EPBR
Levantamento da Agência Internacional de Energias Renováveis (Irena, na sigla em inglês) alerta que nenhum dos sistemas de certificação de hidrogênio existentes é adequado para o comércio internacional.
Existem lacunas nos padrões, na rotulagem ecológica e no design da certificação, e as informações são insuficientes para permitir comparações justas além-fronteiras.
Falta clareza, por exemplo, nos dados sobre emissões de gases de efeito estufa durante a produção e/ou transporte de hidrogênio; ou sobre o cumprimento de critérios ambientais, sociais e de governança (ESG).
Até o ano passado, pelo menos 60 países publicaram ou começaram a elaborar estratégias de hidrogênio, alguns como consumidores, outros vários tentando estabelecer-se como regiões exportadoras.
Do lado da demanda, a Alemanha já está recebendo ofertas no primeiro leilão do mundo para aquisição de derivados de hidrogênio verde, dando a largada no comércio internacional da nova fronteira energética.
A ascensão vertiginosa desse combustível ao debate global carrega uma série de perguntas que ainda precisam ser respondidas. Entre elas: como provar que o hidrogênio verde é mesmo verde?
O hidrogênio é considerado verde quando produzido a partir da eletrólise com energia renovável, mas sua rotulagem pode variar de acordo com outros critérios;
Hoje, menos de 1% da produção global de H2 vem de fontes renováveis. A Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês) estima que cerca de 50 gigawatts de energia renovável poderiam ser dedicados à produção de hidrogênio renovável até 2027.
Atualmente, são oito esquemas voluntários de certificação. Embora eles tenham desenvolvido seus padrões usando metodologias iguais ou semelhantes, a maioria tem “diferenças fundamentais” que os tornam incompatíveis, avalia a Irena.
Dois deles não estipulam um teto de emissões, mas limitam seu escopo para avaliar a diferença na pegada de carbono.
Já os que especificam teto, variam entre 1 e 4,9 kgCO2eq/kgH2 para rotas renováveis.
Além disso, alguns limites são definidos como emissões até o ponto de consumo, outros como emissões até o ponto de produção de hidrogênio.
Neste último caso, mais comumente quando o usuário final é uma fábrica próxima (como no caso do Japão) ou um ponto de carga de transporte próximo à instalação de produção, mostra o relatório.
Também existem discrepâncias na validação do uso de energia renovável, com diferentes esquemas que exigem diferentes modelos de renováveis e cadeia de custódia.
Tudo isso somado pode resultar em um mercado fragmentado.
O H2V é a grande promessa para descarbonizar indústria e transporte pesado – aviação e frete marítimo –, setores intensivos em energia e emissões. Mas boa parte dos projetos de produção está distante de onde a energia será consumida.
A China está liderando a expansão da produção, seguida pela Austrália, Chile e Estados Unidos;
Já o consumo deve ser impulsionado pelo G7: Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido, além da União Europeia.
“Políticas como cotas industriais e de transporte, mecanismos de ajuste de fronteira de carbono, compras públicas sustentáveis, cotas de produtos, contratos de carbono por diferença e leilões bilaterais precisarão de um esquema de certificação”, explica a Irena.
“O desafio é ter um esquema reconhecido internacionalmente que evite a duplicação e ineficiência de esquemas múltiplos, concorrentes e divergentes”, completa.