Valor Econômico
Maior pesquisa de opinião pública sobre mudança climática revela que 80% das pessoas querem que seus governos tomem medidas mais fortes para enfrentar a emergência
A maior pesquisa de opinião pública independente sobre mudança climática, feita pelas Nações Unidas, revela que 80% das pessoas no mundo querem que seus governos tomem medidas mais fortes para enfrentar a emergência global.
Mais que isso: 86% dos entrevistados pela People’s Climate Vote feita pelo Programa das Nações Unidas pelo Desenvolvimento (Pnud) querem que seus países deixem de lado as diferenças geopolíticas e se juntem na proteção do clima e adaptação aos impactos. “É um nível de consenso surpreendente dado o contexto mundial atual de conflitos e de nacionalismo em alta”, diz o comunicado distribuído à imprensa.
As pessoas que vivem nos países que mais produzem combustíveis fósseis no mundo são favoráveis a uma transição rápida para o abandono dessas fontes. Isso acontece em oito dos dez maiores produtores de petróleo do mundo. Os brasileiros apoiam (81%) a transição rápida sendo que dois terços das pessoas ouvidas no Brasil (61%) disseram que querem que esse distanciamento aconteça muito rapidamente.
A pesquisa ouviu 73 mil pessoas em 77 países e de 87 idiomas diferentes. Os 77 países em que a pesquisa foi realizada representam 87% da população global.
Os entrevistados responderam a 15 perguntas sobre como sua vida cotidiana está sendo impactada pela mudança do clima. Foi organizada por Pnud, Universidade de Oxford, governo do Reino Unido e a empresa global de pesquisas GeoPoll.
Mais de 10% dos pesquisados (9.321 pessoas) nunca foram à escola. Deste total, 1.241 eram mulheres com mais de 60 anos. Em nove países, os entrevistados nunca haviam participado de uma pesquisa sobre mudança do clima. Menores de 18 anos foram ouvidos em países em que há permissão legal.
As pessoas estão divididas na avaliação sobre seus países em relação ao clima. Globalmente, quase a metade (49%) dizem que seus países estão indo bem. Este número é maior na Arábia Saudita (81%), Butão (80%) e Etiópia (78%). O Brasil está entre os mais propensos a dizer que o país estava indo mal (60%), abaixo do Haiti (73%) e acima da Espanha (55%).
O Brasil é citado 46 vezes na pesquisa. Um dos momentos é o que revela como o G20 é polarizado com relação à diferença de gênero no debate. Entre os seis países em que as mulheres são mais favoráveis a que países ricos ajudem mais os mais pobres, estão Estados Unidos, Austrália, Arábia Saudita e Brasil. O país com maior diferença de gênero na direção oposta é a Índia, que também pertence ao G20.
Os brasileiros estão em sétimo lugar no ranking das pessoas mais preocupadas neste ano com a crise do clima do que estavam em 2023. Entre os brasileiros, 70% disseram que vivenciaram alguma experiência de evento climático extremo recentemente e 85% defendem que o país fortaleça seus compromissos.
Ainda entre os ouvidos no Brasil, 93% defendem educação climática (a média mundial é 80%) como uma prioridade. Outra é a proteção a eventos climáticos (90%) e ajuda dos países ricos.
“Este é um momento crítico nas estratégias climáticas domésticas e internacionais, com eventos importantes como a COP29 [no Azerbaijão] e a COP30 [no Brasil] e um ano eleitoral no mundo”, lembrou Achim Steiner, diretor do Pnud, a um grupo de jornalistas. “Pensamos que poderia ser um bom momento para ouvir o que as pessoas estão sentindo sobre o impacto da mudança climática em suas vidas, em diferentes realidades”.
Esta é a segunda edição da People’s Climate Vote. A primeira, feita em 2021, era menor e menos inclusiva.
A mudança climática já está afetando grandes decisões – onde morar, onde trabalhar ou o que comprar- de 69% dos entrevistados. Este percentual é maior nos países menos desenvolvidos (74%).
Só uma a cada três pessoas acha que as grandes empresas estão se saindo bem em relação à mudança do clima.