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Estudo da consultoria McKinsey sobre o consumo de renováveis até 2050 aponta que o crescimento na parcela de combustíveis sustentáveis na demanda de energia do transporte pode chegar a 7% e 37%, dependendo dos níveis de ambição climática entre os países.
Em todos os cenários, os analistas esperam que os combustíveis sustentáveis – com destaque para diesel verde (HVO), bioetanol e combustíveis sintéticos (que não usam biomassa) – desempenhem um papel cada vez mais importante no segmento de transporte, incluindo setores difíceis de descarbonizar, como aviação.
De acordo com o levantamento, o crescimento na demanda até 2035 será impulsionado principalmente pelo transporte rodoviário, atingindo 290 milhões de toneladas no cenário mais ambicioso, enquanto a aviação desempenha um papel cada vez mais importante a partir de então.
No curto prazo, eles ajudarão os países a cumprir suas metas de redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE), enquanto a eletrificação corre para ganhar fatias maiores do mercado.
‘Mesmo em um mundo com rápida absorção de veículos elétricos – onde eles representam cerca de 75% do total de vendas de veículos até 2030 – atingir as metas regulatórias de redução de GEE para transporte pode exigir uma contribuição significativa de combustíveis sustentáveis’, avalia o estudo.
Enquanto no segmento leve a aceitação de veículos elétricos a bateria (BEVs) é cada vez mais forte, no transporte pesado, como caminhões e ônibus, a eletrificação ainda deve demorar para ganhar escala.
‘Antes que a eletrificação seja concluída, o cumprimento das metas de redução de GEE na maioria dos países exigirá o uso de combustíveis sustentáveis (tanto de base biológica quanto sintéticos) diretamente nas frotas existentes’, completam os especialistas da McKinsey.
Impulso na aviação
Combustíveis sustentáveis – os SAF – misturados com querosene fóssil em motores convencionais podem ser a única opção viável para limitar as emissões de GEE.
‘As limitações do projeto de aeronaves restringem o potencial de descarbonização de tecnologias alternativas de propulsão, como bateria elétrica e hidrogênio’.
Não à toa, o SAF tem cada vez mais mobilizado investimentos e aparecido em compromissos do setor aéreo.
A fabricante francesa de aeronaves Airbus já começou a decolar seus primeiros aviões aptos a usar 100% de combustível sustentável.
A estadunidense Boeing firmou no início do ano um acordo com a EPIC Fuels para aquisição de 7,5 milhões de litros de SAF produzido a partir de resíduos agrícolas não comestíveis, para ser misturado no percentual de 30% ao combustível de aviação convencional.
E a brasileira Embraer anunciou esta semana a intenção de desenvolver a cadeia de produção de SAF com a Raízen.
Além das fabricantes de aeronaves, companhias aéreas como a Latam e a GOL veem nos combustíveis sustentáveis a solução mais viável para descarbonizar suas operações.
Investimentos ganham força
Com um mercado potencial de US$ 40 bilhões a US$ 50 bilhões de investimento (dos quais cerca de 70% já são decisões de investimento pós-final), a capacidade projetada até 2025 é de 46 milhões de toneladas.
No entanto, mais investimentos entre US$ 1 trilhão e US$ 1,4 trilhão são necessários até 2040 para cumprir os compromissos de descarbonização e a demanda regulada, alerta a McKinsey.
‘Nas próximas décadas, os planos de negócios podem precisar considerar a lógica de produção integrada com volumes mudando da estrada para a aviação, onde a rentabilidade da produção é projetada para depender do equilíbrio entre oferta e demanda, disponibilidade de matéria-prima e atratividade do consumidor’, completa.
No Brasil, tudo é incerto
Governo e Congresso ainda não conseguiram definir uma política para a inserção do diesel verde e do SAF na matriz, e os sinais da gestão de Jair Bolsonaro ao mercado são de que, na dúvida, sempre que apertar, a primeira a perder é a descarbonização.
No caso dos biocombustíveis, começou com o biodiesel, que para aliviar o impacto no preço do diesel – hoje mais caro que a gasolina -, teve seu mandato reduzido. Era para estar em 14%, está em 10%.
Agora pode chegar ao RenovaBio, a Política Nacional de Biocombustíveis. Na última sexta, o Ministério de Minas e Energia publicou uma nota com uma recomendação do comitê que cuida do RenovaBio para adiar o cumprimento de metas ambientais pelas distribuidoras de combustíveis.
A recomendação foi motivada pelo preço do CBio, título que as distribuidoras precisam adquirir em bolsa para compensar suas emissões, que chegou ao recorde de R$ 200 nas últimas semanas. Após a divulgação da nota, o valor despencou para R$ 123 na terça-feira (19/7). CNN
A decisão ainda não foi tomada, precisa passar pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). Mas já acendeu um alerta no setor de biocombustíveis, que aponta riscos à credibilidade do mercado de carbono nacional e insegurança jurídica.
‘Nunca é adequado uma mudança de regras no meio dos processos. Isso não combina com a economia liberal, com o respeito à previsibilidade e com as situações juridicamente consolidadas. Mas precisamos entender o racional por trás dessa nota. A princípio não parece fazer qualquer sentido e não ter qualquer viabilidade jurídica nesse aspecto’, comenta Evandro Gussi, presidente da Unica (associação do setor de etanol).
‘Muito mais do que insegurança jurídica, parece ter uma instabilidade de governança do programa e isso é um mau sinal. Dá sinais negativos para a indústria de biocombustíveis que organiza seus investimentos, entre outros fatores, com base nas expectativas do decreto [que regulamenta as metas do RenovaBio]’, explica a advogada Isabela Morbach, da Manesco Advogados.
Ainda sobre SAF
A Mercedes anunciou nesta quarta (20/7) que investirá em combustível de aviação sustentável como parte dos esforços para reduzir as emissões de carbono e tornar-se neutra em carbono até 2030. Com o anúncio, a montadora alemã passa a ser a primeira equipe esportiva do mundo a se comprometer com o SAF.
O compromisso visa as emissões de escopo 3 (indiretas). A montadora alemã espera reduzir quase 50% na pegada de carbono das viagens aéreas realizadas pelos funcionários durante a temporada da Fórmula 1, que conta com 22 corridas em diferentes continentes, como Europa, Ásia, Américas e Oceania.
Nayara Machado – EPBR