Conflito Israel-Hamas não deve cortar oferta de petróleo, dizem especialistas

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Valor Econômico

Em 2022 e em 2023, até agosto, a Arábia Saudita foi a principal origem da importação de petróleo brasileira. Entre os temores trazidos pela guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas está o risco de que países produtores de petróleo, vizinhos à região do conflito, se envolvam na disputa. Essa conjuntura aumenta a volatilidade sobre os preços do Brent, mas, conforme especialistas ouvidos pelo Valor, trata-se de uma “reação psicológica” que não deve se sustentar e tampouco resultar em redução da oferta global.

As importações de petróleo no Brasil este ano, até agosto, já ultrapassam o total de 2022, conforme dados da Agência Nacional de Petróleo (ANP). Em oito meses de 2023, dos 306,9 mil barris importados por dia 58,3 mil vieram da Arábia Saudita.

No ano passado, a importação brasileira de óleo bruto saudita representou quase um terço do total comprado no exterior. Dos 274,7 mil barris por dia importados no ano, 87,3 mil vieram da Arábia Saudita, de acordo com informações da ANP.

João Victor Marques, pesquisador da FGV Energia, diz que a origem da importação está mais diversificada neste ano, com o aumento da importância de países do continente africano, como Nigéria, Angola e Congo. Isso ocorre por conta do maior volume de compras externas das refinarias privatizadas. O óleo bruto saudita ainda representa uma fatia importante pela qualidade do produto, segundo o especialista.

O pesquisador reforça que a autossuficiência brasileira em petróleo, desde quando o pré-sal começou a ganhar protagonismo na produção em 2016, reduz qualquer preocupação que possa surgir quanto à importação da Arábia Saudita em meio ao conflito entre Israel e o Hamas.

Segundo a ANP, o Brasil produziu 3,021 milhões de barris por dia no ano passado. Em 2023, até agosto, a produção diária média foi de aproximadamente 3,462 milhões de barris.

“O planejamento energético brasileiro foi voltado à busca pela autossuficiência em petróleo. A maior parte do que é consumido nas refinarias vem do pré-sal. Mas, dentro desse recorte de menor importância das importações, a Arábia Saudita é a principal origem do óleo importado”, afirma Marques.

“A participação da Petrobras reduziu consideravelmente nas importações se compararmos aos dados históricos. Em 2022, a maior participação foi de agentes privados.

” Irã e Arábia Saudita têm deixado a pauta bélica de lado” — Najad Khouri

A Petrobras ainda compra petróleo da Arábia Saudita. Questionada pelo Valor sobre a existência de intercorrências no fornecimento em meio ao conflito no Oriente Médio, a estatal afirmou que monitora constantemente os movimentos do mercado e que não houve alteração nos fluxos. “A companhia acompanha diariamente os desdobramentos do conflito na região”, disse a Petrobras em nota.

Em janeiro de 2020, a estatal brasileira precisou suspender o trânsito de navios com cargas no Estreito de Ormuz, importante via no Golfo Pérsico para navios petroleiros de grandes companhias como Saudi Aramco e Petrobras. À época, a estatal brasileira afirmou que a decisão não prejudicaria o abastecimento de combustíveis no Brasil.

O conflito atual é diferente do que era visto em 2020, quando havia ataques do Irã a bases americanas no Iraque como resposta ao assassinato do general iraniano Qasem Soleimani pelos Estados Unidos.

“Em 2020, existia um forte temor de um conflito direto entre Irã e Estados Unidos. Esse não é o caso agora. A tendência é de ataques de grupos contrários a Israel, apoiados pelo Irã. Existe um risco de escalada nessa disputa, mas deve haver um conflito indireto com um apoio iraniano nos bastidores. Até o momento não existe restrição nos fluxos físicos e nem nas unidades de produção ou de refino. Não vemos esse risco agora”, diz o pesquisador da FGV Energia.

Marques explica ainda que Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados (Opep+), que, segundo ele, é “praticamente liderada pelos sauditas em cooperação com a Rússia”, tem controlado bem o mercado. “Não existe vontade política de desestabilizar o mercado de petróleo.”

Najad Khouri, especialista em Oriente Médio e fundador do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre o Oriente Médio (Gepom), faz coro à ideia de que os países produtores de petróleo daquela região têm tentado deixar as relações cada vez mais estáveis. “Os fundamentos do petróleo são muito fortes. A Opep+ tem apresentado sucesso na função de gerenciar o mercado e isso vem mantendo os níveis de produção”, afirma Khouri, que tem origem libanesa.

De acordo com o especialista, os confrontos entre Hamas e Israel nunca afetaram os preços do petróleo. Segundo Khouri, atualmente, as relações geopolíticas entre Arábia Saudita e Israel estão ainda mais estáveis e, além disso, o Irã tem passado por um processo de abertura diplomática. “Irã e Arábia Saudita precisam do progresso econômico. Eles estão deixando de lado a pauta bélica por ora. O próprio Irã já afirmou que precisa ter prudência e não pode sacrificar a união pelo conflito.”

“Existe uma tendência de negociação, de não destruir os próprios recursos. A Arábia Saudita teve um aumento considerável do Produto Interno Bruto (PIB) nos últimos anos. O Irã tem buscado abertura econômica para a China. Não vejo agora uma probabilidade de o Irã elevar o envolvimento no conflito, tampouco um risco sobre o Estreito de Ormuz”, afirma Khouri.

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