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Muito embora a indústria automotiva caminhe para a total eletrificação na próxima década, alguns mercados não necessariamente podem ter de seguir esse caminho graças às diferenças de orçamento, infraestrutura e matriz energética. No caso do Brasil, isso se torna ainda mais latente quando observamos as peculiaridades do nosso mercado e como as empresas vão se adaptar aos avanços propostos pela Europa e outras praças.
Em evento realizado no CTC (Centro de Tecnologia Canavieira), em Piracicaba, no interior de São Paulo, a Volkswagen apresentou sua visão de como o Brasil pode avançar na eletrificação dos automóveis, diminuir poluentes jogados na atmosfera e, de quebra, aproveitar o etanol, que deve ser nosso principal trunfo para ter, talvez, até mais êxito no total de emissões se compararmos com a Europa.
Em entrevista ao Canaltech, Pablo Di Si, CEO da Volkswagen para a América Latina, reforçou sem qualquer receio que o caminho, não apenas para o Brasil, mas para o continente, é mesmo o etanol e outras fontes de energia. “Para a América Latina, se faz necessário o desenvolvimento de soluções tecnológicas a partir dos biocombustíveis, como o etanol, que sirvam de ponte até a implementação total da eletrificação na região. Tecnologia essa com potencial para ser exportada para outros países”, disse o executivo.
E essa ideia da Volkswagen é reforçada pelos números. Segundo levantamento do próprio CTC e da UNICA (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), o ciclo de vida de carros que têm mais participação do etanol são menos poluentes — incluindo os elétricos. A medição, que é feita em g/CO2 por km rodado, ocorre desde o momento da produção do automóvel e de todos os seus componentes até o veículo em movimento e completamente abastecido, levando em conta também o processo de extração do combustível.
Veja o ranking:
Carro sem etanol e 100% a gasolina: 155g/CO2
Carro com gasolina misturada com etanol em 27%: 131g/CO2
Híbrido movido à gasolina: 94g/CO2
Híbrido movido à gasolina com etanol em 27%: 80g/CO2
100% Elétrico na Europa: 54g/CO2
100% etanol (carros flex): 37g/CO2
100% Elétrico no Brasil: 35g/CO2
Híbrido Flex: 29g/CO2
Com esses dados, fica claro que o caminho para países que produzem etanol em abundância, como a Índia, por exemplo, podem fazer valer essa vantagem e utilizar o combustível extraído da cana-de-açúcar para avançar na diminuição de poluentes emitidos na atmosfera. Hoje, o Brasil é o maior produtor de cana-de-açúcar no mundo, com 643 bilhões de toneladas por ano, mais do que todos os outros principais países somados.
“Consideramos o etanol um caminho a ser seguido na América Latina, já que a infraestrutura para a mobilidade elétrica deve demorar a chegar por aqui em comparação com países da Europa, China e Estados Unidos. Considerando que em termos de emissões e analisando todo o ciclo de vida, o modelo híbrido com etanol é tão eficiente quanto um veículo elétrico. Ao olharmos a matriz energética do País, principalmente para automóveis, e vemos o combustível etanol, somos um dos países mais eficientes ecologicamente porque com o etanol, o nível de CO2 emitido é mais baixo do que em países europeus, considerando o conceito “do poço à roda” ou seja, desde a produção do etanol até a emissão no escapamento do carro. Temos que aproveitar o potencial dessa matriz energética nacional para reduzir a emissão de CO2 no Brasil e no mundo”, disse Pablo Di Si.
Ao observar esse enorme potencial, a Volkswagen agiu rápido e decidiu trazer para o Brasil seu centro de desenvolvimento de biocombustíveis. Segundo a montadora, o vindouro Centro de P&D funcionará de forma independente quando pensamos em estratégias globais, já que o mercado latino-americano possui muitas diferenças em comparação ao europeu. Segundo estudo publicado pelo World Wildlife Fund (WWF) Brasil, até 2030 os biocombustíveis podem suprir 72% da demanda brasileira de combustível apenas pela otimização das pastagens degradadas atualmente.
Mas e os carros elétricos?
Como os próprios dados mostraram, os carros elétricos no Brasil seriam bem menos poluentes do que na Europa e teriam nível de emissão equivalente ao Híbrido flex. Por isso, mesmo que seja mais barato desenvolver os carros com os dois motores, a Volkswagen não descarta importar carros elétricos para o país, já que, mesmo diante das dificuldades, o país faz parte dos planos da montadora para esse nicho.
“O Grupo Volkswagen foi a primeira empresa automobilística a aderir ao Acordo de Paris e irá investir cerca de 73 bilhões de euros em eletrificação, motores híbridos e tecnologia digital ao longo dos próximos cinco anos. Serão lançados 130 modelos, sendo 70 elétricos e 60 híbridos até 2030 no mundo. Temos um plano robusto de lançarmos seis modelos na região América Latina nos próximos anos. Começamos em 2019, lançamos o Golf GTE híbrido plug-in, combinando o motor elétrico e o motor a combustão, e recentemente apresentamos o e-up! no Uruguai, o primeiro modelo 100% elétrico da marca na região”.
Para o futuro, são esperados, ao menos, dois modelos da linha ID para o país, como o ID.3 e o ID.4, que já estão em produção na Europa e serão testados por aqui em breve. Já para a produção nacional desses carros, a montadora ressalta que muitas coisas devem ser levadas em conta e, por isso, não confirma que isso possa ocorrer. Vale lembrar, porém, que no Brasil já é produzido o caminhão e-Delivery, o primeiro 100% elétrico da marca.
(Canaltech)