Diretor do banco fala em novo crescimento em 2024, após aprovação de R$ 2,6 bilhões para projetos da área em 2023
Folha de S. Paulo
A aprovação de crédito do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para projetos na área de biocombustíveis tende a crescer novamente em 2024, diz José Luis Gordon, diretor de Desenvolvimento Produtivo, Inovação e Comércio Exterior da instituição.
Segundo ele, um dos fatores que devem contribuir para o aumento é a ampliação dos recursos do Fundo Clima neste ano. Em abril, o BNDES anunciou a assinatura de contrato com a União que destina até R$ 10,4 bilhões para o fundo, aporte recorde desde a criação da iniciativa, em 2009.
O montante deve ser usado pelo banco no financiamento reembolsável de projetos voltados à mitigação de impactos das mudanças climáticas -o que pode incluir empréstimos para o setor de biocombustíveis.
‘Tende a crescer [a aprovação de crédito], porque, a partir de agora, o Fundo Clima vai começar a rodar. Biocombustível está como uma das ações prioritárias. Vamos ter alguns projetos, tem alguns para sair nos próximos meses’, afirma Gordon à Folha.
Segundo os dados mais recentes disponibilizados pelo BNDES, a aprovação de crédito da instituição para a área de biocombustíveis somou quase R$ 2,6 bilhões em 2023, uma alta de 24% ante 2022 (R$ 2,1 bilhões) em termos nominais -sem o ajuste pela inflação.
O montante, aponta o banco, foi o maior em nove anos, desde 2014 (R$ 3,4 bilhões), com ‘apoio relevante’ para a produção de etanol.
Os R$ 2,6 bilhões equivalem a uma fatia de cerca de 1,5% da aprovação total de crédito do BNDES para os diferentes setores da economia em 2023 (R$ 174,5 bilhões).
Apesar de falar em novo crescimento em 2024, Gordon evita projetar qual será o percentual de alta dos financiamentos neste ano.
De acordo com o diretor, o banco não estabeleceu uma meta de aprovação de empréstimos para essa área, embora exista procura aquecida.
‘Sempre falo para o jornalista: não dou número, não dou meta, porque vocês [repórteres] vão cobrar. Dou resultado depois’, declara.
‘Quem tiver demanda, e a gente tendo funding, a gente vai atender. Não vou dizer toda semana, mas pelo menos a cada 15 dias recebo alguém ligado a essa agenda de biocombustíveis.’
Na visão de Gordon, questões como as mudanças regulatórias internacionais provocadas pelo cenário de transição energética e a política industrial do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estimulam a procura por financiamentos.
Lançado pelo governo em janeiro deste ano, o programa Nova Indústria Brasil tem como uma das metas até 2033 ampliar em 50% a participação dos biocombustíveis na matriz energética dos transportes -calculada atualmente em 21,4%.
O plano de estímulos para o setor industrial conta com a participação do BNDES, mas foi recebido com críticas por uma ala de analistas que enxerga uma espécie de reciclagem de ideias antigas de gestões petistas. Gordon rebate essas avaliações.
‘O mundo vive um modelo de política industrial muito forte, apesar do negacionismo muito grande de boa parte, com todo o respeito, da imprensa e de alguns economistas que pararam no seu tempo’, afirma o diretor.
‘O mundo vive um momento muito forte de política industrial, de disputa por quem vai comandar todo esse processo de transição energética.’
PROXIMIDADE DO AGRO E DA PETROBRAS
Como envolve a agroindústria, o ramo de biocombustíveis interessa a segmentos do agronegócio, no qual o governo Lula encontra resistências.
Gordon diz que o BNDES tem feito uma série de ações para estar próximo do agro, incluindo eventos e uma linha de crédito em dólar específica para o setor. ‘Estamos trabalhando com eles em diálogo constante, diálogo fácil, respondendo a todas as demandas.’
De acordo com o diretor, o banco também tem ‘total interesse’ em atuar em conjunto com a nova gestão da Petrobras no desenvolvimento de projetos para a área de biocombustíveis. ‘A Petrobras é a maior empresa brasileira e tem total condição de trabalhar em conjunto’, afirma Gordon.
Em cerimônia de posse ocorrida em junho, a nova presidente da estatal, Magda Chambriard, defendeu investimentos em exploração e produção de petróleo como forma de bancar a transição energética, apesar dos apelos internacionais pela redução no consumo de combustíveis fósseis.