Fonte: Valor Econômico
Embora a demanda por combustíveis ainda não tenha voltado aos níveis pré-pandêmicos no país, o mercado de etanol vive um momento bem mais positivo para os produtores do que há seis meses, diante do encarecimento da gasolina e da recuperação parcial do consumo, que está reduzindo estoques que se acumularam no pior momento da crise.
Referência para as usinas paulistas, o indicador Cepea/Esalq para o etanol hidratado subiu 6,36% na semana encerrada em 16 de outubro, para R$ 2,0149 o litro. Na comparação com o mesmo período do ano passado, o preço atual está 11,7% maior.
A disparada semanal foi potencializada pela retomada das compras das distribuidoras após o feriado da semana anterior, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
O produto, porém, já vem se valorizando há semanas, acompanhando os repasses do câmbio e da gasolina no mercado internacional ao combustível fóssil doméstico. E, mesmo com as altas, o etanol está se mantendo competitivo ante a gasolina nas bombas. Conforme os índices de preços Ticket Log, o etanol estava 65,8% do valor da gasolina na segunda-feira, 19, abaixo da paridade técnica de 70%.
Essa competitividade tem colaborado para a lenta recuperação do consumo que, combinada com uma safra com produção açucareira maximizada, está resultando no enxugamento de estoques antes abarrotados.
Desde setembro, os estoques de etanol nas usinas do Centro-Sul estão 15% maiores do que um ano atrás, em 7,6 bilhões de litros – mas a diferença está diminuindo, de acordo com a consultoria FG/A, de Ribeirão Preto. Na avaliação da consultoria, a produção de outubro a março deverá ser 29% menor nesta safra, o que tende a resultar em um volume ainda disponível para venda no intervalo 5% inferior que um ano antes, de 11,6 bilhões de litros.
E, mesmo estando mais valorizado do que no ano passado, o etanol continua menos atrativo que o açúcar para as usinas. Segundo a FG/A, a cotação do adoçante para março de 2021 está com um “prêmio” de 32% sobre o preço do etanol hidratado, corrigido para o mesmo mês. Essa diferença é até maior que a média da safra atual (2020/21), em que o prêmio do açúcar sobre o etanol foi, até agora, de 19%.
Segundo Willian Hernandes, sócio da FG/A, a valorização do etanol vem infuenciando os preços do açúcar, já que a demanda global não encontra muitos ofertantes atualmente além do Brasil.
Para o analista, se não houver nenhuma reviravolta na situação da pandemia no Brasil, a tendência é de recuperação do consumo de combustíveis. Combinado com uma oferta menor, isso deve resultar em uma distância mais curta entre os preços de etanol e gasolina nesta entressafra, em um movimento que pode se estender pela próxima temporada (2021/22).