O presidente Lula já demonstrou, nos bastidores, certa insatisfação com a demora na reforma do Conselho, capaz de mudar a política de preços
Tribuna da Bahia
Os motoristas da capital baiana tiveram uma surpresa nada agradável nos últimos dias: o aumento de combustíveis observados nos principais postos de gasolina da cidade. Apesar da Acelen, empresa que administra a Refinaria Mataripe, informar que o último reajuste, no dia 6 de abril, foi de redução no diesel (0,3%), na gasolina (5,5%) e no Gás de Cozinha (GLP 8%), o que se constatou da última sexta até ontem, nos postos, foi uma variação para cima, entre R$5,86 a R$5,99 o litro.
De acordo com a Acelen, os reajustes ocorrem semanalmente e “os preços dos produtos produzidos na Refinaria de Mataripe seguem critérios de mercado que levam em consideração variáveis como custo do petróleo, que é adquirido a preços internacionais, dólar e frete, podendo variar para cima ou, como foi o GLP neste mês de abril, para baixo”. A empresa ressalta, ainda, “que possui uma política de preços transparente, amparada por critérios técnicos, em consonância com as práticas internacionais de mercado”.
O taxista Euvaldo Dias, há anos rodando no Rio Vermelho, disse ter sido pego de surpresa, uma vez que acompanha os reajustes da Acelen e viu que não deveria haver aumento nos valores. “Me parece, mesmo, que o reajuste foi uma decisão dos próprios donos de postos. O que é um desrespeito não só com motoristas, mas com toda a população”, declarou.
O motorista de aplicativo Ricardo Almeida afirma não entender “muito bem” os motivos que levam a constante oscilação dos preços dos combustíveis, mas mostra-se convicto de que a população não tem condição de arcar com os altos valores. “O que eu gostaria, mesmo, é de pagar um valor adequado ao meu bolso de trabalhador brasileiro. Essas questões de política de preços, que você diz aí, a gente deixa para os economistas resolverem, mas resolverem em favor da maioria que, se já mal consegue pagar transporte público caro, que dirá gasolina”, afirma.
Para o presidente da Associação de Engenheiros da Petrobras Núcleo Bahia (Aepet-BA), Marcos André, é preciso renovar o Conselho de Administração da Petrobras para que haja mudança na política de preços, tornando-a compatível com as características do Brasil. “O conselho erroneanemente estabeleceu o preço de paridade de importação. Então, estamos pagando um preço absolutamente especulativo, prejudicial a sociedade e que oscila conforme dois fatores: o preço do barril e o preço da moeda, ou seja o câmbio e o produto”, destaca.
Lula teria demonstrado insatisfação com política de preços, diz especialista
Segundo Marcos André, o presidente Lula já demonstrou, nos bastidores, certa insatisfação com a demora na reforma do Conselho, capaz de mudar a política de preços e disse que é “preciso abrasileirar o preço da gasolina e do diesel. Uma das promessas de campanha do presidente é baixar o valor dos combustíveis. “O mais absurdo é que produzimos o combustível e o consumimos aqui, do total de produção, importamos apenas 20%. A política de preços baseada na paridade de importação não condiz. Se tiver que importar, incorpore-se ao preço de importação a quantidade, estabeleça o preço e assim temos um delta”.
“Se a gente observar o preço do barril chegou a U$75, mas a gasolina não abaixou, porque temos a combinação do preço do produto e do preço da moeda. É, em termos mais simples de explicar, como se você dissesse que o pão francês na padaria da esquina custe o mesmo pão francês na França, sendo que o produzimos aqui”, continuou.
O secretário executivo do Sindicombustíveis, Marcelo Travassos, por sua vez, afirma que o ajuste de preços ocorre dentro dos parâmetros internacionais, seja para cima ou para baixo. “Tivemos uma alteração tributária forte, reoneração dos tributos federais e, recentemente, no dia 1 de abril um aumento significativo na pauta do ICMS o que pressiona o preço dos combustíveis”, pontuou.