Folha de São Paulo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, na manhã desta quinta-feira (30), que a decisão de aumentar o preço do diesel cabe à Petrobras, não a ele, e que não fará “bravatas” para conter o preço dos alimentos.
Nesta semana, ele se reuniu com a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, e conversou sobre a possibilidade de o preço do combustível subir, o que poderia elevar ainda mais o preço de alimentos, que já está em alta.
“Se ela tiver uma decisão de que para a Petrobras é importante fazer o reajuste, que faça e comunique à imprensa”, disse.
Na avaliação do Planalto, porém, o impacto do diesel sobre os alimentos pode ser amenizado se o dólar seguir baixando como nos últimos dias.
Lula afirmou que não tem mais idade para cometer “bravatas”, referindo-se às discussões para conter a alta dos alimentos. Ele disse que vai se reunir com empresários e produtores e descartou medidas heterodoxas —sem mencionar a ideia de taxar exportações do agro que foi defendida por ala do PT como forma de conter a inflação desses produtos.
Lula citou a alta de alguns alimentos específicos, entre eles a picanha, uma das marcas de sua campanha eleitoral, quando prometeu que todo brasileiro poderia comer picanha e tomar uma “cervejinha” no fim de semana.
“Em 2023, a picanha caiu 30%. Ela voltou a subir, por quê? É apenas a exportação? É a matriz?”, disse Lula, afirmando que buscará uma solução em conversa com produtores. O presidente também citou a alta do óleo de soja.
Em relação ao aumento do preço do diesel, esse é um tema que costuma trazer reclamações dos caminhoneiros. O presidente disse que vai dialogar com a categoria caso isso aconteça.
O governo federal colocou como prioridade neste início de ano a redução dos preços dos alimentos, com o presidente Lula cobrando diretamente seus ministros durante a primeira reunião geral do ano.
As primeiras falas e ações na tentativa de contornar a alta nos alimentos, no entanto, foram marcadas por ruídos, após o ministro Rui Costa (Casa Civil) afirmar que o governo faria “intervenções” no preço dos alimentos, usando uma expressão que sugere a adoção de medidas heterodoxas. O ministro depois se retratou.
Lula concedeu entrevista a jornalistas no Palácio do Planalto. A conversa acontece em meio à mudança na Secom (Secretaria de Comunicação Social), com a chegada do publicitário Sidônio Palmeira, que já alertou aliados que pretende dar mais visibilidade ao presidente.
Na entrevista, Lula também afirmou que não prevê novas medidas fiscais neste momento, mas que pode avaliar a necessidade caso ela surja.
“Não tem outra medida fiscal. Se apresentar ao longo do ano a necessidade, podemos discutir”, disse. “Mas, se depender de mim, não tem outra medida fiscal. Vamos pensar no desenvolvimento saudável do país”, completou.
Lula defendeu que a política fiscal foque a arrecadação, não o corte de direitos das camadas mais pobres. “Não existiu rombo fiscal. Existiu no governo passado”, afirmou. “Neste governo, não haverá irresponsabilidade fiscal.”
Nos últimos meses, o risco fiscal seguiu no radar no radar dos economistas e causou piora adicional nas expectativa de inflação, o que levou o Copom (Comitê de Política Monetária), do BC (Banco Central), a promover um choque de juros no país. O comitê aumentou em um ponto percentual a Selic (taxa básica) em dezembro e repetiu a dose neste mês, projetando, ainda, um aumento de mesma intensidade na próxima reunião.
O colegiado do BC incluiu a preocupação dos agentes econômicos com relação à sustentabilidade da dívida pública. Por outro lado, deixou de citar a contribuição do tema para “uma dinâmica inflacionária mais adversa”. Em dezembro, o comunicado refletia a frustração dos economistas com o anúncio do pacote de contenção de despesas do governo Lula.
Questionado sobre a última decisão do Copom, Lula afirmou que não esperava um milagre do novo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, e que ele entregará taxas de juros mais baixas.
O presidente da República disse que o presidente do BC não pode dar “um cavalo de pau em um mar revolto de uma hora para outra”. “Já estava praticamente demarcada a necessidade da subida de juros pelo outro presidente [Roberto Campos Neto], e Galípolo fez aquilo que ele entendeu que deveria fazer.”
“Eu tenho 100% de confiança no trabalho do presidente do BC e tenho certeza de que ele vai criar as condições de entregar ao povo brasileiro uma taxa de juros menor no tempo que política permitir que ele faça”, completou.
A inflação medida pelo IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) desacelerou a 0,11% em janeiro, após marcar 0,34% em dezembro, apontam dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
A pressão sobre o governo deve aumentar com a possibilidade de um aumento no preço do diesel por parte da Petrobras.
A incerteza no cenário externo, com a volta de Donald Trump ao poder nos Estados Unidos, também foi citada pelo Copom em sua decisão.
Sobre o assunto, Lula disse que, caso Trump decida taxar produtos brasileiros, o governo federal responderá com a mesma medida.
“Se ele [Trump] taxar os produtos brasileiros, haverá reciprocidade do Brasil em taxar os produtos que são exportados para os Estados Unidos. Simples, não tem nenhuma dificuldade”, disse.
O petista se confundiu ao falar sobre o tema. A reciprocidade aconteceria se o Brasil respondesse com a medida equivalente oposta a uma eventual tarifa dos EUA, ou seja, taxando produtos americanos que são importados para cá, não exportados.
“Quero que o Trump respeite o Brasil”, completou, afirmando que deseja um bom governo e que respeita a gestão do republicano.
Lula afirmou ainda que quer melhorar a relação com os Estados Unidos e que não se importa com outras disputas geopolíticas, mas que o americano deve respeitar a soberania de outros países.
Participaram da entrevista os repórteres de veículos que fazem a cobertura diária do Palácio do Planalto. Dez profissionais foram sorteados para fazer perguntas ao presidente. Os veículos foram O Globo, Rede TV!, TV Meio Norte, UOL, R7, ICL, Rádio Gaúcha, Platô, Broadcast e Valor.