Fonte: Extra
As usinas do centro-sul do Brasil deverão processar na safra 2018/19 um volume de cana apenas ligeiramente maior na comparação com 2017/18, cujos trabalhos estão se encerrando, e haverá uma grande disparidade entre a produção de açúcar e etanol, uma vez que o setor se volta ao biocombustível, nos últimos meses mais atrativo que o adoçante.
De acordo com a média de uma primeira pesquisa da Reuters para a próxima temporada, que se inicia oficialmente em abril, as usinas e destilarias da região deverão moer cerca de 590 milhões de toneladas de cana, alta de quase 1 por cento ante as 585 milhões de toneladas previstas para o atual ciclo pela União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica).
Conforme consultorias e agentes de mercado ouvidos pela Reuters, condições climáticas desfavoráveis em alguns momentos deste ano e a baixa renovação de canaviais impedirão uma expansão significativa na colheita e, consequentemente, no esmagamento da principal região canavieira do maior produtor e exportador de açúcar.
“As questões climáticas têm pesado na revisão quando combinadas com o envelhecimento dos canaviais”, resumiu Eduardo Sia, analista da Sucden.
Esse equilíbrio ante 2017/18, no entanto, não deve ser observado nos produtos.
Na média, é esperada uma fabricação de 33 milhões de toneladas de açúcar, queda de 6,3 por cento ante 2017/18, e uma produção de 26,1 bilhões de litros de etanol, alta de 5,9 por cento em relação ao previsto para a safra vigente.
O etanol voltou a ser bem atrativo para o setor sucroenergético neste semestre, na esteira de altas tributárias maiores para a gasolina, concorrente direto do hidratado, e pode manter competitividade especialmente se o programa RenovaBio passar no Congresso Nacional.
Pelos dados mais recente da Unica, que aposta em uma aprovação da nova política de biocombustíveis ainda em 2017, as vendas totais de etanol (anidro e hidratado) cresceram 15,2 por cento na primeira metade de novembro, com mais de 1 bilhão de litros.
AÇÚCAR EM BAIXA
Na contramão, o açúcar deixou de ser atrativo como o foi em 2016, quando os preços do bruto na Bolsa de Nova York chegaram a 24 centavos de dólar por libra-peso, máxima em cerca quatro anos.
De lá para cá, as cotações da commodity retomaram a trajetória de queda, refletindo, em especial, a perspectiva de um novo superávit global de oferta após dois anos de déficit.
Segundo a Organização Internacional do Açúcar, o excedente em 2017/18 deverá ser de 5 milhões de toneladas, o que limitará os preços do adoçante no próximo ano, na avaliação do Citi.
De dezembro até meados de março de 2018, o centro-sul do Brasil estará no período de entressafra, e as chuvas necessárias para o desenvolvimento dos canaviais serão monitoradas.
Conforme João Paulo Botelho, analista da INTL FCStone, outro ponto de atenção nos próximos meses será os preço do petróleo no mercado internacional, uma vez que essa commodity em alta puxa as cotações da gasolina e, por tabela, as do etanol, o que estimularia a fabricação do álcool pelas usinas brasileiras.
No último dia 30 de novembro, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e produtores de fora do grupo, liderados pela Rússia, concordaram em prolongar os cortes de produção de petróleo até o fim de 2018, em meio a uma tentativa de terminar de eliminar um excesso global.
Veja abaixo as estimativas obtidas pela Reuters. Os números de moagem e produção de açúcar são em milhões de toneladas. A fabricação de etanol é em bilhões de litros.
FONTE MOAGEM AÇÚCAR ETANOL
Agroconsult 612,50* 32,90 27,10
Archer Consulting 585,00 32,68 25,55
Biosev 586,00 N/D N/D
Datagro 580,00 32,60 26,00
INTL FCStone 587,50 33,30 26,10
Sucden 588,00 33,40 26,00
MÉDIA 589,83 32,98 26,15
Maior estimativa 612,50 33,40 27,10
Menor estimativa 580,00 32,60 25,55
Unica 2017/18 585,00 35,20 24,7
*A projeção da Agroconsult para a moagem é o ponto central do intervalo estimado, de 600 milhões a 625 milhões de toneladas
(Reuters) (Edição de Roberto Samora)