Demanda por biogás cresce no Brasil em meio à pressão por zerar carbono nas cadeias produtivas

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O Globo

Todos os dias, cerca de 10 mil toneladas de resíduos do Rio de Janeiro e de cidades vizinhas são despejadas no aterro sanitário da Ciclus Rio, localizado em Seropédica, na Baixada Fluminense. Equipado com tecnologia para drenar e tratar os gases emitidos pela decomposição do lixo, o aterro hoje é responsável por 10% da produção de biogás de todo o Brasil.
Ali operam duas unidades de produção de biometano, com capacidade para gerar 160 mil metros cúbicos/dia do combustível, fruto de uma parceria com a Gás Verde, empresa do grupo Urca Energia. Armazenado em cilindros e distribuído por carretas-tanque, o gás natural de origem renovável tornou-se, assim, uma aposta de diversas indústrias da região para descarbonizar seus processos produtivos.
O biometano reduz em 99% as emissões de gases de efeito estufa em comparação aos combustíveis de origem fóssil, e pode ser utilizado em processos industriais e no abastecimento de frotas, substituindo diesel, GLP e óleo combustível, entre outros. Mais do que o fator custo, a questão ambiental é hoje o principal motivador da busca pelo biogás.
— Há uma corrida por soluções eficientes de descarbonização, especialmente entre as multinacionais. Elas têm metas ambiciosas de redução de emissões, muitas das quais antecipadas para 2030 e 2035 — afirma Marcel Jorand, CEO da Gás Verde.
Hoje, a empresa é responsável pelo fornecimento à fábrica da Ambev em Cachoeiras de Macacu, primeira cervejaria do país 100% movida a biometano, e também para outras grandes indústrias, como Ternium, Vesuvius, Saint-Gobain e L’Oreal. Movida pelo aumento da demanda pelo combustível, a Gás Verde planeja aumentar a produção dos atuais 160 mil m3/dia para 500 mil m3/dia a partir de dez novas plantas em aterros sanitários em seis Estados.
Referências locais
A pressão pela descarbonização das cadeias produtivas tomou impulso com avanços regulatórios, especialmente a partir da assinatura do Acordo de Paris, em 2015, com os compromissos de quase 200 países para evitar que a temperatura média global suba mais de 1,5°C até o final do século. Ao assumir metas climáticas com horizontes entre 2030 e 2050, o setor empresarial tornou-se um ator importante na mitigação do carbono, mas enfrenta barreiras tecnológicas e de custos. Isso tem forjado a criação de hubs e iniciativas para fomentar a descarbonização.
Um exemplo é a Plataforma Net Zero, lançada pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), para ajudar as empresas em suas estratégias climáticas. Disponível gratuitamente em meio digital, permite a empresas de todos os portes e setores realizar um diagnóstico, planejar ações e até estimar custos para a descarbonização. A adesão é maior por parte de grandes empresas, que buscam engajar as cadeias de fornecedores.
— Este é um grande desafio das empresas no mundo todo, porque as cadeias de valor são globais. Há também uma ausência de referências robustas de descarbonização locais, que representem as especificidades de operar no Brasil — diz Viviane Romeiro, diretora de clima, energia e finanças sustentáveis do CEBDS.
Busca por soluções
A partir da percepção de que existem graus diferentes de adesão das empresas a iniciativas de redução das emissões, a Câmara Americana de Comércio (Amcham) decidiu criar, há um ano, o hub de descarbonização, capitaneado por cinco grandes companhias — ArcelorMittal, Citi, KPMG, Bayer e Ingredion. A ideia é atuar como um centro de colaboração entre empresas, startups, universidades e centros de pesquisa para auxiliar as empresas a encontrar soluções práticas para seus negócios, a partir de tecnologias como biogás, biomassa, fontes renováveis e agricultura regenerativa, aplicáveis de acordo com porte e segmento.

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