Fonte: Estado de S.Paulo / Celso Ming
A atividade econômica continua devagar-quase-parando e o desemprego, capengando. A campanha eleitoral começa a tomar corpo. Está mais do que na hora de decidir para onde queremos ir.
A indústria tradicional, alimentada com créditos subsidiados, reservas de mercado, desonerações, proteções alfandegárias e um Refis depois do outro, só continua aí porque determinados navios demoram para afundar. Mas estão, sim, afundando. O mesmo acontece com o emprego, tal como o conhecemos, outra embarcação a perigo.
O que vem vindo aí é outro mundo. É a indústria 4.0, é a integração do sistema produtivo em nuvem, é a impressão em 3 D. Fora daí, é insistência no que está fenecendo. As novas plataformas, os aplicativos e a internet das coisas estão transformando as relações de produção e a relação entre empregador e empregado a velocidades espantosas. Por isso, não cabe mais batalhar pela sobrevivência por uma manufatura do século passado a pretexto de preservar empregos. A indústria moderna não vai mais para países e regiões onde a mão de obra é mais barata, porque cada vez mais dispensa mão de obra. Ela vai para onde pode contar com regras estáveis de jogo e acesso mais rápido aos mercados. O Brasil precisa estimular essa nova indústria. Em vez de se dedicar a entupir o BNDES com recursos do Tesouro para fazer aleluias de crédito a juros favorecidos, uma nova política industrial tem de levar em conta essa transformação.
No curto prazo (próximos 10 ou 20 anos), há dois setores produtivos com grande potencial no Brasil não só em retorno econômico, como também em aumento do emprego: agronegócio e petróleo.
O segmento infantil das esquerdas tende a olhar o agronegócio com preconceito ideológico misturado com idiossincrasias tupiniquins. Como Marx fez críticas demolidoras aos fisiocratas que no século 18 defenderam a agropecuária como única fonte produtora de riquezas; e como as poucas experiências socialistas tiveram grande dificuldade de induzir o desenvolvimento do campo, essas esquerdas veem com desconfiança o sucesso do agronegócio no Brasil. Olham como coisa de latifundiário, de usineiro, de pecuarista ou como tudo isso misturado com devastação do meio ambiente. Não conseguem enxergar como o agro está modernizando o interior, criando empregos (especialmente na área de serviços), nem como traz recursos ao Brasil. Até mesmo economistas respeitáveis, como Luiz Carlos Bresser-Pereira, entendem que o agronegócio está contaminando a indústria com o vírus da doença holandesa (excesso de dólares).
O agro não se dedica mais como no início do século 20 apenas a sufocar o mercado mundial com montanhas de sacas de café a ponto de ser necessário queimar estoques para salvar a economia do País, como fez Getúlio Vargas. O Brasil está se tornando celeiro do mundo, num ambiente em que é preciso alimentar 40 milhões de consumidores novos por ano apenas na Ásia. Pode, dentro de mais alguns anos, produzir 200 milhões de toneladas de soja por ano. Ou, como escreveu nesta semana o físico José Goldemberg, também dentro de alguns anos, pode se tornar uma nova Arábia Saudita em combustíveis, apenas com produção de etanol.
Por falar em etanol, tem o petróleo. O subsolo do Brasil está encharcado de óleo. Só o entorno das áreas da cessão onerosa deve ter algo como 15 bilhões de barris recuperáveis. E tem o resto, que pode ser uma vastidão.
Nacionalistas primários vêm mantendo um discurso de que é preciso ir devagar. Não querem abrir exploração e produção de petróleo e gás, porque entendem que isso é puro entreguismo. Não entendem que essa riqueza não pode mais dormir eternamente em berço esplêndido. No dia 22, o Estadão mostrou que, apenas no primeiro semestre deste ano, foram criados mil postos novos de trabalho em Macaé (RJ) com o retorno dos leilões de área. Mais poços e mais plataformas, logo mais riqueza, mais royalties e mais empregos.
O problema é que este jogo está nos 40 minutos do segundo tempo e dentro de mais uns 20 ou 30 anos a utilização de derivados do petróleo para produzir combustíveis ou energia elétrica será apenas residual. O mundo está optando rapidamente pela energia sustentável e pelo carro elétrico. O que tem de ser tirado do subsolo é agora ou, em breve, não será mais.
O aumento nessa base de comparação reflete a normalização do mercado após dias de falta de produtos nos postos durante a paralisação dos caminhoneiros.
Em 2018, as vendas de gasolina acumulam queda de 11,98%.