Valor Econômico
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo -15 (IPCA-15) subiu 0,53% em novembro, após alta de 0,16% em outubro, segundo o IBGE. O resultado ficou pouco abaixo da mediana do Valor Data, que estimava alta de 0,54%. Apesar da aceleração na comparação mês a mês, economistas ouvidos pelo Valor interpretaram o resultado como positivo e avaliam que a tendência de desinflação está mantida, embora a alta da gasolina tenha surpreendido.
“Sou um pouco cauteloso sobre a velocidade do processo de desinflação, mas de fato temos visto uma melhora inclusive dos dados mais qualitativos, dos núcleos, e da inflação de serviços também”, disse o economista do Santander Daniel Karp.
No acumulado em 12 meses, o IPCA-15 ficou em 6,17% em novembro, ante 6,85% até outubro. O resultado ficou também pouco abaixo da mediana das estimativas do Valor Data. A meta de inflação perseguida pelo Banco Central para 2022 é de 3,5%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para baixo ou para cima. A meta não vai ser atingida, mas isso já estava no radar dos economistas.
A gasolina foi a principal influência para a alta do IPCA-15 em novembro, com variação de 1,67% e impacto de 0,08 ponto percentual. Karp comenta que o dado surpreendeu um pouco, mas pondera que não houve reajustes recentes em refinarias e tampouco a iminência de que haja no futuro próximo. “O que aconteceu é que o etanol, que mistura na gasolina, subiu por efeito sazonal. O preço de açúcar que subiu e puxou para cima. Só que o nosso tracking mostra que já começou a virar para baixo. Não acho que vai gerar nenhum efeito maior.”
A economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, também não vê a surpresa altista da gasolina com preocupação, mas revela que deve ter um impacto leve na projeção do IPCA cheio de novembro e, consequentemente, no acumulado da inflação no fim de 2022. “Nossa projeção para o fim do ano está em 5,8%, mas estamos fazendo uma calibragem. Talvez suba um pouco por causa de combustíveis e fique mais próximo de 6%”, disse. “ Mas o processo de desinflação está preservado.”
A economista da AZ Quest Mirella Hirakawa também avalia que a abertura qualitativa dos dados foi positiva, principalmente quando se observa os núcleos da inflação. A média dos cinco núcleos do IPCA-15 monitorados pelo Banco Central subiu para 0,53% em novembro, de 0,47% no mês anterior, segundo cálculos da MCM Consultores. No acumulado em 12 meses, porém, a média dos cinco núcleos recuou de 9,79% para 9,42%.
“A principal mensagem é que a qualidade está melhor. Sem grandes surpresas. Nada que afete a condução da política monetária, por exemplo”, disse.
Os preços dos alimentos continuam sendo olhados com atenção, já que permanecem em dois dígitos (11,20%) no acumulado do ano, mais que o dobro da variação do IPCA-15 (5,35%). Mas ainda assim os economistas observam uma tendência positiva. Karp, do Santander, esperava que o grupo “alimentos para consumo nos domicílios” subisse 1%, mas subiu 0,60%.
O IBGE classificou a aceleração da alta dos alimentos de 0,21% em outubro para 0,54% em novembro como “expressiva”. Entre as principais altas, destacam-se os aumentos nos preços do tomate (17,79%), da cebola (13,79%) e da batata-inglesa (8,99%). Além disso, os preços das frutas subiram 3,49%, contribuindo com 0,04 ponto percentual no resultado do mês.
“Hortifrúti é um grupo que tende a ter uma aceleração nessa época do ano devido às chuvas. Não vemos uma mudança grande de perspectiva em relação à alimentação”, analisou Hirakawa, da AZ Quest. “É importante lembrar que, no meio do ano a gente teve uma pressão relevante de leite, por exemplo. Essa pressão foi dissipada e a tendência é que continue se dissipando nos próximos meses”, complementa. Segundo os dados, o preço do leite longa vida caiu mais 6,28%, após recuo de -9,91%. A queda do preço reflete o fim da entressafra do leite, que vinha pressionando a inflação em meses anteriores.
Outro ponto destacado pelos economistas no resultado de novembro é um efeito de alta no IPCA-15 incentivado pela maquiagem de preços da Black Friday, com muitas lojas aumentando os valores antes de lançar as promoções. Mas acreditam que isso é muito pontual e não causa nenhuma mudança relevante no cenário, até porque o efeito de alta deve ser revertido.