Ações da estatal desabaram após anúncio de alta nos aportes em 2024; executiva afirma ter ‘total liberdade para gerir a empresa’
Folha de S. Paulo
Uma semana após o tombo das ações da Petrobras, motivado pelo susto do mercado com o aumento dos investimentos em 2024, a presidente da estatal, Magda Chambriard, defendeu à Folha que a decisão vai gerar valor real à companhia.
Ela nega que tenha havido ingerência do governo federal. Na sexta-feira (28), um dia após a divulgação do balanço de 2024, as ações da Petrobras chegaram a cair 9% na B3, com o mercado tentando entender a alta de 31% nos investimentos da empresa durante o ano e seus efeitos sobre os dividendos da companhia.
“Nossos investimentos são prioridades porque geram valor real, com retornos acima do custo de capital”, afirmou Magda por email, dizendo que a antecipação de pagamentos foi uma decisão estratégica para corrigir um descasamento entre a execução física e o fluxo financeiro de obras de plataformas.
“Esse ajuste já foi concluído”, afirmou, frisando que, uma vez que a oportunidade foi endereçada, a empresa não tem interesse em manter caixa ocioso e seguirá cumprindo sua política de remuneração aos acionistas por meio de dividendos.
Ao divulgar o balanço, a Petrobras anunciou a distribuição de R$ 9, 1 bilhões aos acionistas, cerca de metade do previsto, o que motivou a correção no valor das ações da estatal.
O aumento dos investimentos foi conhecido logo após a empresa patrocinar dois eventos com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), defensor de um protagonismo da estatal no desenvolvimento econômico.
À Folha a presidente da Petrobras defendeu que não há interferências do governo na gestão.
“Desde que assumi a Petrobras, em maio de 2024, eu e a diretoria temos tido total liberdade para gerir a empresa e tomar as decisões da forma que entendemos serem mais eficazes para a saúde financeira e o desenvolvimento da companhia”, afirmou.
Ela alega que há interesses comuns entre a estratégia empresarial da companhia e políticas públicas do governo, citando como exemplo os incentivos à indústria naval, fomentada por Lula em seus primeiros mandatos e em crise desde a descoberta do esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato.
“É uma iniciativa ganha-ganha: o governo vê prosperar seu desejo de reativar a indústria naval e offshore nacional, e a Petrobras tem como benefício o acesso a um mercado fornecedor próximo às suas operações, o que nos traz benefícios”, disse.
Magda afirmou que “o governo não toma decisões pela companhia”, mas que, sempre que possível, a intenção é trabalhar na intersecção entre políticas públicas e melhor estratégia comercial e econômica para a Petrobras. “O Estado brasileiro deseja uma Petrobras saudável e rentável, assim como nós desejamos. ” Uma das promessas de Lula adotadas pela Petrobras foi a mudança na política de preços, que deixou de estar colada à cotação internacional para considerar fatores internos, como custo de produção e de concorrentes.
O número de reajustes desabou, garantindo preços mais estáveis no mercado interno, mas sob algumas críticas a respeito da perda de rentabilidade no negócio de refino. Magda considera que a política é bem-sucedida. “Nós conseguimos abrasileirar os preços dos combustíveis. Tínhamos o objetivo de não repassar para os consumidores a volatilidade dos preços internacionais do petróleo nem a flutuação do câmbio e praticar, ao mesmo tempo, preços competitivos. ”Em 2024, a empresa não promoveu nenhum reajuste no diesel.
O preço da gasolina em suas refinarias foi alterado apenas uma vez. No início de 2025, pressionada pela escalada do dólar, a estatal “entendeu que era necessário” aumentar o diesel. “Nós refinamos grande par te do combustível que vendemos e temos uma extensa estrutura de transporte de derivados, espalhada por todo o país, em diferentes modais. Essas são vantagens da Petrobras em relação aos concorrentes que suportam a manutenção da nossa posição no mercado”, disse.
Empresas se inscrevem em próximo leilão
A ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis), informou que 30 empresas estão aptas a participar do próximo leilão de áreas para concessão de petróleo no país, agendado para junho.
O leilão pode oferecer até 332 áreas exploratórias, algumas localizadas na margem equatorial, foco de embate dentro do governo. Ainda não há definição sobre quantas delas irão a leilão, já que o número final depende de manifestações prévias.