Após Rússia atacar Ucrânia, analistas esperam alta nos preços da gasolina, diesel e grãos nos próximos dias

Invasão da Rússia à Ucrânia: previsão de alta até 10% nos combustíveis e gasolina a R$ 9,50
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Valor Econômico

A guerra entre Rússia e Ucrânia pode pressionar mais ainda a inflação brasileira, no curto prazo, segundo especialistas ouvidos pelo Valor. Na prática, os embates, próximos a regiões produtoras de petróleo e de grãos, vão elevar preços de commodities no cenário internacional e o Brasil não ficará imune a esse fenômeno. Analistas não descartam novos aumentos pela Petrobras em gasolina e em diesel e alertam que o impacto pode encarecer derivados de grãos como trigo e aveia, no atacado e no varejo.
“É de fato algo que vai ‘bater’ na inflação, não somente no Brasil mas em escala mundial”, afirmou Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos ao comentar sobre o começo da invasão russa em território ucraniano. Ele alertou que no caso da gasolina, de grande peso na formação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o produto já opera com preço “em defasagem de 20%” em relação ao preço internacional, de acordo com cálculos do especialista. Isso antes do conflito na Ucrânia.
De acordo com cálculos de Rafaela Vitória, economista do Banco Inter, a defasagem no preço de gasolina tem operado entre 10% e 12% – e tem sido controlada “admiravelmente” pela Petrobras. Mas a especialista admitiu que a situação mudou completamente com a entrada de tropas russas na Ucrânia. Isso porque a situação conduz a uma escalada no preço do barril de petróleo tipo brent, notou ela. “Podemos ter reajuste iminente de combustíveis [no Brasil]” admitiu ela.
André Braz, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV) e responsável pelos cálculos da inflação na família dos Índices Gerais de Preços (IGPs), concorda. “Com essa situação [o petróleo] já alcançou a marca de US$ 100 o barril”, alertou ele. “É uma situação que pode piorar a medida em que esse conflito avançar e talvez comprometer produção de petróleo, de extração do óleo. Isso ainda vai envolver outros países e está apenas começando”, alertou ele.
Braz comentou que o petróleo já subia antes do conflito mas a recente valorização do real frente ao dólar, com recuo da cotação da moeda norte-americana, ajudou a compensar impacto, no Brasil, de cotação em alta de commodities dolarizadas.
“O Brasil está sendo visitado por grande volume especulativo, o ‘smart money’”, lembrou ele, explicando que, com mais entrada de dólar no país, a cotação da moeda norte-americana diminuiu. “É um dinheiro volátil, mas ajuda a diminuir impacto de commodities dolarizadas. Então, se a gente não tivesse acumulado variação positiva do real, seria um impacto mais duro”, disse.
O técnico da FGV notou, no entanto, que embora uma valorização recente em torno de 10% do real frente ao dólar “suaviza” alguns impactos, “suaviza, mas não impede” impacto inflacionário de alta de commodities, no Brasil. Para o especialista, é possível que se tenha notícias de reajustes de combustíveis, como gasolina e diesel, nos próximos dias.
Saindo do petróleo, outro alerta do especialista é a provável alta de preços de grãos e derivados, no Brasil, tendo em vista o atual conflito. Ele lembrou que a Rússia é forte produtora de trigo, e o Brasil não é autossuficiente na produção desse item, que é importante tanto no cálculo da inflação no atacado quando no varejo, observou ele. “Se a farinha de trigo sobe, ela contamina uma cadeia longa [no varejo] que vai para farinha de trigo, massas, pães, biscoitos macarrão, uma série de itens componentes da cesta básica”, enumerou ele. “A gente não colhe nada positivo de uma guerra e os efeitos dela com certeza vão chegar na inflação”, resumiu ele.
Rodolfo Margato, economista da XP, também vê um “viés de pressão altista” de derivados de petróleo, e de grãos com produção nas áreas de conflito, como trigo, centeio e aveia. Mas o técnico pontuou que é impossível projetar impactos, em pontos percentuais, “no momento em que a faca está caindo” como agora, de início do conflito na região.
Mas, no caso das commodities, comentou que, antes da guerra entre Rússia e Ucrânia, o mundo já operava com estoques reduzidos de commodities e, no caso do Brasil, a inflação doméstica em 12 meses já opera em dois dígitos. Essa semana, antes da invasão russa ao país vizinho, o IPCA-15 de fevereiro, prévia do IPCA, indicador oficial de inflação, já acumulava alta de 10,76% em 12 meses. “ O cenário é de incerteza global mais elevada, especialmente preço de commodities subindo”, reconheceu, acrescentando que, de maneira geral, o conflito no Leste torna mais difícil o cenário de combate à inflação.

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