No G20, Lula, Biden e Modi vão lançar aliança global do etanol

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Valor Econômico

Eles rejeitam o epíteto de “Opep do etanol” porque a intenção, dizem, não é controlar preço, mas induzir a descarbonização do mercado de combustíveis com a criação de uma “commodity sustentável”. Eram três países, agora são 19 com pretensão de chegar a 100 na aliança global dos biocombustíveis a ser lançada na tarde deste sábado em Nova Déli.

O ato de lançamento reunirá o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, o presidente americano, Joe Biden, e o brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, com quem se reunirão os representantes de outros países, como Argentina, África do Sul, Bangladesh, Itália, Canadá, Paraguai, Uganda, Emirados Árabes, ilhas Maurício e Seychelles. Lula desembarca nesta sexta-feira (8) em Nova Déli, onde participará do encontro de cúpula do G20.

O lançamento, breve e sem discursos, antecederá o encontro de Lula com Mohammed bin Salman, príncipe herdeiro e primeiro-ministro da Arábia Saudita, país que tem liderado o controle da produção de petróleo para manter deprimido o preço internacional.

Cada um tem um interesse nesta aliança. No Brasil, a iniciativa tanto visa a garantir um mercado mundial para os produtores de cana-de-açúcar, defendidos nesta aliança pela Única, quanto preservar o mercado de motores flex e híbrido flex ante o avanço do carro 100% elétrico.

A iniciativa busca, ainda, levar os países produtores de açúcar a ter uma alternativa para evitar que o mercado internacional, inundado de açúcar, derrube os preços.

O mercado de carro elétrico no país ainda é tímido, seja pelo poder aquisitivo do consumidor, seja pela estrutura ainda precária dos postos de abastecimento. São 3 mil pontos de recarga elétrica contra 42 mil postos com etanol em todo o país.

A Índia tem investido na produção de carro elétrico mas precisa calibrar este avanço tanto pelo poder aquisitivo do mercado consumidor quanto pela dependência de uma matriz energética em que prepondera o carvão (80%).

O país comprou a ideia do Brasil, de quem perdeu uma disputa na Organização Mundial do Comércio (OMC) pelos preços praticados no mercado internacional do açúcar. Começou com uma mistura de 10% do etanol na gasolina e atingirá os 20% em 2025, cinco anos antes do planejado. O desenvolvimento do mercado de etanol ainda permitiria à Índia uma alternativa para gerar emprego e renda no campo, onde ainda moram 40% de sua população.

Os Estados Unidos, que produzem etanol a partir do milho, menos competitivo que o açúcar, não entraram apenas para acompanhar de perto o que Brasil e Índia farão no mercado mas, principalmente, pelo interesse na inclusão, neste mercado, do querosene de aviação.

O combustível nem existe mas já tem nome: “sustainable aviation fuels”. A lavoura se estende até onde a vista alcança. Não bastasse, a Shell e a Toyota têm um projeto para produzir hidrogênio a partir do etanol em parceria com o governo de São Paulo e a USP. Uma planta experimental deste projeto foi anunciada em agosto.

A aliança atrai, majoritariamente, países tropicais e sub-tropicais, produtores de cana-de-açúcar, mas para entrar nesse projeto vale até o etanol produzido a partir de trigo, como o fazem Canadá e Argentina.

No Brasil, os maiores entusiastas desta iniciativa, tanto na Única, quanto na indústria automobilística quando no Itamaraty, apostam que o impacto da guerra da Ucrânia sobre a segurança energética ainda tem capacidade de ampliar a adesão.

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