Brasil está na frente para receber investimentos da transição energética

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Jornal Folha de S. Paulo
SÃO PAULO O Brasil está em um bom momento, especialmente para receber investimentos que atendam as demandas por transição energética, diz Alberto Kuba, CEO da WEG, multinacional brasileira de equipamentos elétricos que se tornou uma das indústrias nacionais mais bem-sucedidas no cenário global.

“Dada a matriz de energia renovável, é um excelente player para atrair investimentos. E ainda há esse novo movimento que é a inteligência artificial, demandando cada vez mais energia. O Brasil está muito na frente, com pouquíssima dependência das usinas térmicas”, afirma o executivo de 44 anos, que começou como estagiário há 23 anos e assumiu o conglomerado em abril deste ano.

Para aproveitar a onda da transição verde, a empresa desenha quatro frentes prioritárias: eficiência energética, mobilidade elétrica, energias renováveis e eficiência operacional.

Fundada há 63 anos em Jaraguá do Sul, no interior de Santa Catarina, a WEG atua hoje em 135 países e emprega 40 mil pessoas, crescimento que Kuba atribui à competitividade gerada por uma verticalização radical: a empresa fabrica até mesmo os fios e tintas usados em suas máquinas.

Com desempenho financeiro expressivo -receita de R$ 9, 2 bilhões no segundo trimestre deste ano e Ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortizações e depreciações) de R$ 2, 1 bilhões, 15, 7% maior do que no mesmo período no ano passado-, o grupo ficou também conhecido pelo número de herdeiras bilionárias: 19 descendentes aparecem na lista da revista Forbes.

A WEG anunciou R$ 670 milhões no Brasil e no México. O que a empresa espera com esse investimento? Tentamos ser o mais verticais possível, produzir tudo dentro de casa. No México, a única coisa que faltava era uma trefilação. Vamos fazer fio para os nossos negócios de motor elétrico e transformadores.

O negócio de transformadores está crescendo muito no mundo. E aí a gente começa a ter dificuldades de escalar, [há] uma preocupação se os fornecedores conseguem acompanhar o crescimento.

Há essa preocupação de paralisar por falta de fornecimento? AWEG é uma empresa fundada em 1961, em Santa Catarina, no interior. O fornecimento de matéria-prima era complicado. Os fundadores focaram muito em verticalização.

Começaram a fazer o ferro fundido, trefilação de fio. Nessa jornada, começamos a fabricar a própria tinta, o próprio verniz. Temos plantações de madeira, florestas para usar madeira para fazer embalagem.

Até os anos 2000, à WEG só tinha fábricas no Brasil. No México, [no início] era uma fábrica pequena e mandávamos muito componente do Brasil. Hoje é a nossa maior operação fora do Brasil e faltava uma fábrica de fio.

A verticalização custa caro, tem que botar bastante capex [despesa de capital]. Quando os volumes chegam num determinado montante, vale a pena investir. E esse é o momento, a WEG México cresceu bastante, está atendendo a América do Norte.

No segmento de geração, transmissão e distribuição de energia, os Estados Unidos estão demandando muita energia, seja pela necessidade de renovação do parque industrial, seja pela transição energética.

E nós temos mais dois investimentos [nos R$ 670 milhões]. Um é também na expansão da nossa unidade de fios em Itajaí (SC), justamente para acompanhar o aumento de capacidade para transformadores, um dos mercados que mais cresce. Nossa capacidade de produção de cabos e fios chegou ao limite.

[O investimento inclui também a ampliação da fundição em Guaramirim, Santa Catarina, e a modernização de maquinário, estimados em R$ 135 milhões. ]

O Brasil é com frequência citado como arriscado para investir. O México vive uma crise de energia. Qual é o cenário visto pela WEG para esses mercados? Quando a gente olha da perspectiva de energia, o México está muitos anos atrás do Brasil. Não tem mercado livre.

O governo limitou a energia renovável. Embora tenha toda essa dificuldade, é muito mais competitivo. Colocar uma planta nos Estados Unidos é muito caro. Para vender nos Estados Unidos, o México hoje já é o maior exportador para o mercado americano. É muito estratégico colocar uma fábrica no México. Esse negócio de transformadores e equipamentos grandes necessita de muita mão de obra, são equipamentos grandes e não dá para automatizar.

Mas a WEG sempre investe no Brasil. Em 2022, investiu R$1, 180 bilhão, dos quais R$ 600 milhões foram no Brasil. Neste ano, a gente orçou investir R$ 1, 9 bilhão, R$1, 1 bilhão no Brasil.

Em 2001, 70% da receita da WEG era no país. No ano passado, faturou R$ 32, 5 bilhões.

O Brasil tem muita água, um sol espetacular em muitas regiões, não tem terremoto, não tem tufão. E a gente tem vento. Dada a matriz de energia renovável, é um excelente player para atrair investimentos que necessitam de muita energia.

E ainda há esse novo movimento que é a inteligência artificial, demandando cada vez mais energia.

O Brasil está muito na frente, com pouquíssima dependência das usinas térmicas. Nós achamos, na WEG, que o Brasil mais e mais vai ser destino de investimentos internacionais.

Em todo o mundo, fala-se muito em oportunidades ligadas à transição energética e à descarbonização. Como isso está na estratégia da companhia? Vemos quatro frentes. A primeira é eficiência energética.

A WEG vem se posicionando para ser referência em produtos de maior eficiência. Outra frente é mobilidade elétrica, a gente está tanto na parte de estações de recarga, mas também fabricando motor, controlador de velocidade, transmissão e pack de baterias para ônibus e caminhões.

O terceiro está relacionado a energias renováveis. A WEG vem trabalhando muito forte para fornecer soluções de energia solar, energia hidráulica, energia eólica e biomassa. Estamos muito bem em todos esses negócios.

O quarto e último desdobramento a gente chama de eficiência operacional. Por exemplo, tenho aqui um forno a gás e vou eletrificar. Quando você faz isso, também pode digitalizar, colocar sistemas de controle para saber quando está usando, quando está gastando energia. A WEG faz esses dois caminhos: ajuda na eletrificação e na digitalização.

Alberto Yoshikazu Kuba, 44

1979, Presidente Epitácio (SP) Engenheiro eletricista, entrou na WEG em 2002, foi estagiário e trainee. Após passagem pela China, voltou ao Brasil como diretor-superintendente e, em 2024, assumiu como CEO do grupo

A WEG comprou a Volt, na Turquia, que fabrica motores elétricos. No ano passado, comprou unidade da Regal Rexnord [negócio de US$ 400 milhões], a maior que a empresa já fez, ambas ligadas a motores. AÀ Volt é uma super-estratégica porque ela traz acesso ao mercado turco, um dos maiores que exportam para Europa, a um custo competitivo.

A divisão industrial da Regal Rexnord trouxe algo a mais para nós, que foi espetacular, que é o alternador, ou pode se chamar de gerador também.

Hoje, todo mundo fala em data center e IA [inteligência artificial] generativa. Uma pesquisa feita no Google versus uma pesquisa feita no Copilot ou no ChatGPT gasta de 15 a 20 vezes mais energia.

O mercado de data center ainda não é para IA, é para dados, armazenamento, para servidor mesmo. Até 2030, os data centers para IA serão maiores que os de armazenagem. E aí a demanda por energia será enorme.

E como o alternador entra nisso? Quando você tem os servidores, não pode cair nunca energia. Só que para um data center é [necessária] muita energia. O sistema vai segurar por algumas horinhas, não aguenta muito tempo, porque é muita energia. E aí você tem lá os nossos geradores, alternadores conectados ao motor a diesel.

Se cai a rede elétrica, a bateria segura por um tempo e entra a geradora a diesel, que pode manter por horas para garantir que não vai ter problema na rede. Como crescimento do negócio de inteligência artificial e data centers, é obrigatório ter essa energia de backup.

Esse alternador, gerador, é um core business para WEG.

O que, no Brasil, vocês avaliam que ainda precisa amadurecer para que o país receba mais investimentos vindos do exterior? Nos últimos anos, o Brasil viveu a desindustrialização. A gente precisa buscar tecnologia para ganhar produtividade. Muito se fala do custo Brasil, das dificuldades, do imposto alto, mas se resolver isso, o Brasil vai ser uma potência, vai bater a China? Não vai.

O mundo está tentando se reorganizar e isso vai trazer muitas oportunidades para a indústria do Brasil, país que não tem nenhum problema de relacionamento com outros. E isso atrai investimento.

E o Brasil aparentemente está num bom momento. Eu gosto de olhar o número. A WEG criou esse ano2. 100 empregos só no Brasil. A gente vê negócios de ciclo curto bons, ar-condicionado, lavadora de roupa. Bens de consumo, de forma geral, estão bem. Acho que o mundo está animado, e o Brasil está se beneficiando disso.

Quando seu nome foi anunciado, os comunicados destacaram o fato de o senhor ter sido estagiário. Isso é algo importante para a WEG? AWEG tem meios de captação muito bonitos. Nossa escola, a que chamávamos de escolinha, com turmas que começam com 16 anos, é um programa que capta muita mão de obra direta, estamos contratando mais de 850 alunos.

Entre os executivos, todos fomos estagiários. O Harry [Schmelzer Jr], ex-CEO, foi estagiário. O Décio [da Silva], hoje presidente do conselho, que foi CEO, fez a escolinha.

‘A WEG sempre investe no Brasil. Em 2022, investiu R$ 1, 180 bilhão, dos quais R$ 600 milhões foram no Brasil. Neste ano, a gente orçou investir R$1, 9 bilhão, R$ 1, 1 bilhão no Brasil’

‘Nós achamos que o Brasil mais e mais vai ser destino de investimentos internacionais’

‘Muito se fala do custo Brasil, das dificuldades, do imposto alto, mas se resolver isso, o Brasil vai ser uma potência, vai bater a China? Não vai.’

‘O mundo está tentando se reorganizar e isso vai trazer oportunidades para o Brasil [. . . ] O país aparentemente está num bom momento. Gosto de olhar número. A WEG criou esse ano 2. 100 empregos no Brasil’

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