O Estado de S.Paulo
Menos de um mês após declinar do convite para a presidência da Petrobras, o consultor Adriano Pires disse, em sua primeira entrevista após a desistência, que acredita que a proposta para assumir o comando da maior empresa da América Latina chegou no momento errado. Em entrevista ao Estadão/Broadcast, o consultor revela que quando aceitou o convite não imaginava que teria de vender sua empresa. Pires é dono da consultoria Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), que presta serviços a várias empresas do setor de óleo e gás há mais de 20 anos. Grande parte dessas companhias têm negócios com a Petrobras, o que poderia caracterizar conflito de interesses na gestão da companhia. “Tinha compromissos com meus funcionários e não poderia abandoná-los nessa hora”, disse.
O que o impediu de assumir o cargo. Já não era previsível que haveria conflito de interesse?
Aceitei porque não sabia inicialmente que para resolver o conflito de interesse tinha de vender a minha empresa. O que me fez declinar do convite foram motivações familiares e o fato de ter de me afastar e mesmo vender o CBIE, empresa que fundei há mais de 20 anos. Tinha compromissos com meus funcionários e não poderia abandoná-los nessa hora.
Como foi feito o convite para a presidência da Petrobras ?
O convite partiu do ministro Bento Albuquerque e, posteriormente, teve o aval do presidente Bolsonaro. Para mim, foi uma honra ter sido convidado para presidir uma das maiores petroleiras do mundo e um certo coroamento da minha carreira profissional de mais de 30 anos estudando setor de energia no Brasil e no mundo. Foi um convite certo na hora errada.
O episódio trouxe algum problema para sua imagem ou do seu negócio?
Acho que esse episódio me deixou muitos aprendizados e não causou nenhum problema de imagem nem prejudicou os negócios do CBIE. Temos uma relação muito sólida com nossos clientes pelo serviço que prestamos pautados na transparência e na ética. Vamos continuar nosso trabalho e volto a agradecer ao Ministro Bento e ao presidente Bolsonaro a lembrança do meu nome para a presidência da Petrobras.
A pressão feita publicamente pelo presidente Jair Bolsonaro para reduzir os preços dos combustíveis, que inclusive levou à demissão de dois presidentes da Petrobras, influenciou na sua decisão?
Em momento algum foi me pedido para controlar os preços. Ao contrário, me foi dada toda a liberdade para dar continuidade à atual política de preços.
Se o convite tivesse sido feito em outro momento, o senhor teria aceitado? Foi o momento errado?
Talvez se o convite tivesse vindo no início de governo, poderia ter feito uma outra avaliação. De qualquer forma, vender uma empresa que criei com muito esforço há mais de 20 anos foi o que pesou para declinar o convite.