Adição de 30% de etanol na gasolina deve ter efeito limitado

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Testes apontam viabilidade do aumento da mistura e CNPE deve decidir sobre o tema ainda este ano

Valor Econômico

A eventual adição maior de etanol à gasolina deve reduzir, se implementada, a necessidade de importações do combustível fóssil, segundo especialistas e agentes de mercado ouvidos pelo Valor. Eles acrescentam que, nesse cenário, a queda de preços para o consumidor deve ser pequena. Na segunda-feira (17), o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, disse que o governo levará ao Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) proposta de elevar a proporção de etanol na gasolina nas bombas de 27% para 30%.

O anúncio foi feito em evento para apresentar os resultados dos testes feitos pelo Instituto Mauá de Tecnologia (IMT) da adição de 30% de etanol que indicam a viabilidade técnica da mistura.

O percentual de adição de etanol anidro (sem adição de água) à gasolina é definido pelo CNPE. Até o ano passado, a faixa permitida ficava entre 18% e 27,5% e o percentual que estava em vigor era de 27%. Para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, o Congresso Nacional aprovou em 2024 projeto de lei conhecido como Combustível do Futuro, que aumentou a faixa de adição de etanol para patamar entre 22% e 27%. O projeto também autorizou o governo a elevar o índice para até 35%.

O Ministério de Minas e Energia diz que a proposta de misturar 30% de etanol (E30) deve ser apresentada ao CNPE até o fim do ano. Silveira diz que um dos efeitos será a redução de R$ 0,13 por litro no preço da gasolina. Outro efeito, avalia, é a importação evitada de 760 milhões de litros de gasolina por ano, além do aumento de 1,5 bilhão de litros na demanda de etanol. “O preço da gasolina será determinado pela competitividade interna, e não pelo preço de paridade de importação”, disse Silveira.

Mas a queda de preços da gasolina com a maior adição de etanol não é assegurada. A produção de etanol depende de fatores climáticos e, este ano, as chuvas abaixo da média tendem a reduzir a colheita e a qualidade da cana-de-açúcar.

Em 11 de março, a StoneX estimou queda de 2% na produção total de etanol na safra 2025/2026, para 34,5 milhões de metros cúbicos, na comparação com a safra 2024/2025. A redução seria motivada pela menor moagem de cana, de 611,4 milhões de toneladas para 608,5 milhões de toneladas, entre outros efeitos. “O que pode estimular a oferta [de etanol] este ano é a esperada aprovação do aumento da mistura do anidro na gasolina, mas a data de início da medida ainda permanece incerta”, disse Marcelo Di Bonifacio Filho, analista de inteligência de mercado, em relatório da StoneX.

A StoneX também projetou um aumento nos preços do etanol, o que resultaria no fortalecimento do consumo de gasolina comum, diante do custo-benefício, para o consumidor, do uso do combustível fóssil. “Ao contrário do ano passado, o ciclo já iniciará com preços mais caros para o etanol, devendo apresentar queda ao longo do ano com a entrada da colheita de cana, mas com uma tendência de fortalecimento do consumo de gasolina comum a partir do início da entressafra.” No Centro-Sul, principal região produtora do país, a safra vai de abril a novembro.

Projeções feitas pela Argus indicam queda de R$ 0,02 por litro no elo da distribuição com o aumento da mistura para 30%, em função da menor carga fiscal sobre o etanol anidro. Segundo Amance Boutin, gerente de desenvolvimento de negócios da Argus, em Paulínia (SP), o preço da gasolina E30 seria de R$ 5,22 por litro, incidindo todos os impostos, enquanto a gasolina com 27% de etanol custaria R$ 5,24/litro. “Esta diferença abre espaço para uma redução muito pequena possibilitada pela renúncia fiscal de tributos federais que o aumento da mistura vai acarretar”, disse Boutin.

As importações de gasolina, por sua vez, devem continuar a ocorrer mesmo com mais etanol na mistura. A Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis (Abicom) entende que, mesmo que o teor maior de etanol na gasolina reduza a necessidade de importações, será preciso seguir comprando o derivado fóssil no exterior para completar a oferta brasileira.

Atualmente, o país importa cerca de 4,5 bilhões de litros de gasolina por ano, mas com a elevação da proporção a Abicom prevê uma queda de quase 25%, ou 1,1 bilhão de litros, na importação desse combustível. “Se olharmos os dados da ANP, [o aumento do teor] não é suficiente para eliminar a necessidade de importação”, disse Sérgio Araújo, presidente-executivo da Abicom.

Até o fim da década de 1980, a gasolina brasileira que saía das refinarias (gasolina A) recebia adição de chumbo tetraetila para aumentar a octanagem, índice que mede resistência à explosão dentro do motor. Um combustível de baixa octanagem reduz o desempenho de um automóvel e pode causar danos ao motor. O chumbo tetraetila era um aditivo nocivo à saúde e ao ambiente.

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