Fonte: IstoÉ
Depois de quase ir à lona, a Petrobras virou a página. Ficaram para trás os dias em que a sua dívida explodiu, o valor de mercado caiu 80%, a companhia se tornou o epicentro da Lava Jato e perdeu o grau de investimento. Os bons resultados vieram com o fim da interferência política e um ambicioso plano de desinvestimento. O saneamento começou na gestão de Pedro Parente, no governo Michel Temer, mas ganhou novo impulso com o atual presidente, Roberto Castello Branco. Ele acelerou as privatizações e assumiu o compromisso de abrir mercados como o de gás natural, que pode se tornar um importante estímulo ao crescimento industrial.
A combinação de gestão modernizada com um novo papel econômico, não monopolista, faz a Petrobras passar pela maior transformação de sua história. O monopólio da cadeia do petróleo — quebrado nos anos 90, mas que ainda persistia pela posição dominante da companhia — era uma camisa de força para a expansão do setor de óleo e gás. No novo projeto, a petroleira está focada na exploração e produção do pré-sal. Para isso, está abrindo mão de setores menos lucrativos.
Uma dessas áreas é o refino, controlado em 98% pela estatal. Críticos apontavam o risco desse setor não atrair investidores privados. Mas, ao contrário, há movimentações de bastidores e já existem companhias se preparando para entrar nesse segmento. “As refinarias do país precisavam de um choque de modernização”, diz Fernanda Delgada, pesquisadora da FGV Energia. Para ajudar a recuperação, o Ministério Público Federal já devolveu mais de R$ 3 bilhões desviados nos últimos anos.
Desinvestimentos
Para se concentrar na exploração em águas profundas no litoral do país, a estatal está se desfazendo de grande parte de seus ativos. O lance mais ousado até o momento foi a venda da TAG, malha de gasodutos no Norte e Nordeste, para um consórcio liderado pela francesa Engie por R$ 33,5 bilhões. No último dia 23, foram vendidas 30% das ações da BR Distribuidora, maior fornecedora de combustíveis e lubrificantes do país. A estatal abriu mão do seu controle, o que representou na prática a sua privatização. A Liquigás, maior distribuidora de gás de botijão, já está na fila. O plano agressivo de desinvestimento fez a companhia arrecadar só em 2019 US$ 15,1 bilhões.
Os números são eloquentes. Nos últimos anos, a Petrobras conseguiu equacionar a sua dívida bruta, que foi reduzida a US$ 75,5 bilhões depois de atingir US$ 132,1 bilhões em 2014. A receita em 2018 foi de R$ 349,8 bilhões, crescimento de 24% em dois anos. Após registrar vários prejuízos bilionários, chegando ao fundo do poço em 2015, quando teve perdas de R$ 34,8 bilhões, a petroleira voltou ao azul no ano passado, com lucro líquido de R$ 25,8 bilhões. O valor de mercado, que despencou para R$ 101,3 bilhões em 2015, último ano do governo Dilma, atingiu R$ 316 bilhões em 2018. A boa performance foi confirmada pelos resultados do segundo trimestre, quando a petroleira registrou lucro líquido de R$ 5,2 bilhões, sem contar as receitas de privatizações.
Pela sua importância, a Petrobras têm servido como um símbolo positivo para os rumos da economia do país. A sua performance contrasta com as duas maiores rivais latino-americanas — a venezuelana PDVSA e a mexicana Pemex. A primeira está sucateada pela política bolivariana e produz uma fração do seu potencial. A mexicana, por sua vez, tomou da Petrobras a posição de petroleira mais endividada do mundo, e tem gerado muitas dúvidas entre os investidores por causa da orientação intervencionista do presidente Andrés Manuel López Obrador. “Os indicadores da Petrobras e do setor tem sido muito favoráveis”, diz a pesquisadora da FGV. Para a companhia confirmar a boa fase e o setor de óleo e gás colher os frutos de um bom ambiente de negócios, a regulação deve ser reforçada — um mau sinal é a atual paralisação do CADE, que garante a maior competição. A autarquia está parada pela falta de indicação de membros pelo governo. Mas, se a companhia e o segmento conseguirem se manter longe da intervenção política, quem agradece é o país.