Bahia Econômica
Este ano, os brasileiros estão sofrendo com as constantes altas nos preços dos combustíveis. Com o transporte rodoviário sendo o principal sistema logístico do país, muitos são os impactos em vários setores. No agronegócio, os produtores de frutas já sofrem com o aumento no valor do frete e também dos insumos necessários para produção. Desde maio que o preço médio do frete para produtos do agronegócio subiu. A alta foi de 1,2% em comparação com o mês de abril, segundo o Índice FreteBras do Preço do Frete (IFPF).
O diesel é o principal componente no custo logístico da agroindústria e, no mês de julho, sofreu alteração no valor juntamente com a gasolina e o gás de cozinha. Os aumentos foram de 3,7%, 6,3%, e 5,9%, respectivamente. Segundo a Petrobras, os novos preços acompanham a alta das cotações internacionais do petróleo e derivados. A elevação refere-se às refinarias da estatal e o repasse ao consumidor depende de políticas comerciais externas.
As variações no custo do combustível são significantes e afetam diretamente o bolso do agricultor. Na zona rural do município de Juazeiro, o produtor de manga e limão, Gilvado Santos, 53, já sente os efeitos negativos. Ele teve que parar com o cultivo de cocos em prol de cortar custos e se manter na produção de outras frutas. O preço para transportar os alimentos dobrou, o que dificultou a vida do produtor agrícola.
“Nós, os produtores, dependemos de transportes para carregar a mercadoria que vendemos. Mas, devido aos grandes aumentos que os combustíveis vêm sofrendo, estamos pagando bem mais caro. Antes, para transportar uma caixa de frutas, o valor era R$ 2,50. Agora já estão cobrando R$ 5,00. Transportei recentemente 300 caixas, paguei R$ 1.500, o dobro do que pagava para transportar essa quantidade”, desabafa Givaldo.
Cadeia produtiva
Para o vice-presidente do Instituto da Fruta do Vale de São Francisco, Josival Barbosa, toda cadeia produtiva do campo está sofrendo implicações. “Entrei em contato com pequenos, médios e grandes produtores e todos falaram como estão sendo impactados, tanto pela logística quanto pela produção. São diversas questões que influenciam: a mecanização agrícola, que é a diesel, e o transporte de funcionários, entre outras coisas”, afirmou Josival.
Ele, que também trabalha com o plantio de frutas, estipula que o custo para produzir aumentou mais de 60%. O preço elevado do adubo é um dos agravantes segundo Josival. “O preço do combustível está embutido em tudo, eu comprava um saco de adubo por R$ 45, agora estou pagando R$ 74”, diz o vice-presidente. Em 2021, as cotações dos adubos subiram entre 70% e 95% em dólar, considerando o fosfato monoamônico (Map), a ureia e o cloreto de potássio (KCl), conforme o Rabobank, grupo especializado no agronegócio.
Segundo Givaldo, estão sendo muitas as dificuldades enfrentadas pelos pequenos produtores agrícolas. Com os insumos necessários para a produção se tornando cada vez mais caros, o lucro se torna pouco ou inexistente. Assim, os agricultores acabam desistindo do negócio, que muitas das vezes é a única fonte de renda da família. “Muitos produtores já falam em vender suas propriedades, o que também é difícil, pois as pessoas não estão querendo investir na agricultura, já que esse cenário não é nada favorável”, diz o produtor.
Quem concorda com ele é o também produtor rural Silvino Pereira, 40, que, como Givaldo, tem propriedade em Juazeiro e compartilha dos problemas gerados ou agravados pelo encarecimento dos combustíveis. “O custo de produção subiu muito, o que aumenta as despesas da roça. Os insumos que chegam na zona rural sofreram uma elevação no preço, visto que as lojas taxam os produtos de acordo com os aumentos nos custos, que são influenciados pelos combustiveis”, explica Silvino.
Trabalhando com a produção de coco e manga, o agricultor conta que apesar de gastar mais para plantar, o preço de venda das frutas baixou, sobretudo, por causa do inverno. Isso fez com que não existisse lucro, tornando o mercado agroalimentar menos atrativo e com muitos riscos financeiros. Por isso, minimizar os impactos é necessário e, para isso, cortar gastos se tornou uma alternativa para Silvino.
“Temos muitas despesas, o diesel além de influenciar o valor do frete também é usado nos tratores que aplicam agrotóxico na plantação. Antes a gente enchia o tanque de um trator a R$ 200, hoje já passa de R$ 300. Então, eu tive que cortar custos. Parei de plantar melão e dispensei alguns trabalhadores que ajudavam no processo de produção”, diz.
Apesar de muitas altas no agronegócio, o consumidor talvez não seja atingido de forma direta. De acordo com o presidente da Associação de Permissionários da Ceasa (Aspec), Márcio Roberto Almeida, “o aumento nos combustíveis sempre agiu como elemento para a alta nos preços dos insumos, mas, em muitos casos, os proprietários dos veículos e comerciantes assimilam esse aumento não repassando para o cliente final”.
Mercado externo
Foi no ano de 2016 que a cotação internacional do petróleo passou a afetar os valores dos combustíveis no Brasil, segundo o especialista em conjuntura econômica da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), Luiz Mário Vieira. Ele diz que isso se deu quando a Petrobras, sob o comando de Pedro Parente, que havia sido indicado pelo ex-presidente Michel Temer, implementou o preço de paridade de importação (PPI).
“O PPI considera quatro elementos centrais na definição dos preços: a variação internacional do barril do petróleo; as cotações do dólar, os custos de transporte e uma margem imposta pela companhia, que funciona como uma espécie de ‘seguro’ para evitar prejuízos’’, explica o especialista. Nesse cenário, o agronegócio sofre consequências, que são mais severas para os pequenos produtores. Com a competitividade afetada por causa da elevação no custo de produção, atuar nesse mercado é um desafio maior.
“Estruturalmente, sempre o pequeno empresário é mais prejudicado, isso pela escala de produção, pelos produtos que não são cotados em bolsas internacionais, pela sua estrutura de custos que afeta sua produtividade e competitividade. Além do baixo poder de barganha na negociação com os prestadores de serviços de transportes. Nesse caso, o produtor rural pode perder em dois sentidos: na redução da receita e no aumento dos custos de produção”, enfatiza Luiz Mário.