Estadão
Um comparativo entre dois caminhões, um com B100 e outro com B14, mostrou que 100% do biodiesel no tanque pode ser mais econômico, além de emitir 95% menos CO2
Maior produtor e distribuidor de biodiesel do Brasil, o Grupo Potencial realizou testes com dois dos 200 caminhões de sua frota. Um modelo rodou com 100% de biodiesel e o outro, com o tradicional B14. Ou seja, com 14% de biodiesel misturado ao diesel. Atualmente, a legislação permite essa mistura.
Segundo a empresa, o objetivo dos testes era avaliar as vantagens do uso do B100. Para isso, a companhia contou com o apoio da área de engenharia da Scania. Afinal, os dois caminhões no ensaio eram modelos R500 de 2019.
Vice-presidente do Grupo Potencial, Carlos Eduardo Hammerschmidt diz que o projeto teve início no ano passado. Segundo ele, o caminhão que rodou com B100 recebeu ajustes para funcionar bem com o novo combustível. “O B100 é mais denso. Por isso, os filtros do combustível do caminhão são novos. Do mesmo modo, o módulo foi trocado para que pudesse identificar o tipo de combustível”, diz o executivo.
Para isso, o investimento nas adaptações, feitas por uma concessionária da Scania, foi de R$ 25 mil. De acordo com a empresa, o serviço foi realizado em um dia.
Os testes
Nos testes, que duraram seis meses, os caminhões rodaram em operações reais. Ou seja, transportando combustível da sede do Grupo Potencial, na Lapa, ao Porto de Paranaguá, ambas cidades do Paraná. Portanto, o trajeto inclui descida e subida de serra, bem como trechos sinuosos. Na soma, os caminhões rodaram 50 mil quilômetros.
Conforme o vice-presidente do Grupo Potencial, os caminhões tinham a mesma capacidade de carga, tipo de implemento e pneus. Além disso, circularam juntos pela mesma rota. Dessa forma, foi possível foi aferir o desempenho dos dois simultaneamente.
“O desempenho de ambos foi muito parecido. O caminhão com o B100 entrega a mesma força e desempenho na subida. Além disso, tem o mesmo comportamento dinâmico nas curvas. Todavia, foi em média 2,33% mais econômico na comparação com o modelo que rodou com B14”.
Do mesmo modo, as emissões de dióxido de carbono (CO₂) foram até 95% no caminhão com B100 na comparação com o com B14. Afinal, trata-se de um combustível de origem vegetal. Portanto, sem enxofre.
Mas vale mencionar, que ambos vêm com motores Euro 5. Portanto, a expectativa é de que, com a chegada das versões Euro 6, os níveis de emissões de CO₂ com uso de B100 sejam ainda menores. Nesse sentido, Hammerschmidt diz que fará novos testes com o B100 em caminhões com motor Euro 6.
“Estamos em conversa com a engenharia da Scania para fazer uma segunda rodada de testes e aferir a diferença dos níveis de emissões entre o B100 e o B14 com o novo motor. E, quem sabe, avaliar se com o B100 haveria a necessidade de uso do Arla 32”, afirma o executivo.
Filtros no B100 são trocados duas vezes mais
Seja como for, os caminhões rodaram até 30 mil km com o mesmo filtro de combustível. Porém por recomendação do Scania, o filtro do caminhão que roda com B100 deve ser trocado a cada 20 mil km. “Se levarmos em conta que o caminhão em torno de 10 mil km a 15 mil km por mês, em um ano o que usa B100 terá de parar duas vezes mais para a troca do filtro. Porém, a economia gerada pela diferença de preço entre os dois combustíveis paga a conta”, explica Hammerschmidt.
Grupo Potencial é o quinto maior produtor de biodiesel do mundo e o maior da América Latina
Com os resultados, o vice-presidente do Potencial afirma que não tem dúvida de que o uso do B100 é positivo para o setor de transporte rodoviário. Segundo ele, apenas o Grupo Potencial deverá produzir 750 milhões de litros de biodiesel neste ano. Em 2023, foram 600 milhões de litros.
De acordo com a empresa, com base nos resultados dos testes a meta é expandir a frota de caminhões que vão utilizar o B100. Para isso, a companhia já negocia com Volvo e Scania a compra de pelo menos 10 novos caminhões.
Além disso, a companhia pretende adaptar 24 caminhões com um sistema bicombustível. Assim, esses caminhão vão poder rodar tanto com 100% de biodiesel quanto com diesel comum. “Nossa diretriz é sermos protagonista na transição energética sustentável”, explica Hammerschmidt.