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O projeto será apresentado na maior feira de ciências do Paraguai
Foto: Reprodução / Arquivo pessoal
De acordo com a 72ª edição do relatório publicado pela Agência Internacional de Energia (IEA), realizado pelas consultorias KPMG e Kearney, as emissões de dióxido de carbono (CO2), relacionadas ao uso de energia, atingiram um recorde de 39,3 bilhões de toneladas em 2022, um aumento de 0,8% com relação a 2021.
Para a redução destes poluentes na atmosfera, pesquisadores têm desenvolvido alternativas mais sustentáveis, como os biocombustíveis. O biodiesel, por exemplo, é produzido a partir de óleos vegetais ou gorduras animais e pode desacelerar esse processo em até 98%, quando comparado ao petróleo.
Com o objetivo de contribuir para um futuro mais sustentável, quatro alunos da rede estadual de ensino do município de Araci, localizado a 220 km de Salvador, desenvolveram um projeto inovador utilizando a polpa do tamarindo, uma fruta abundante na região. Através da fermentação e destilação do álcool presente na fruta, os jovens criaram uma solução hidroalcoólica que pode servir como uma fonte de energia sustentável.
Durante o processo de extração da polpa, a jovem percebeu que, ao deixá-la descansando de um dia para o outro, algumas bolhas se formaram. Intrigada pela fermentação, ela se perguntou se seria possível gerar álcool a partir desse processo. Isso deu início a uma pesquisa científica sobre a criação de uma fonte de energia sustentável.
“A partir dessa observação, começamos a desenvolver biocombustíveis, e digo biocombustíveis no plural, porque não produzimos apenas um tipo. Utilizamos o produto em sua totalidade para criar várias formas de energia sustentável, como o bioetanol, a partir da polpa de tamarindo, biogás resultante da fermentação, e biodiesel a partir das sementes,” explica Keisia Farias.
O projeto foi desenvolvido em colaboração com os colegas Sarah Moura, 17, Jonatas Lima e Isabel Oliveira, 18, sob a orientação da professora de Hematologia, Coleta e Manipulação de Amostras, Pachiele Cabral, que destacou a importância desse tipo de observação no cotidiano dos alunos, que podem se transformar em grandes projetos sustentáveis: “No clube de ciências, incentivamos os alunos a aplicar o conhecimento das disciplinas para resolver problemas futuros. Isso promove o desenvolvimento de um pensamento crítico e reflexivo, capacitando os alunos a buscar soluções,” explicou a professora.
MATERIAIS E CUSTOS
“Nós criamos um destilador caseiro com materiais que seriam descartados. Produzimos um biocombustível usando recursos sustentáveis. Em uma situação engraçada, fomos ao mercado procurar açúcar refinado e só encontramos o cristal comum. Então, em casa, batemos o açúcar no liquidificador para obter um resultado similar ao refinado. Usamos itens do dia a dia para aprender a fazer coisas novas”, conta a estudante Sarah Moura.
Em entrevista ao Aratu On, os alunos compartilharam que os custos para a elaboração do projeto foram mínimos, uma vez que eles utilizaram materiais do cotidiano, como borrachas de sandálias usadas, tamarindos colhidos das árvores do quintal de casa e garrafas PET.
A questão que surge é: por que não usamos mais biocombustíveis no cotidiano, já que são menos poluentes e mais econômicos, podendo ser feitos com materiais recicláveis?
Para esclarecer essa dúvida, o Aratu On consultou Luciano Hocevar, engenheiro químico e professor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), que explicou as razões pelas quais, apesar dos benefícios, o biocombustível ainda não é a principal fonte usada para abastecimento de veículos.
Segundo o professor, é importante entender o papel da combustão na oferta interna de energia. Embora a matriz elétrica do Brasil seja 90% renovável, a oferta interna de energia é 84% baseada em processos de combustão. No setor de transportes, que consome cerca de 33% de toda a energia produzida no país, 99% é gerida através da combustão.
“O processo de combustão é importante e não dá para mudar de uma hora para outra, e não vamos mudar de uma hora para outra. Isso requer anos e muitos recursos. Quando falamos de transporte no interior, como Araci, por exemplo, é mais um modelo híbrido de carro movido a biocombustível com eletricidade. Nesse caso, aí sim, temos um papel relevante que pode contribuir para uma energética mais suave”, explica o professor.
Os estudantes esperam utilizar o projeto para abastecer veículos flex, que podem funcionar tanto com etanol, quanto com gasolina. Segundo uma pesquisa da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) de 2019, cerca de 78% dos veículos em circulação no Brasil possuem motor flex fuel, com a expectativa de que, até 2030, essa modalidade alcance 90% da frota.
“Estamos colocando nossas ideias em prática e nossa expectativa é utilizar o biocombustível em carros flex, que podem usar tanto gasolina comum, quanto etanol. Podemos produzir aditivos para gasolina ou bioetanol”, diz Keisia Farias.
FUTURO DOS ESTUDANTES
Com o avanço e sucesso do projeto, no ano que vem, os estudantes vão apresentar o resultado das pesquisas na Fecitec Girasoles, feira internacional que vai reunir estudantes e pesquisadores de todo o mundo no Paraguai e a ideia deles é avançar ainda mais.
“A expectativa está a mil. Espero muito que a gente consiga sair do Paraguai com o prêmio para representar a Bahia e o nosso colégio”, projeta Jonatas Lima.