Os possíveis efeitos do novo contra-ataque da Petrobras no mercado de gás natural

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Eixos

A Petrobras anunciou novas condições comerciais para as distribuidoras estaduais com uma política de incentivo à demanda que promete baixar – ainda que marginalmente – o preço do gás natural.
É mais uma reacomodação da estatal (a 2ª no ano), de olho em seu market share. Nas palavras da presidente Magda Chambriard, a Petrobras pretende ocupar “o mercado que puder ocupar”.
As distribuidoras ainda aguardam as propostas formais, para entenderem melhor as novas condições e os seus reais impactos.
Numa avaliação preliminar de agentes consultados pela agência eixos, porém, já é possível identificar alguns possíveis efeitos da nova política de preços da estatal. Entenda aqui como ela vai funcionar
A seguir, a gas week se dedica a analisar algumas dessas tendências.
Mas antes: em meio ao novo contra-ataque da Petrobras, o senador Laércio Oliveira (PP/SE) introduziu no relatório do PL 327/2021, o Programa de Aceleração da Transição Energética (Paten), um capítulo específico para tratar do fomento à indústria de gás natural.
E apresentou uma proposta de gas release (o programa de desconcentração compulsória da oferta), para limitar a posição dominante da estatal no mercado, conforme antecipado pelo eixos pro, serviço de assinatura exclusivo para empresas (teste grátis por 7 dias)
De fora das medidas anunciadas até aqui pelo governo federal, no Gás para Empregar, o gas release volta à pauta agora no Congresso. Para ficar de olho.
Formadora de preços
A nova estratégia da estatal contempla um mix de precificação que varia conforme o volume retirado e que, na média, deve puxar o fator Brent (percentual do preço do petróleo ao qual o gás é indexado) para mais próximo de 11%.
Para efeitos de comparação, o preço de referência com que a petroleira vem trabalhando desde o ano passado é de 11,7% a 11,9% nos acordos de suprimento de longo prazo – embora, no primeiro semestre, a companhia já tenha feito um primeiro movimento de repactuação de contratos vigentes.
É, portanto, mais uma redução marginal nos preços, mas que volta a pressionar a concorrência a ajustar suas ofertas.
Como agente dominante do mercado, a Petrobras é também formadora de preços: e se a estatal baixa os seus preços, também pressiona os preços da concorrência para baixo.
Na primeira janela de abertura do mercado, em 2022, os fornecedores privados entraram com preços abaixo – com certa folga – dos preços praticados pela estatal – que, naquele ano, em meio à escalada da cotação do GNL no mercado internacional, chegou a adotar um fator Brent de 16,75%.
Aos poucos, porém, o mercado foi se reacomodando e alguns agentes foram aumentando gradualmente o fator Brent, ao mesmo tempo em que a Petrobras foi baixando os seus preços.
Para ficar em dois exemplos:
• o preço médio de comercialização de molécula da Petroreconcav subiu de 7,7% em 2022 para 9,2% em 2023, conforme a companhia foi fechando novos contratos com condições mais rentáveis;
• e a 3R Petroleum (agora Brava Energia), que em 2022 se manteve abaixo dos 10% de fator Brent, vem operando com percentuais acima de 11% desde o ano passado
Incentivo à demanda
Uma das novidades da nova posição comercial da Petrobras é o prêmio de incentivo à demanda.
A agência eixos apurou que, dentro de seu novo mix de precificação, a petroleira tem sinalizado um desconto maior para todo o gás que ultrapassar o limite do take-or-pay (compromissos de retirada mínima), usualmente de 90%.
Nesses casos, o fator Brent será da ordem de 10%. E as concessionárias poderão retirar até 15% a mais que a quantidade diária contratada com esse desconto.
Esse tipo de abordagem não chega a ser novidade, mas o grau do incentivo mudou.
Este ano, a petroleira, num primeiro contra-ataque aos concorrentes, já havia anunciado uma nova política que previa um mix de preços por volume retirado. Na ocasião, a Petrobras deu um desconto (menor que o atual) que incentivava os clientes a retirar até 5% a mais da QDC.
Ao permitir retiradas superiores ao volume contratado, sem penalidades (ao contrário, com incentivos), a Petrobras incentiva a demanda por volumes adicionais, num momento em que a empresa amplia a oferta com a entrada em operação da nova UPGN do Complexo Boaventura (antigo Comperj).
A unidade tem capacidade para processar 21 milhões de m3/dia, mas a oferta líquida ao mercado será menor que isso.
Parte do gás processado se transforma em líquidos. Sem contar que parte do volume substituirá importações e o declínio dos campos do pós-sal.
O estímulo à demanda, vale lembrar, será oferecido pela petroleira de acordo com a disponibilidade de gás e é temporário – segundo fontes, o desconto vale até o fim de 2026.
Procurada, a Petrobras não respondeu aos questionamentos sobre a nova precificação.
Proteção contra concorrentes
Ao mesmo tempo em que o prêmio de incentivo à demanda estimula o consumo, o mecanismo tende a proteger a estatal contra a concorrência.
Isso porque a nova política de preços da companhia passa a adotar um fator Brent competitivo (10%) para todo o volume que ultrapassa o take-or-pay – que é, justamente, o volume mais sensível a arbitragens.
Em outras palavras: o cliente, eventualmente, pode reduzir a sua retirada até o compromisso mínimo, sem penalidades, e substituir esse volume por contratos de curto prazo, em geral oferecidos com descontos.
O desconto pressiona a competitividade do gás de oportunidade oferecido pela concorrência.
A estratégia vem em linha com as falas recentes de Magda Chambriard:
“A gente não está querendo abrir mão de mercado para ninguém, não. O mercado que pudermos ocupar, nós vamos ocupar”, afirmou, em conversa com jornalistas na segunda (14/10).

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