Fonte: Linkedin
Marcelo Gauto*
A atividade de distribuição de combustíveis é anterior a estruturação da indústria de O&G no país. A primeira distribuidora a desembarcar aqui foi a ESSO, da lendária Standard Oil, da família Rockefeller, em meados de 1912. Na sequência, viriam Anglo-Mexican (subsidiária da Shell), Texaco e Atlantic, todas multinacionais. A primeira empresa brasileira de grande porte no setor foi a Ipiranga, criada em 1934.
A Ipiranga, por sinal, foi pioneira na atividade de refino de petróleo no país, sendo que os técnicos da primeira refinaria estatal (RLAM-BA), inclusive, foram treinados na Refinaria Ipiranga (RS). A empresa se consolidou como grande distribuidora após comprar os ativos da Gulf Oil, em 1959, e da Atlantic em 1993. Em 2007, os ativos de distribuição e revenda da Ipiranga foram divididos entre o grupo Ultra e a Petrobras, que ficou com os ativos do norte, nordeste e centro-oeste do país. Os ativos do sul e sudeste ficaram com o grupo Ultra, que manteve a identidade visual da Ipiranga nos postos de combustíveis, dada a força da marca conquistada após décadas de mercado. Em 2008, o grupo Ultra comprou a rede Texaco, consolidando-se como a segunda maior distribuidora, em volume de vendas, do país, sob a marca Ipiranga.
A Petrobrás entraria na distribuição de forma definitiva em 1971, quase 60 anos depois da primeira distribuidora se instalar no país, com a criação da BR Distribuidora. Tendo herdado a estrutura de distribuição da estatal, a BR em três anos se tornou a maior distribuidora de combustíveis no país. Desde então, a empresa manteve liderança no setor.
Um parêntese…
Uma curiosidade do segmento é que as atividades de distribuição e comercialização de derivados não fizeram parte do monopólio estatal criado em 1953, quando da criação da Petrobras. Isso porque o lobby das empresas já instaladas no país (ESSO, Shell, Atlantic, Ipiranga e Gulf) foi grande na década de 1940, período em que a Campanha “O petróleo é nosso” fervilhava país afora. Deste modo, temendo uma represália por parte dos grandes distribuidores estrangeiros que ameaçavam encerrar as atividades no país, causando o caos no abastecimento de derivados, os legisladores deixaram de fora do monopólio as atividades de distribuição e comércio de derivados. Criou-se ali uma reserva de mercado histórica: nenhum posto revendedor pode comprar combustíveis no Brasil sem passar por um distribuidor, ou seja, não é possível comprar diretamente do refinador/produtor.
…Voltando ao assunto
A Cosan, originalmente uma empresa do ramo sucroalcooeiro, decidiu entrar na distribuição de combustíveis em 2008, quando comprou os ativos da ExxonMobil (bandeira ESSO). Três anos depois, veio a união das atividades de distribuição da Cosan com a Shell, criando-se a gigante Raízen, terceira maior distribuidora de combustíveis do Brasil, que ostenta a marca Shell nos postos revendedores.
A mineira Ale vem conquistando espaço, comprou os ativos da Repsol em 2008, entre outros, e conquistou o quarto lugar dentre as empresas de distribuição. Certamente, BR, Ipiranga e Raízen estão de “olho nela”. A gigante trader suíça de combustíveis Glencore adquiriu a empresa em 2018. Será que a Ale vai se tornar também uma “major da distribuição no Brasil”?
Passados mais de cem anos desde a chegada da ESSO no Brasil, o setor de distribuição de combustíveis sofreu grande concentração de mercado. Das seis grandes distribuidoras que concorriam no mercado até a década de 1990, hoje temos apenas três. A concentração das atividades marca o fortalecimento das grandes empresas, ao mesmo tempo que traz preocupação e desafios adicionais para os agentes que fiscalizam o ambiente concorrencial, como o CADE, no país. Essa história segue sendo escrita, aguardemos os próximos capítulos.
*Marcelo Gauto – Especialista em Petróleo, Gás e Energia – Químico Industrial – Técnico de Operações na Petrobras