Hidrogênio verde ainda não recebeu crédito do BNDES em 2 anos de programa

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Folha de São Paulo (Painel S.A.)

Uma das principais promessas do Brasil na transição energética, o hidrogênio verde ainda não tem nenhum projeto financiado pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). A situação é observada mesmo após dois anos da criação de um programa de fomento ao combustível.
De acordo com o banco, a tecnologia ainda está em desenvolvimento e, mesmo no mundo, ainda tem poucos projetos em escala comercial. “No Brasil, os principais investimentos planejados apresentam diferentes estágios de maturação. Eles estão na região Nordeste, tendo em vista a disponibilidade de energia renovável e a localização privilegiada para exportação de derivados de hidrogênio para a Europa”, afirma ao Painel S.A.
O BNDES diz já ter mapeado projetos de hidrogênio verde em lugares como Porto de Pecém (CE), Porto de Suape (PE), Porto de Açu (RJ), Parnaíba (PI) e Uberaba (MG). Mas não há notícia de decisão final de investimento de nenhum grande projeto.
“Até o momento, o BNDES não aprovou projetos de hidrogênio verde”, afirma o banco. “Esperamos que até o final do próximo ano a decisão final de investimento de um grande projeto aconteça”.
A principal dificuldade do mercado de hidrogênio de baixa emissão de carbono é o custo, o que afasta potenciais compradores, coloca em xeque a viabilidade econômica da operação e, consequentemente, dificulta um empréstimo.
A Agência Internacional de Energia vê o mercado como importante, mas uma realidade apenas de 2030 em diante. Mesmo assim, a entidade vê uma expansão nas intenções de investimento no mundo e publicou nos últimos dias um relatório em que elevou (em relação a um ano antes) em 30% a estimativa de produção do hidrogênio formulado com baixas emissões até 2030.
Os projetos no Brasil podem ganhar mais fôlego agora, depois que foi sancionada pelo presidente Lula (PT) a lei que institui o Programa de Desenvolvimento do Hidrogênio de Baixa Emissão de Carbono —que concede benefício fiscal a projetos do tipo.
Apesar de ser considerada uma tecnologia a ser usada nas próximas décadas, pelo menos desde os anos 1970 o governo brasileiro estuda o tema. Devido aos choques do petróleo na época, o Brasil criou em 1975 o Laboratório de Hidrogênio (LH2), vinculado ao instituto de física da Universidade Estadual de Campinas, para pesquisar a produção de hidrogênio e sua utilização em motores a combustão.
O hidrogênio é o elemento mais abundante e mais simples do universo, mas produzi-lo é caro. Ele não existe em sua forma atômica e raramente é encontrado naturalmente na fórmula molecular (H2). Ele se encontra associado a outros átomos na maioria das moléculas inorgânicas e orgânicas que existem, como na água (H2O).
As dificuldades começam na tarefa de separá-lo e continuam ao longo da cadeia. Estudos reunidos em artigo do próprio BNDES em 2022 apontam que a quantidade de energia perdida desde a conversão de eletricidade em hidrogênio, seu transporte, armazenamento e reconversão em eletricidade está na ordem de 70%.
Mesmo assim, há vantagens. O hidrogênio apresenta grande densidade energética (grande conteúdo energético por unidade de massa), mais do que os combustíveis comuns. Um quilo de hidrogênio contém 2,75 vezes a energia existente na mesma massa de gasolina, por exemplo.
Por outro lado, ele tem uma das menores densidades energéticas em relação ao volume. Em condições normais de temperatura e pressão, um quilo de hidrogênio ocupa 12 mil litros. Para colocá-lo na forma líquida, o que reduziria enormemente o espaço ocupado, é preciso uma temperatura de -259 graus (apenas 14 graus acima do zero absoluto, a menor temperatura possível de existir).
O alto custo de todo o processo pode ser mitigado por meio de projetos em escala. Nos Estados Unidos, por exemplo, estão sendo desenvolvidos projetos para que empresas (como indústrias ou data-centers) sejam instaladas ao redor de grandes centros (hubs) de produção de hidrogênio —o que diminuiria despesas com o transporte, por exemplo.

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