Empresas produtoras de biocombustíveis deverão movimentar cerca de R$ 1 trilhão no setor entre 2025 e 2034, de acordo com nota técnica da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vinculada ao Ministério de Minas e Energia. O número considera a estimativa de investimentos (R$ 99,8 bilhões) e de custos operacionais (R$ 924,4 bilhões).
Se forem considerados os recursos relativos à produção de açúcar, o investimentos em biocombustíveis totalizam R$ 121 bilhões e o custo operacional passa de R$ 1,3 trilhão no período.
O estudo da EPE contempla a produção de etanol, biodiesel, biometano e combustíveis sustentáveis de aviação (SAF, na sigla em inglês), além de inovações como o diesel verde e o bio-CCS (captura e armazenamento de carbono biogênico). Como o levantamento foi feito antes da sanção da Lei do Combustível do Futuro (14.993/2024), em outubro, a empresa diz que é provável que os investimentos sejam ainda maiores que a estimativa divulgada.
De acordo com o levantamento, a produção de etanol concentrará quase 60% dos investimentos previstos para o período, com R$ 62,1 bilhões, dos quais R$ 3 bilhões são para transporte do biocombustível. A estimativa inclui a construção de novas usinas, a modernização de plantas existentes e a formação de canaviais.
Somente para o etanol de cana de primeira geração, a previsão de investimentos em capacidade industrial é de R$ 5,4 bilhões, dos quais cerca de R$ 3,9 bilhões referem-se às expansões e o restante corresponde à construção de duas novas unidades (greenfields).
Os investimentos mais significativos no período, porém, são para a produção de etanol de milho (R$ 17 bilhões) e etanol de cana de segunda geração (R$ 14,4 bilhões).
A EPE projeta ainda que a produção nacional de etanol alcançará 48,5 bilhões de litros em 2034. O biocombustível produzido a partir do milho deverá chegar a 14,3 bilhões. Outros 1,1 bilhão de litros serão de segunda geração (E2G). A quantidade de cana destinada para a produção de etanol é estimada em 384,2 milhões de toneladas, cerca de 53% do total.
O segmento de biodiesel, impulsionado por mandatos de mistura obrigatória progressivos que sairão de 15% em 2025 para 20% em 2030 e poderão aumentar, receberá R$ 14,5 bilhões em investimentos e R$ 77,5 bilhões em custos operacionais, segundo a estatal. A produção estimada em 2034 é de 83,5 bilhões de litros.
A possibilidade de o biodiesel ser usado no setor aquaviário, como uma alternativa para a descarbonização desse segmento de transporte pode elevar o consumo adicional de biodiesel em 1,1 bilhão de litros em 2034. Recentemente, a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) autorizou, em caráter especial, a comercialização do óleo combustível marítimo (bunker), pela Petrobras, com uma mistura de até 24% de biodiesel, em volume.
Ao considerar o percentual de adição de biodiesel ao diesel B em 20% a partir de 2030 até 2034, a EPE verificou que a demanda pelo biocombustível chegará a outros 16,7 bilhões de litros no fim do período. Se somados os 1,1 bilhão de litros para bunker, a demanda total seria de 17,8 bilhões de livros daqui dez anos.
“Por sua vez, a capacidade efetiva de produção pode alcançar 14,9 bilhões de litros em 2034, de acordo com os pedidos de autorização de ampliação e construção da ANP, em maio de 2024. Desta forma, nas condições dadas de infraestrutura e demanda projetada, o país apresentaria um déficit de 2,9 bilhões de litros na capacidade produtiva e uma necessidade adicional de 19 milhões de toneladas em capacidade de esmagamento de soja, o que exigiria investimentos de R$2 bilhões e R$ 11,2 bilhões, respectivamente, totalizando R$13,2 bilhões distribuídos entre 2029 e 2034”, diz a nota técnica da EPE.
No setor de combustíveis sustentáveis de aviação, os projetos já anunciados poderão gerar investimentos de R$ 17,5 bilhões. A EPE considerou os anúncios da Brasil BioFuels (BBF), que utilizará óleos de palma, soja e milho como matéria-prima e possui previsão de operação em 2026, da
Acelen, que usará óleo de soja e milho na primeira fase, e óleo de macaúba no futuro, com implantação prevista para 2027, e da Petrobras, que utilizará óleo de soja e sebo bovino, com implantação prevista para 2029.
A capacidade de produção total desses projetos é de 2,2 bilhões de litros por ano, sendo 50% para SAF e 50% para o diesel verde. Cada projeto tem investimento de cerca de R$ 8,7 bilhões.
Como as metas na Lei do Combustível do Futuro, de 2027 a 20237, e do Corsia (Carbon Offsetting and Reduction Scheme for International Aviation), mecanismo de mercado concebido para apoiar o processo de redução das emissões do setor, são para a redução de emissões e não para mandatos volumétricos, a demanda poderá variar de acordo com a intensidade de carbono das rotas e matérias-primas utilizadas, diz a EPE.
Segundo a estatal, a demanda por SAF no Brasil em 2034 poderá variar entre 2,1 bilhões de litros (menores níveis de intensidade de carbono) e 6,5 bilhões de litros (maior intensidade de carbono).
Como a composição de rotas e matérias-primas para produção de SAF depende da avaliação de uma série de fatores, como a disponibilidade de recursos energéticos e financeiros, infraestrutura, custos, intensidade de carbono, aspectos geopolíticos, a EPE estima que a demanda de SAF em 2034 poderá ser de cerca de 3 bilhões de litros.
Sobre a captura e armazenamento geológico de carbono, a EPE diz que os investimentos projetados para a instalação desse tipo de empreendimento são de R$ 460 milhões, dos quais R$ 110 milhões já foram realizados pela FS, em Lucas do Rio Verde (MT).
“Tendo sido o primeiro do tipo para Bio-CCS no Brasil, esperam-se avanços na curva d aprendizado, de maneira que os custos dos projetos subsequentes apresentem valores inferiores aos dispendidos neste caso. A segurança regulatória oferecida pelo Combustível do Futuro também pode contribuir para destravar a cadeia do CCS no país e favorecer a viabilidade dos futuros projetos”, diz a nota técnica da EPE.