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Não há mais espaço para polêmicas vazias e ideologia, seja qual for o matiz, quando se trata de uma empresa de importância crucial para o país
O Globo Online
Por Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira*
O período de transição é um momento de reflexão sobre matérias importantes. Muito se tem falado de mudança de rumo na Petrobras. A depender da mudança, a empresa poderá ser penalizada. Isso é algo que deve ser evitado, e uma breve análise de seu papel histórico pode lançar luz sobre o que os brasileiros devem esperar da companhia.

Fundada na metade do século passado, a Petrobras produzia não mais do que poucos litros de óleo, a despeito do ufanismo que despertava o orgulho de multidões em meio ao governo então democrático de Getúlio Vargas. Combustíveis eram produzidos por cinco refinarias construídas e operadas por empresas brasileiras, que importavam óleo cru para seus processos industriais. O volume de combustível adicional para atender à demanda nacional era suprido por importações pelas distribuidoras aqui instaladas.

Com sua fundação, foi instituído o monopólio do Estado para os negócios de petróleo. Somente a Petrobras podia prospectar e explorar petróleo caso o descobrisse. As empresas brasileiras que produziam combustíveis foram proibidas de aumentar sua produção e de construir novas e modernas unidades. As distribuidoras foram obrigadas a comprar seus produtos da Petrobras, que por sua vez os importava.

A sociedade brasileira achou razoável tal estado de coisas por 40 anos. O monopólio foi quebrado em 1997. Em seu período de vigência, a Petrobras construiu um belo parque de refinarias para abastecer o país de combustíveis. Chegamos a nos tornar autossuficientes nesses produtos. O monopólio do refino, porém, prosseguiu. As manchetes que atacam a Petrobras pelos aumentos (ninguém elogia as reduções) de preços se devem a esse fato. No mundo, comenta-se a tragédia dos preços de energia que assola o planeta. No Brasil, a Petrobras é a vilã.

Ela merece todos os elogios por ter destinado vultosos recursos humanos e financeiros para pesquisa, exploração e produção de petróleo e gás offshore. São ativos industriais relevantes e marca ímpar na história mundial do petróleo. A Petrobras nunca foi nem pode ser um departamento do Estado brasileiro, tampouco uma autarquia. A companhia conta com sócios, poupadores que, com o Estado brasileiro, confiam no desenvolvimento empresarial da companhia.

Os detentores de ações da Petrobras são acionistas não porque a companhia tem refinarias – o resultado não está aí. O grupo enorme de investidores representa a maioria do capital social. Eles participam dos planos. Vendem ou compram ações a depender desses mesmos planos. Num ponto, são unânimes: reconhecem os avanços corporativos dos últimos anos. A companhia pactuou com eles planos quinquenais, que têm sido cumpridos. É público o foco empresarial.

O mundo tem pressa para utilizar a riqueza que adormece debaixo do oceano. As próximas gerações talvez não precisem mais dela, mas as atuais precisam. Não há mais espaço para polêmicas vazias e ideologia, seja qual for seu matiz, quando se trata de uma empresa listada em Bolsa, de importância crucial para o país.

Não se pode desviar a Petrobras de seu foco: a produção e entrega de hidrocarbonetos e seus sucedâneos na maior velocidade e volume possíveis. O gás natural precisa estar disponível no litoral para alavancar a indústria. A companhia é detentora de imenso patrimônio mineral, que precisa ser convertido em recursos financeiros para atender à sociedade. Estes recursos provêm de dividendos e, em muito maior volume, de impostos, royalties e contribuições legais. Essa é a riqueza que a Petrobras tem a distribuir para a sociedade brasileira. O povo espera e a merece.

*Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira é presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) e ex-executivo e acionista da Ipiranga

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