Folha de São Paulo
Bancos e gestoras de investimento com ações de empresas de combustíveis querem se associar ao ICL (Instituto Combustível Legal) para aumentar a pressão à ANP e ao governo por uma política efetiva de combate à ilegalidade no setor.
O presidente do ICL, Emerson Kapaz, afirmou que isso não é possível. O estatuto do instituto só permite a filiação de empresas da cadeia produtiva. Mas isso não afasta os bancos.
O executivo informa, no entanto, que cogita uma parceria com a Febraban, a federação dos bancos, para a criação de um sistema de rastreio e monitoramento de pagamentos das distribuidores.
Ao seguir o fluxo do dinheiro, o ICL, em parceria com os bancos, poderiam conhecer melhor a forma de atuação de grupos, como o PCC, que se infiltraram no setor para fazer lavagem de dinheiro e outros crimes.
Para os bancos, o ICL caiu como luva em sua estratégia financeira. Como noticiou o Painel S.A., um relatório do BBI, braço de investimento do Bradesco, mostra que as distribuidoras teriam 15% a mais de lucro se o mercado paralelo deixasse de existir.
O banco detém 23% da Cosan, empresa do grupo do bilionário Rubens Ometto, que, por sua vez, controla 88% da Compass. As demais ações da companhia estão nas mãos de Atmos Capital, BC Gestão de Recursos, Prisma Capital e Núcleo Capital.
Recentemente, os analistas do BBI Vicente Falanga e Gustavo Sadka afirmaram, publicamente, que “o aumento na fiscalização do governo federal em cima de distribuidoras informais pode ajudar na recuperação de resultados das três maiores empresas do setor: Vibra, Raízen e Ultrapar”.
No início de setembro, Julio Nishida, superintendente de fiscalização da ANP, reuniu-se com os sócios da gestora de investimento Dynamo. Na sequência, também recebeu Carlo Faccio, diretor-executivo do ICL.
A Dynamo diz, em seu balanço, que 10,3% de sua carteira de investimento é de ações da Vibra. Informa ainda ter posição na Cosan, mas não diz quanto.
A aproximação entre bancos e gestoras do ICL foi revelada no fim de agosto pelo CEO da Vibra, Ernesto Pousada.
“Os bancos, recentemente, vêm se aproximando do ICL em busca de desenvolver uma agenda única no combate às ilegalidades no setor de combustíveis”, afirmou durante o “Vibra Investor Day”.
No evento, Pousada avaliou que o combate às ilegalidades é uma das formas de promover o crescimento na distribuição de combustíveis.
Segundo ele, o problema já não envolve somente distribuidoras, mas o setor financeiro.
O Bradesco BBI avalia que os valores de mercado das três distribuidoras podem aumentar até 17%, na comparação com os números de hoje, caso o governo consiga avançar em alguns pontos menos complexos —não detalhados— dessa informalidade.
Consultadas, Vibra e Bradesco não quiseram comentar.