Valor Econômico
O petróleo foi o principal item da pauta de exportações do Brasil em 2024, e a expectativa do setor de óleo e gás é que o desempenho se repita em 2025. O aumento das vendas externas veio crescendo nos últimos anos, acompanhando a evolução da produção do pré-sal no país. É de lá que sai grande parte do petróleo extraído das reservas nacionais (cerca de 75% do total). A previsão de órgãos do governo é que o pico de extração do pré-sal seja atingido entre os anos de 2030 e 2032. Dados da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic), compilados pelo Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), indicam que a exportação de petróleo ano passado totalizou US$ 44,8 bilhões, superando a soja, que, até 2024, era o produto com maior volume financeiro de exportações. O montante também é 5,4% superior aos US$ 42,5 bilhões em 2023. Quanto ao volume físico, foram exportados 640 milhões de barris em 2024, 10% a mais ante 2023. As importações de petróleo caíram 4,4% no ano passado (US$ 8,7 bilhões) frente a 2023 (US$ 9,1 bilhões). No saldo da balança comercial, resultado das exportações frente às importações, o petróleo apurou US$ 36,2 bilhões, 8% acima do verificado em 2023, quando obteve US$ 33,5 bilhões. “Pujança do setor” De acordo com Roberto Ardenghy, presidente do IBP, nos últimos cinco anos, o petróleo produziu uma receita total de US$ 145,8 bilhões. Considerando o saldo final da balança comercial, o superávit foi da ordem de US$ 111 bilhões. “Isso é uma amostra da pujança do setor”,disse Ardenghy. Em média, afirmou, o país tem exportado 2,5 milhões de barris de petróleo por dia (barris/dia), o que corresponde a cerca de 1 bilhão de barris em um ano. Para este ano, a tendência é que esse comportamento se repita, mas este resultado também depende das duas commodities “concorrentes” do petróleo: minério de ferro e soja. O executivo avalia que o petróleo tem condições de aumentar a oferta para o mercado externo, de modo que o Brasil possa chegar, em 2032, à quinta posição entre os maiores exportadores. Hoje, o Brasil ocupa a oitava posição. Efeito Rússia e Oriente Médio Uma das razões do aumento da venda do petróleo para outros países é a busca por alternativas em relação à Rússia e ao Oriente Médio, em função de conflitos que elevaram os riscos de interrupção de suprimento. Como exemplo, Ardenghy menciona o Estreiro de Ormuz, por onde passa um quarto da produção mundial de petróleo. Ormuz situa-se entre o Golfo de Omã e o Golfo Pérsico, tendo de um lado o Irã e do outro os Emirados Árabes Unidos e Omã. A largura do Estreito de Ormuz chega a 100 quilômetros, no máximo, e por ali passam navios que transportam petróleo, derivados e gás natural liquefeito (GNL). Outro aspecto geopolítico é a Rússia, que fornece petróleo e gás para a Europa, mas, com o conflito com a Ucrânia, o país pode ter dificuldades para escoamento da produção, aponta Ardenghy. “A Europa está substituindo o petróleo que era comprado da Rússia, comprando esse petróleo do Brasil. Ao mesmo tempo, os chineses, que compravam mais o nosso óleo, estão comprando na Rússia”, afirmou o presidente do IBP. A outra razão é a qualidade do petróleo brasileiro Cotação de petróleo brasileiro, com baixa emissão de gás carbônico em relação à média mundial. O óleo brasileiro tem emissão média da ordem de 11 quilos de CO2 equivalente por barril (kgCO2eq/barril), menos da metade da média mundial. Essa condição tende a trazer mais vantagens para o país no médio prazo, a partir de 2026 ou 2027, com a formação de um mercado internacional de carbono, assim como a criação do mercado brasileiro, cuja aprovação do marco regulatório se deu recentemente. Ardenghy afirmou que um dos efeitos do mercado de carbono será a certificação do petróleo brasileiroCotação de petróleo brasileiro como de baixa emissão. O presidente do IBP salientou que o mundo ainda vai comprar e consumir petróleo em larga escala nas próximas décadas, ainda que em volumes menores do que o atual nível de 100 milhões de barris/dia. Projeções apontam para uma demanda entre 60 milhões de barris/dia e 65 milhões de barris/dia em 2050. “Estamos exportando petróleo com baixa emissão de CO2 na produção. A emissão de CO2 ainda não é fator de preço, o petróleo ainda não é precificado pela emissão de CO2”, disse Ardenghy. Ele prosseguiu: “A gente vai certificar os petróleos. Hoje, não existe um processo de certificação e isso vai ser muito importante, pois as refinarias da Europa, do Canadá e dos Estados Unidos, por exemplo, vão ser obrigadas a reduzir as emissões de CO2. Elas poderão reduzir as suas emissões de CO2 comprando um petróleo menos carbonizado”. Combustíveis No lado dos derivados, o cenário é diferente do óleo cru, com mais importações do que exportações. Em 2024, o país exportou o equivalente a US$ 11,7 bilhões e importou US$ 17 bilhões em combustíveis. No saldo da balança comercial, o déficit dos derivados foi de US$ 5,3 bilhões. Em comparação com 2023, o país importou 10,6% a menos em volumes financeiros. De acordo com o levantamento do IBP, o diesel seguiu como o principal derivado importado, respondendo por quase 50% do total trazido do exterior, grande parte da Rússia, seguido pela nafta e gasolina A (sem adição de etanol). Roberto Ardenghy avalia que o país tem condições de se tornar exportador de derivados, como forma de reverter a atual situação, de depender da compra de combustíveis no exterior para atender a uma parte da demanda. Hoje, o país chega a importar 25% do diesel consumido no país, em geral quando a safra agrícola está no pico de produção. “Você fica muito sujeito ao mercado internacional”, disse.Para ele, o cenário tenderia a mudar com os investimentos da Petrobras. Cotação de Petrobras nos próximos cinco anos e com investimentos de agentes privados em plantas na Bahia, no Maranhão e no Ceará. “São produtos mais elaborados, que têm valor agregado. E já que nosso petróleo é descarbonizado, isso também se refletiria nos derivados”. Veto na regulamentação da reforma tributária Adenghy afirmou, no entanto, que esse cenário positivo para a balança comercial pode ser comprometido com o aumento da carga tributária sobre o setor de petróleo e gás. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou a regulamentação da reforma tributária, vetando um artigo que isentava as exportações de petróleo da incidência do imposto seletivo – algo que vinha sendo questionado pela indústria. O imposto seletivo prevê a cobrança de alíquota adicional de até 1% sobre produtos que produzam impactos à saúde e ao meio ambiente. A alíquota para exportação de 0,25% será cobrada sobre as exportações de petróleo e minério de ferro. Segundo Ardenghy, a expectativa é que o Congresso derrube o veto. Caso não consiga, o IBP não descarta recorrer ao Judiciário para derrubar a medida, em conjunto com o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram).