Bahia Econômica
Coluna de Armando Avena
Há dois desafios na pauta econômica do governo que precisam ser enfrentados. O primeiro é o recuo fiscal anunciado esta semana, o outro a necessidade iminente de aumentar os preços da gasolina e do diesel. Na visão deste economista, o segundo desafio é muito maior que o primeiro.
Na questão fiscal, não houve nenhuma novidade. O mercado já havia precificado que a meta de superávit primário de 0,5% do PIB em 2025 não seria cumprida. O que se viu foi a oficialização e a meta agora será déficit zero, igual a deste ano. Esta meta de 2024, também não será cumprida, vai ser mudada em breve e o mercado sabe disso. Isso significa que o governo diminuiu o ritmo de esforço fiscal e por um motivo simples: não há mais espaço para aumentar impostos e não existe uma política de corte de gastos. Ou seja, o governo está admitindo que o ajuste fiscal será mais gradual do que o previsto, que vai demorar mais para estabilizar a relação dívida/PIB, que só deverá cair a partir de 2027. Em outras palavras, o governo atual vai manter a austeridade fiscal, mas no atual patamar, deixou o ajuste nas contas, que vai implicar em corte de despesas, para o próximo governo. Mas o que significa isso no curto prazo? Muito pouco. O dólar não está subindo por causa disso, mas se valorizando no mundo inteiro por causa da tensão mundial e dos juros americanos. O arranjo fiscal é um problema de longo prazo e pode até levar alguma incerteza ao mercado e, a depender do comportamento da inflação, reduzir a velocidade no corte de juros, mas nada além disso. Esse problema só passaria a ser grave se o governo eliminasse todas as travas fiscais e passasse a gastar muito acima das suas possibilidades o que, pelo menos por enquanto, não parece ser o caso.
Se os efeitos da marcha-ré fiscal são mais de longo prazo, os efeitos do iminente aumento dos derivados de petróleo é de curtíssimo prazo e pode trazer graves transtornos na economia. O problema é que a defasagem do preço da gasolina no Brasil em relação ao preço internacional está em torno de 20% e, com as tensões no Oriente Médio, essa defasagem tende a aumentar. Além disso, a valorização do dólar está ampliando a defasagem de preços. Ora, a Petrobras está há quase 6 meses sem reajustar a gasolina e há quase 4 meses sem alterar o preço do diesel. E mesmo a Refinaria de Mataripe, que faz reajustes semanais, têm defasagem em torno de 9% na gasolina e no diesel.
Por mais que o governo insista em adiar os reajustes, a Petrobras terá que aumentar os preços dos derivados, sob pena de começar a comprometer suas finanças. E esse sim é um enorme desafio no curtíssimo prazo, pois o impacto no reajuste da gasolina e do diesel gera aumento de preços em toda a cadeia produtiva e no transporte de produtos com impacto na inflação, afinal, só a gasolina pesa 5% no IPCA e tem o diesel e o gás de cozinha. Esse é o grande desafio do governo neste momento, aumento de combustível, significa pressão inflacionária e, portanto, será um freio na queda dos juros.