Eixos
O governo brasileiro está enxergando nos veículos flex uma vantagem para o país na corrida global pela transição energética e nos biocombustíveis de segunda geração uma rota de menor custo para o setor de transporte, indica o Plano Decenal de Energia 2034 (PDE 2034).
Divulgado esta semana pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o estudo traz três cenários para a descarbonização da matriz brasileira, a partir da visão do Plano Nacional de de Transição Energética (PTE), com simulações de como será a penetração de novas tecnologias para que o país cumpra suas ambições climáticas até 2050. Veja a íntegra (.pdf)
Veículos flex e etanol de segunda geração saem na frente em dois cenários: Transição Brasil (TB), que seria custo-eficiente em relação aos compromissos da Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) do Brasil; e Transição Global (TG), que considera a contribuição do país aos esforços globais para limitar o aumento médio da temperatura da Terra em até 1,5 °C em 2100.
Apenas no cenário de Transição Alternativa (TA), a eletrificação ganha uma tração maior – ainda assim, há participação relevante dos biocombustíveis. Neste cenário, entram na conta questões como impactos da mudança climática no setor energético e as incertezas de novas tecnologias.
É coerente com as decisões políticas dos últimos anos. De um lado, a frota elétrica vem conquistando cada vez mais o consumidor brasileiro. De outro, governo e Congresso Nacional têm avançado com políticas para incentivar a expansão dos biocombustíveis.
A lei do Combustível do Futuro é um exemplo: prevê aumento da adição de etanol à gasolina e biodiesel ao diesel, além de inserir mandatos para biometano e diesel verde.
Esses aumentos, no entanto, estão pendentes e enfrentam questões como impacto no preço final do combustível e inflação de alimentos.
Hidrogênio acelera a partir de 2040
“Na década de 2030, a produção brasileira de hidrogênio é baixa, se acelerando nas décadas seguintes. Nos cenários de TG e TA em 2040, ultrapassam 0,7 EJ”, estima o PDE.
O relatório observa que o energético é considerado uma das tecnologias-chave da transição no contexto global, dada sua capacidade de armazenar energia renovável – o que pode viabilizar o avanço da eletrificação –, além da aplicação em em setores altamente dependentes de combustíveis fósseis, como produção de cimento, aço e fertilizantes.
E cita projeções de agências internacionais para o Brasil que apontam o potencial de aumento de até 57% na demanda interna do hidrogênio.
“O estudo do PTE discute o hidrogênio à luz das tecnologias de baixa emissão, visando à aplicação em setores de difícil descarbonização ou como vetor para armazenamento de energia, e permitindo maior entrada das renováveis intermitentes como a eólica e a solar”, explica.
A partir de 2040, o PTE prevê um ganho de fôlego na produção, com a maior parcela destinada a uso indireto, como células a combustível alimentadas por etanol.
No armazenamento de renováveis, o cenário de maior eletrificação (TA) considera a entrada de baterias eletroquímicas para atender o aumento significativo da eólica. Já nos cenários TB e TG, os biocombustíveis se apresentam como tecnologia de menor custo frente às baterias de veículos elétricos.