Mudanças no refinamento do petróleo podem reduzir emissões em 10%, aponta estudo

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Folha de S. Paulo

A melhoria da eficiência e avanços tecnológicos de equipamentos e processos utilizados no refinamento do petróleo podem reduzir em até 10% as emissões de CO2 (gás carbônico) entre 2020 e 2030, afirma um novo estudo publicado na revista científica Cell.
Segundo os pesquisadores, essa indústria teve um acréscimo de 24% nas emissões de gás carbônico entre 2000 e 2018 —o que a fez ser o terceiro setor que mais emite gases do efeito estufa.
A pesquisa, feita por cientistas de universidades da China, Reino Unido e Holanda, analisou as emissões de CO2 de 1.056 refinarias durante o ano de 2018. Também considerou o tempo de existência e localização dessas refinarias.
Dessa forma, os pesquisadores chegaram à conclusão de que as emissões de gás carbônico em 2018 eram lideradas tanto por refinarias com menos de 40 anos na China, na Índia e no Oriente Médio, quanto por refinarias mais velhas (com mais de 40 anos), localizadas em regiões desenvolvidas, como Europa, Japão e Estados Unidos.
A união dessas duas categorias foi responsável por 59% de toda a emissão feita pela indústria de refinamento de óleo em 2018.
Outro fator que influencia a emissão de gases do efeito estufa são os tipos de refinamento —existem duas modalidades, a profunda e a superficial. O petróleo é um hidrocarboneto, ou seja, é formado por hidrogênio e carbono. Quanto menor a quantidade de carbonos em uma cadeia de petróleo, ela será considerada mais leve, enquanto que uma versão mais pesada, com mais carbono em sua composição, é mais difícil de processar e menos valorizada.
No caso de refinarias do tipo profundas, elas contam com máquinas que têm a capacidade de converter o petróleo pesado em versões mais leves.
Já em relação ao refinamento superficial, o estudo aponta que as refinarias são compostas por tanques, unidades de destilação, instalações para hidrotratamentos e outros equipamentos que não são voltados especificamente para a conversão de petróleo.
Segundo os pesquisadores, refinarias com processamento profundo podem emitir seis vezes mais CO2 do que aquelas que utilizam processos simples. O problema é que esse modelo mais poluidor é muito mais comum que o outro: o número de refinarias com sistema de processamento profundo e com mais de 80 anos de existência é quatro vezes a quantidade das que utilizam processamento simples.
Em refinarias com processamento profundo, é necessário adotar novas medidas e tecnologias que possam diminuir a emissão de gás carbônico, diz o estudo. Um exemplo é a substituição do craqueamento catalítico do petróleo. Esse processo utiliza catalisadores, equipamentos que aceleram a velocidade de reações químicas. Ao fazer isso, as cadeias de carbono do petróleo diminuem, tornando-as mais leves.
Nesses casos, os autores afirmam que podem ser adotados outros processos menos poluentes, como o caso de hidrocraqueamento —processo de quebra do petróleo de forma mais limpa por conta da utilização do hidrogênio. Segundo estimativas feitas pelos cientistas, o hidrocraqueamento reduz, em média, 3% das emissões de gás carbônico de refinarias comparado ao craqueamento catalítico.
Também é analisado o impacto da melhoria da eficiência de refino, como o aprimoramento do processo de craqueamento, levando em consideração a idade das refinarias. Segundo os pesquisadores, refinarias com até 19 anos de atividade têm maior potencial de redução de emissões de CO2 quando comparadas a refinarias mais antigas —embora estas também possam acarretar diminuição significativa das suas emissões com atualização tecnológica dos seus equipamentos.
Para Alexandre de Araújo Costa, professor de física e climatologia da UEC (Universidade Estadual do Ceará), ações de mitigação na indústria de refinamento não dão conta do problema do efeito estufa.
“O grosso das emissões [de gás carbônico] não são do processo de refino, mas são principalmente no momento de pós-refino, durante a queima do combustível. Então, não adianta tornar o refino menos sujo ou poluente”, afirmou Costa.
O professor disse que é necessário diminuir pela metade as emissões de gases de efeito estufa em 10 anos e, na sequência, cortar por completo o uso de combustíveis fósseis em, no máximo, 30 anos. “A única maneira de resolver o problema [das emissões de gás carbônico] é encerrar a era dos combustíveis fósseis e torná-las como peças de museu”, declarou.

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