao dólar.