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O Estado de S. Paulo

Luciana Nicola

Parte das discussões sobre descarbonização na mobilidade urbana gira em torno de quais alternativas adotar para reduzir o uso dos combustíveis fósseis.

Quando falamos sobre veículos individuais privados, cujas principais opções sustentáveis hoje são a eletricidade e o etanol, é preciso nos atentarmos em como incentivar a substituição pelas pessoas, mas também para as barreiras relacionadas à produção e distribuição desses combustíveis.

A presença dos veículos eletrificados tem aumentado rapidamente no Brasil. Estudo da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), ligada ao Ministério das Minas e Energia, mostra que as vendas de eletrificados representavam não mais do que 2% do total comercializado no mercado nacional em 2020. Já no primeiro semestre de 2024, O Índice saltou para 9%. No mesmo período, o licenciamento de veículos leves híbridos ou 100% elétricos saiu de 20 mil unidades para 170 mil. E, segundo previsões do estudo, chegará a 694 mil em 2034 – o equivalente a 17, 6% de todos os veículos leves novos a serem emplacados naquele ano.

INFRAESTRUTURA. Essa realidade nos traz uma questão fundamental: onde carregar a bateria de todos esses veículos? O mesmo estudo mostra que, em pouco menos de quatro anos, o número de eletropostos públicos ou semipúblicos foi de 400 para os atuais 6. 800, concentrados principalmente no Estado de São Paulo, mas “ainda insuficientes para um País com o tamanho do Brasil”, diz o EPE.

Já para o etanol, a questão é garantir uma produção e distribuição a preços competitivos em todas as regiões, e não apenas nos locais próximos aos polos produtores, reforçando seu papel de substituto de combustíveis mais poluentes. A maior parte do etanol brasileiro é produzida a partir da cana e também usada para produzir açúcar, commodity na qual o Brasil tem posição de destaque – somos responsáveis por mais de 40%do fluxo no mercado internacional. Hoje, 50% da cana é utilizada para produzir etanol, devendo chegar a 53% em 2034.

O estudo mostra ainda que, na próxima década, o consumo de etanol deverá crescer a uma taxa de 3, 5% ao ano, enquanto a produção aumentará 3, 8% ao ano. A análise não leva em consideração um possível aumento de demanda relacionado ao uso no SAF, combustível sustentável para aviação cuja adoção ainda é baixa, mas que tem crescido com rapidez. O etanol, portanto, pode sofrer de gargalos de produção relacionados a uma variação nos preços do açúcar e pelo aumento de demanda por novos produtos.

INVESTIMENTOS. O Brasil tem criado uma série de políticas para incentivar a descarbonização do transporte, sendo a Lei do Combustível do Futuro a mais recente delas. Além de aumentar a proporção de etanol na gasolina – que passará do atual teto de 27, 5% para até 35% em 2030, desde que constatada sua viabilidade técnica -, direciona políticas públicas para a descarbonização do transporte pesado ou coletivo, que incentiva o aumento da produção dos biocombustíveis.

Uma alternativa seria lançar iniciativas de blended finance para incentivar investimentos que aumentem a descarbonização do transporte individual. Essa é uma estrutura na qual o capital filantrópico ou público entra como catalisador, reduzindo custos e riscos para investidores privados. No final de 2024, o Tesouro Nacional fez um leilão de linha de crédito subsidiada dentro do Eco Invest, programa de descarbonização da economia. Nove bancos, entre eles o Itaú Unibanco, foram contemplados para impulsionar investimentos em iniciativas sustentáveis.

Essa experiência aponta um caminho para ampliar a estrutura de carregamento de elétricos na mesma medida da adoção desse modal. Também poderia ser usada para fortalecer a produção de etanol, evitando variações de preços decorrentes de sazonalidades. O setor financeiro se mostra cada vez mais aberto a investimentos desse tipo – basta ver que a Net Zero Banking Alliance, criada no âmbito da ONU, já reúne mais de 140 instituições globais em torno da meta de descarbonizar emissões das suas atividades até 2050.

Existem vários caminhos para uma mobilidade individual privada mais verde. No Brasil, eles passam pelos veículos elétricos e pelo etanol. Juntos, a iniciativa privada e o setor público são capazes de pavimentar essas vias para uma viagem mais rápida, segura e perene.

‘Há vários caminhos para a mobilidade individual privada mais verde. No País, eles passam pelos veículos elétricos e pelo etanol

DIRETORA DE RELAÇÕES INSTITUCIONAIS E SUSTENTABILIDADE DO ITAÚ UNIBANCO

ESTE TEXTO NÃO REFLETE NECESSARIAMENTE A OPINIÃO DO ESTADÃO.

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