A Tarde Online
A explosão em um veículo, seguida de incêndio, durante o abastecimento de gás natural veicular (GNV), na quarta-feira passada, 11, no bairro do Stiep, reacendeu o debate sobre a segurança do sistema GNV. Especialistas reafirmam que os riscos são eliminados se houver instalação correta e manutenção adequada, mas alertam que há motoristas rodando com cilindros requalificados, com muito tempo de uso, sem manutenção, e que não passam pela vistoria anual obrigatória de todo o sistema.
“A pandemia aumentou muito a demanda por cilindros de oxigênio, criando escassez de matéria-prima também para os cilindros de GNV. Então a oferta de cilindros novos é pequena, o que ocasiona o aumento de carros rodando com cilindros requalificados em Salvador, relata o administrador de empresas Gabriel Bammer, que é técnico em instalação de GNV e motorista de aplicativo.
Ele chama a atenção para um risco ainda maior: motoristas rodando em carros com cilindros que têm muitos anos de uso, que não passam pela vistoria anual, onde há o teste do equipamento. “Eu particularmente não instalaria um cilindro requalificado no meu carro”, diz.
Faltam cilindros novos
A gerente da Buri Gás Veicular, Simone Carvalho, confirma que a oferta de cilindros novos foi reduzida. “Os fabricantes estão priorizando os cilindros de oxigênio, devido à alta demanda. Hoje a demora para entrega é bem maior, eles alegam falta de matéria-prima”.
Simone explica que um cilindro de GNV tem vida útil de 20 anos, e não há problema em usar os requalificados, o perigo é não fazer os testes e deixar de realizar a vistoria anual de todo o sistema. “Todo cilindro deve ser inspecionado e retestado a cada cinco anos, ou quando ocorrer danos como exposição ao fogo, ácidos” etc.
O Conselho Nacional de Trânsito (Contran) determina a obrigatoriedade da inspeção anual nas instituições técnicas licenciadas pelo Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro). A Resolução 262/07 do Contran exige uma vistoria obrigatória a cada 12 meses, como forma de prevenção a possíveis acidentes. Na vistoria realizada por empresas credenciadas pelo Inmetro, além do kit gás, são avaliados itens como suspensão, direção, freio, sistema de emissão de poluentes e parte elétrica.
A explosão do cilindro na hora do abastecimento deve ter sido causada por problemas técnicos no sistema GNV, acredita Gabriel Bammer. “Pode ter certeza de que o cilindro era velho, cerca de 90% dos problemas acontecem em cilindros com muito tempo de uso. Novo, ele é muito resistente, mas com o tempo o próprio combustível vai corrompendo o cilindro”, afirma.
Ele denuncia que existe um mercado paralelo de compra de cilindros usados em Salvador, compras diretas ou por meio de plataformas, como a OLX. “Esses cilindros são colocados em oficinas de conversão não credenciadas ao Inmetro, sem a qualificação necessária para fazer o serviço”, alerta Gabriel Bammer.
Selo do Inmetro
Ele decidiu fazer o curso de instalação do kit GNV, no Rio de Janeiro, por questões de segurança. “Eu gosto de carros e quis aprender para eu mesmo instalar nos meus veículos, para assim ficar mais seguro”. Gabriel tem parcerias com oficinas convertedoras credenciadas, e, como troca de carro a cada ano, ele mesmo faz a instalação nas oficinas parceiras.
“Os postos de gasolina devem ser rigorosos, não abastecendo veículos com GNV que não tenham selo do Inmetro. A única forma de acabar com isso e evitar novos acidentes”, diz Gabriel. O selo de segurança é renovado a cada ano, na vistoria obrigatória. Nessa inspeção, há checagem de documentação, da procedência dos cilindros, qualidade do sistema e das condições do carro. “Muitos motoristas que não têm condições financeiras para corrigir todos os problemas do carro ou não têm garantia da procedência do cilindro nem aparecem na vistoria. E com a crise houve aumento de carros irregulares rodando nas ruas, oferecendo riscos à população.
Simone Carvalho também concorda com aumento da fiscalização nos postos e com a exigência do selo do Inmetro na hora de abastecer. “E, por sua vez, os clientes só devem abastecer com GNV em postos qualificados para essa distribuição”, alerta.
Na Bahia existem 33 convertedoras homologadas pelo Inmetro, sendo 21 delas em Salvador. Isso significa que elas estão habilitadas para fazer instalação do kit GNV e dar a manutenção. “Depois do acidente no Stiep, aumentou a procura pelos serviços de manutenção”, explica Simone, da Buri Gás, que é homologada pelo Inmetro.
O professor titular da Escola Politécnica da Ufba Ednildo Torres afirma que rodar com carro movido a GNV, de fábrica, ou com instalação do kit, é seguro. “Desde que sejam obedecidas todas as regras, de instalação e manutenção”. “No mundo todo existe GNV, que funciona bem, se observadas as normas de segurança”.
Ele alerta, ainda, para os cuidados na hora do abastecimento do veículo. “É preciso abrir o capô, as portas, e o motorista deve sair do carro. Nesse momento não pode usar o celular, acender cigarro ou criar qualquer fagulha”. O professor acredita que os postos deveriam investir na instalação de detectores de escapamento de gases, para garantir maior segurança.