EPBR
Estudo da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Unido), com a Agência Internacional de Energias Renováveis (Irena) e o Instituto Alemão de Desenvolvimento e Sustentabilidade, defende que países emergentes, como o Brasil, priorizem a indústria doméstica em suas estratégias para desenvolver o mercado de hidrogênio de baixo carbono.
O grupo faz quatro sugestões para os governos levarem em consideração no desenho de suas políticas.
Além de priorizar o uso local antes da exportação, a implementação da cadeia de hidrogênio deve estar alinhada aos conceitos de transição justa, para levar desenvolvimento econômico à população dos países que vão fornecer energia descarbonizada para o resto do mundo.
As outras sugestões são começar com projetos de pequeno a médio porte, para depois ir aumentando a escala, e implementar, de forma sequencial, a produção e aplicação.
“Os formuladores de políticas devem priorizar intervenções estratégicas e instrumentos para alcançar a diversificação industrial verde, incentivando tanto as indústrias existentes quanto as emergentes a se envolverem na produção de bens verdes e maximizar os benefícios da produção de hidrogênio de baixo carbono”, diz o documento.
Um mercado de trilhões de dólares, o desenvolvimento da cadeia de valor de hidrogênio de baixo carbono depende de muitos fatores. De tecnologia a recursos naturais disponíveis, passando por ambiente de negócios favorável e incentivos.
Países ricos na Europa, por exemplo, estão lançando mão de uma série de subsídios para incentivar a descarbonização de seus parques industriais. Mas boa parte da nova energia deve vir de países emergentes, que também precisam garantir a competitividade das suas companhias.
No Brasil, a política para o hidrogênio está em discussão no Congresso Nacional. Após as idas e vindas dos projetos de lei, da Câmara e do Senado, que tentam estabelecer um marco legal, as discussões sobre os subsídios a essa nova indústria voltam à pauta com o início das atividades parlamentares esta semana.
Demanda brasileira
Um estudo publicado em 2022 pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) aponta que os setores de refino e fertilizantes — grandes consumidores de hidrogênio fóssil — têm potencial de uso imediato das opções sustentáveis como estratégia de descarbonização.
O refino tende a ser o principal cliente — hoje, cerca de 74% do hidrogênio consumido na indústria brasileira são destinados às refinarias.
Já no curto e médio prazos (três a cinco anos), siderurgia, metalurgia, cerâmica, vidro e cimento aparecem como os potenciais consumidores.
A Petrobras é uma candidata a ancorar a demanda pelo gás de baixo carbono no Brasil. Durante inauguração das obras do segundo trem da Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em janeiro deste ano em Pernambuco, o presidente Lula (PT) afirmou que o hidrogênio verde produzido no Brasil vai priorizar o mercado nacional.
“Esse país não quer ser exportador de hidrogênio verde. Quando estiver produzindo hidrogênio na Bahia, em Pernambuco, sabe quem vai comprar? A Petrobras, porque ela vai ser uma grande consumidora de energia limpa. A siderúrgica quer produzir aço verde? Vem pro Brasil.
Quem quer produzir com uma fábrica limpa, venha para o Brasil”, defendeu o presidente brasileiro.
Na indústria de fertilizantes, a Atlas Agro planeja produzir 500 mil toneladas por ano de fertilizantes nitrogenados com hidrogênio verde a partir de 2027, na fábrica que está sendo construída em Uberaba, Minas Gerais.
Contrariando as previsões do mercado, o produto descarbonizado será ofertado ao mercado brasileiro ao mesmo preço que o convencional, produzido com gás natural, afirma a companhia.
Piloto de H2 na Petrobras
A petroleira, que estuda substituir hidrogênio fóssil por renovável nas refinarias, anunciou nesta quarta (7/2) a assinatura de um Termo de Cooperação com o Instituto Senai de Energias Renováveis do Rio Grande do Norte (Senai-ER) para a construção de uma planta piloto de eletrólise.
Com investimento de R$ 90 milhões, a Petrobras pretende aumentar a capacidade da usina fotovoltaica de Alto Rodrigues, de 1,0 MWp (Megawatt pico) para 2,5 MWp, para suprir a demanda elétrica da futura unidade de eletrólise.
O hidrogênio produzido será utilizado para avaliar o desempenho e integridade estrutural de microturbinas durante a combustão de misturas de hidrogênio e gás natural.
O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, afirma que a iniciativa contribuirá para a análise de viabilidade econômica de projetos de hidrogênio de baixo carbono e seus derivados, visando modelos de negócio de interesse da companhia.
Europeias de olho no Brasil
Também esta semana, o CEO global da Statkraft, Christian Rynning-Tønnesen, disse que a empresa avalia potenciais investimentos no Brasil em hidrogênio e biocombustíveis, além de considerar transformar todos os projetos de geração eólica no país em híbridos, com geração solar fotovoltaica associada.
“No futuro, o mundo vai precisar de moléculas, não apenas de eletricidade. E essas moléculas devem ser, predominantemente, de hidrogênio”, disse em visita ao Brasil esta semana.
A Statkraft está iniciando a construção dos seus primeiros projetos de hidrogênio na Europa. A ideia é, eventualmente, replicar o modelo por aqui. Segundo o executivo, a mesma estratégia deve ocorrer no segmento de biocombustíveis, área na qual a companhia está iniciando a atuação, com a construção de uma planta piloto na Noruega.