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Combustíveis são formas de descarbonizar indústrias pesadas, como a siderurgia

 Folha de S. Paulo 
Terça-feira, 10 de setembro de 2024 às 08:00A competição entre os setores de biogás e hidrogênio verde na busca por qual insumo será o mais usado pela indústria nacional em um contexto de transição energética ficou evidente nesta segunda-feira (9), em uma feira organizada por grandes mineradoras em Belo Horizonte.

Chamadas para palestrar no evento, as presidentes das associações que representam os dois setores tentaram convencer executivos da mineração de que seus combustíveis eram mais baratos e eficientes. Estavam na plateia também profissionais de siderúrgicas, uma das indústrias que terão dificuldades em se descarbonizar e precisarão de um desses insumos para criar produtos mais limpos.

Essa disputa já é tema na roda de conversas de especialistas e pesquisadores da transição energética e, aos poucos, vem ganhando forma nos principais debates sobre o tema no país, ainda que alguns defendam que não necessariamente haverá vencedor.

Nesta segunda, a representante do biogás destacou, por exemplo, que o insumo é mais compatível à realidade brasileira, já que ele é proveniente de resíduos agrícolas e orgânicos. Além disso, quando purificado, o biogás tem a mesma essência do gás natural, o que desobrigaria as indústrias que já utilizam o segundo combustível a renovarem seus maquinários para descarbonizar as operações.

Já a representante do hidrogênio verde disse que o insumo é a alternativa aos combustíveis fósseis mais próxima de atingir a produção em escala e que, por isso, tende a ser mais barata nos próximos anos.

‘O primeiro continente a se preocupar com a transição energética foi a Europa, e ela começou a olhar para aqueles recursos naturais que ela tinha em abundância. Então foi lá que surgiu toda a conversa sobre hidrogênio, e naturalmente cada um olha para onde está o seu grande potencial’, disse Renata Isfer, presidente executiva da Associação Brasileira de Biogás, em evento organizado pelo Ibram (Instituto Brasileiro de Mineração).

‘Um dos pontos que se está discutindo muito agora é como que a gente vai levar toda a parte de bioenergia, que são os biocombustíveis, a serem tão reconhecidos quanto o hidrogênio’, acrescentou. ‘Eu vejo muita usina que fica numa região de grande potencial de biometano (biogás purificado), mas acaba olhando para o hidrogênio, porque o hidrogênio é reconhecido pelo GHG (principal protocolo global de descarbonização) e consegue certificado muito mais fácil.’

Ela defendeu que o governo brasileiro utilize a presidência do G20 para convencer outros países e organizações internacionais a aceitarem os biocombustíveis como uma alternativa de descarbonização, inclusive na produção de hidrogênio a partir do etanol. Assim, defende, produtores de biocombustíveis terão mais facilidade para conseguir financiamentos.

A presidente da Associação Brasileira da Indústria do Hidrogênio Verde, Fernanda Delgado, por outro lado, disse que o insumo é hoje o mais competitivo e que sonha com um futuro em que as indústrias, inclusive nacionais, estejam o utilizando em escala.

‘Quando tivermos o primeiro projeto saindo do papel e o segundo projeto virando nota fiscal, haverá uma alavancagem muito grande da indústria de hidrogênio. E hoje a gente traz o hidrogênio como a fruta mais pronta para se colher’, disse. ‘Mas o hidrogênio não é todas as soluções, o hidrogênio é uma delas’, acrescentou, citando a eletrificação como outra via.

Atualmente, há poucos projetos de hidrogênio verde no Brasil, sendo que todos ainda estão em fase inicial. Países desenvolvidos, porém, têm avançado em estudos e projetos sobre o tema, inclusive com subsídios enormes, como é o caso de União Europeia e Estados Unidos. Na semana passada, o Senado brasileiro aprovou um projeto de lei que dá R$ 18 bilhões de incentivos fiscais para a produção e comercialização do combustível -falta sanção do presidente Lula (PT).

A indústria do biometano também está em estágio inicial, ainda que mais avançada nacionalmente do que o hidrogênio verde. Atualmente, o país produz cerca de 1 milhão de m³ por dia de biometano, e o setor quer chegar a 10 milhões de m³ até o final da década.

Um desafio mencionado por especialistas seria o transporte do insumo, visto a pequena rede de gasodutos do país, além do incômodo de países europeus com combustíveis derivados de material orgânico.

Os europeus defendem que deve existir uma hierarquia para o uso da biomassa, de acordo com o valor agregado (calculado por critérios de sustentabilidade e de impacto ambiental e social) de cada setor, como alimentos, produtos químicos e combustíveis.

Por esse raciocínio, tanto a produção de alimentos como a de ração ou fármacos tem mais valor agregado do que os biocombustíveis. Ou seja, uma plantação deveria dar prioridade primeiro para a comida. Depois, para a produção de alimentos para animais da pecuária. Em seguida, para a produção de móveis. Até que, por último, o uso poderia ocorrer para a produção energética.

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