Volta da produção da Opep, oferta de países de fora do cartel e importações chinesas são fatores que podem afetar cotações neste ano
Apesar de um 2024 com instabilidades geopolíticas, o equilíbrio entre oferta e demanda ajudou a sustentar os preços do petróleo ao longo do ano passado. Depois de começar janeiro perto dos US$ 78 por barril, o Brent encerrou 2024 na marca de US$ 74,24. No ano, a commodity acumulou queda de 3,74%.
Conforme analistas consultados pelo Valor, a demanda menor do que a esperada e a oferta crescente, sustentada por países não da Organização de Países Exportadores de Petróleo (Opep), levaram a um período de poucas turbulências nos preços.
Para Felipe Perez, chefe de estratégia de combustíveis e refino para América Latina da S&P, as tensões vistas em 2024, como a guerra entre Irã e Israel, causariam maior incerteza e volatilidade para os preços do petróleo, o que aconteceu pouco neste ano. “Sempre os fundamentos de oferta e demanda tendem a prevalecer para direcionar o preço. A nova realidade de equilíbrio entre os países membros da Opep e os exportadores que não são membros da organização minimizou o prêmio de risco dos preços”, afirma.
Perez destaca que, apesar dos conflitos, não houve interrupção significativa de produção e nem nos fluxos da commodity. O analista pondera, no entanto, que o ano passado foi marcado pela baixa demanda por petróleo.
“O crescimento da demanda no ano foi consideravelmente fraco, somente 300 mil barris por dia [considerando carga para o refino e uso direto de petróleo]. Apesar do crescimento do PIB [Produto Interno Bruto] global ter sido bom, ao redor de 3%, vimos um apetite bem tímido na China, com a demanda de gasolina e diesel praticamente sem crescimento algum”, afirma. “Em termos de oferta, o panorama foi novamente o balanço entre as forças dos produtores e os cortes da Opep. O balanço de produção global ficou perto do zero.”
Em 5 de dezembro, a Opep decidiu adiar o fim dos cortes voluntários, que somam 2,2 milhões de barris por dia, até abril. O grupo pretende eliminar gradualmente parte desses cortes entre abril de 2025 e setembro de 2026, terminando o processo 12 meses depois do previsto originalmente. Do corte atual, a Arábia Saudita se comprometeu em deixar de produzir sozinha 1 milhão de barris por dia.
No entanto, diz Victor Arduin, gerente em gestão de riscos para energia e câmbio da Hedgepoint Global Markets, a produção crescente de países não membros da Opep, como Estados Unidos, Brasil, Noruega e Guiana, tem reduzido a eficácia da estratégia do grupo para sustentar preços mais altos. “Com demanda menor do que o esperado e crescimento na oferta, o mercado tem estado mais baixista para os preços do petróleo.”
“No primeiro semestre, o preço do petróleo permaneceu em uma mediana de US$ 82 por barril. Devido à forte sensibilidade aos desdobramentos geopolíticos no Oriente Médio, como o conflito entre Israel e Hamas envolvendo o Irã, observamos, em alguns momentos, os principais ‘benchmarks’ [referências] superarem a marca de US$ 90”, diz Arduin. “Mas sem danos à produção e à logística de petróleo da região. Então, o impacto dos fatores geopolíticos sobre as expectativas dos agentes do mercado diminuiu, e, ao longo do quarto trimestre, houve uma influência menor, o que contribuiu para o enfraquecimento dos principais ‘benchmarks’ do petróleo.”
Para o analista da Hedgepoint, os principais fatores que podem modificar os preços do petróleo em 2025 são o retorno da produção da Opep, as sanções dos Estados Unidos contra países produtores, o desempenho das importações na China, o consumo da commodity na Índia e o aumento da oferta dos países de fora da Opep.
Conforme Arduin, o Brent deve permanecer acima dos US$ 70 pelo menos até o fim do primeiro trimestre de 2025, mas ainda é preciso esperar as decisões do novo governo de Donald Trump. “A nova gestão Trump pode implementar uma rodada de sanções contra a Venezuela e o Irã, enquanto a Europa tem ampliado restrições ao petróleo russo. Isso traz suporte [à cotação] a curto prazo pela percepção de menor oferta ao mercado.”
Arduin diz que, para que haja aumento na cotação da commodity, seria necessário uma demanda maior a partir do segundo trimestre de 2025, o que parece difícil dada a situação econômica complexa da China.
“A nova gestão Trump pode ainda implementar desregulamentações no setor e incentivar o aumento da produção de petróleo nos Estados Unidos, elevando a oferta, o que influenciaria uma queda nos preços”, diz o analista, que complementa que a redução do ritmo de corte de juros nos Estados Unidos adiciona desafios à economia global.
Para Felipe Perez, da S&P, 2025 deve ter uma demanda por petróleo mais robusta do que a vista em 2024. No lado da oferta, o analista espera que a Opep não realize novos cortes. “O mundo também está se perguntando o que esperar de Trump quando ele assumir a presidência em janeiro. Com isso tudo, estimamos um Brent entre US$ 65 e US$ 75 por barril em 2025, sendo essa previsão baseada na premissa de nenhum aumento formal das cotas de produção da Opep.”